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“Saúde Coletiva é um campo de conhecimento, mas tem compromisso com a prática”

No dia 10 de outubro, a diretoria da Abrasco promoveu a mesa “Diálogo entre as áreas da Saúde Coletiva”, transmitida pela TV Abrasco. O evento reuniu autores dos artigos publicados no Dossiê de mesmo título, organizado pela Interface, que reúne textos da Epidemiologia, Ciências Sociais e Humanas em Saúde e Política, Planejamento e Gestão da Saúde. Confira alguns trechos, abaixo:

Guilherme Werneck, epidemiologista, professor da UERJ e diretor do Departamento de Articulação Estratégica de Vigilância em Saúde do MS, abordou as limitações da Epidemiologia, no contexto da pandemia de Covid-19: “Quando a Epidemiologia fala por toda a Saude Coletiva, sem se associar a outros enfoques, rapidamente é cooptada pela dimensão biomédica. Foi uma oportunidade para a Epidemiologia repensar o quanto pode contribuir para a saúde da população e o quanto pode ser fortalecida na medida em que busca estreitar seu discurso, prática e formação com as outras áreas”.

“Como manter essa enorme diversidade que a Saúde Coletiva comporta sem abandonar as raízes e compromissos que nos caracterizam como um campo de conhecimento e de prática?”, questionou Rita Barradas, ex-presidente da Abrasco e professora da FCM Santa Casa/SP. “Estamos num campo povoado de diversidade de questões, desafios, problemáticas complexas – a gente sente a insuficiência das abordagens parciais, fragmentadas, recortadas”.

Gastão Wagner, também ex-presidente da Abrasco e professor da Unicamp: “A Saúde Coletiva tem uma unidade, tem uma integração, é herdeira da saúde pública. A grande inovação é a força das ciências sociais e humanas que trouxemos. Mantém um papel social que a saúde pública tem nas sociedades públicas pré-industriais, de proteção social, proteção da vida. É um campo de conhecimento, mas é um ofício. Temos compromisso com a prática.”

Para Lígia Maria Vieira, professora da UFBA, são muitos os obstáculos na prática para a integração das áreas, mas as possibilidades existem, “não só em esforços pessoais, mas nas articulações e dinâmicas entre campos e subcampos”. Ela afirma que depende também das condições históricas e das possibilidades de uma determinada conjuntura que propiciam “encontros entre pessoas, com ocorrência de processos coletivos capazes de transformar o status quo, como tem sido a própria constituição do campo da Saúde Coletiva.”

“Será que não é hora de aldear a Saúde Coletiva? Uma das questões que a hermenêutica traz é a questão de que não há fato, mas há interpretações. Isso vai contra a ideologia científica predominante, que diz que a ciência trabalha com fatos, esse ideário mais popular da ciência. Tudo é interpretação, no sentido de que a vida é um acontecer, e os fatos são significados pelas pessoas. Acho que podemos pensar a ciência como parte desse acontecer”, refletiu José Ricardo Ayres, professor da USP.

Já Denise Coviello Martin, professora da UNIFESP, expôs alguns dos enfrentamentos históricos na constituição da subárea das Ciências Sociais e Humanas em Saúde (CSHS) na Saúde Coletiva. “Houve a clássica oposição entre metodologia qualitativa e quantitativa. Também houve debates sobre produtividade, que traz consequências práticas em termos de bolsas de pesquisa e oportunidades. A gente pensa que o que estava em jogo é a cientificidade das CSHS e a legitimidade da produção da área”.

Pedro Paulo Pereira, da UNIFESP, afirmou que “Os desafios e a propensão interdisciplinar da Saúde Coletiva nos fazem questionar a base da construção disciplinar e das ciências modernas, que, segundo alguns autores, é a divisão entre mundo social e mundo natural”. Ponderou, ainda, que é preciso enfrentar a hierarquia da ciência e do conhecimento em âmbito da Saúde Coletiva.

O evento foi coordenado por Rosana Onocko, presidente da Abrasco, Antonio Cyrino, professor da UNESP, e Lilia Schraiber, professora da USP e diretora da Abrasco.

Leia o dossiê na íntegra, e assista ao debate na TV Abrasco:

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