Fugir dos estereótipos que advém de atributos supostamente naturais ao feminino – como sensibilidade, delicadeza, generosidade – e anunciar em alto e bom som a força, coragem e capacidade de lutar, de fazer frente às adversidades e se contrapor aos limites impostos. Num dos movimentos de impacto direto, o 08 de março, Dia Internacional de Mulher tem cada vez menos rosas distribuídas e mais espaços de questionamento e enfrentamento do status quo social. Neste ano de 2018, a Abrasco se soma à defesa do Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte, no entendimento de que a luta pelo protagonismo feminino passa pelo direito, acesso e qualidade de atendimento dedicado a toda e qualquer mulher nos serviços de saúde e evidencia a ação e posicionamento de algumas de suas associadas e dirigentes que fazem a diferença na construção cotidiana do direito à saúde e à vida.
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Somente nesses primeiros dias de março, a Abrasco se fez representar em diversos espaços institucionais, na mídia e nas lutas sociais. Professora do ISC/UFBA e integrante da Diretoria da Abrasco, Gloria Teixeira foi uma das palestrantes do painel “O lugar da Vigilância em Saúde no SUS”, durante a 1ª Conferência Nacional de Vigilância em Saúde, realizada entre os dias 27 de fevereiro a 02 de março. No evento que reuniu 2 mil pessoas em Brasília, Gloria ressaltou que “nós estamos comemorando os 30 anos do SUS na nossa Constituição e ainda não alcançamos a integralidade”, relembrando que “a vigilância em saúde não está só no SUS, mas no cotidiano da cidadania”.
A pauta da saúde suplementar e seus perversos mecanismos de esvaziamento do SUS e sobretaxação de serviços é regularmente criticada por Lígia Bahia, professora do IESC/UFRJ, e integrante da Comissão de Política, Planejamento e Gestão, que desvelou ao Jornal Nacional o truque dos falsos planos coletivos.“As empresas deixaram de vender planos individuais e passaram a vender esses planos que são planos falsos coletivos. Quem os compra são praticamente indivíduos e famílias. Então, nós temos planos individuais. Mas não funcionam com as garantias dos planos individuais”, afirmou.
Já Daniela Riva Knauth, professora da UFRGS e coordenadora do Grupo Temático Gênero e Saúde (GTGen/Abrasco) contribuiu para o debate da homossexualidade como expressão da vida na matéria “Flipper era gay?”, da revista Época. “O que está evidenciado cientificamente é que a ‘natureza’, tanto no meio animal quanto no humano, apresenta um grande leque de diversidade que ultrapassa nossas categorias de classificação”.
Foi a participação e o envolvimento profissional, acadêmico e militante das abrasquianas Daphne Rattner (FS/UnB) e Duca Leal (ENSP/Fiocruz) na questão do parto humanizado que, juntamente com a movimentação de tantas outras organizações e profissionais, têm mobilizado em esferas nacionais e internacionais a luta em defesa do Hospital Sofia Feldman.
Luta, acolhimento e diversidade: Esse pequeno apanhado denota a diversidade da Saúde Coletiva e contribuição fundamental das mulheres ao campo. “É preciso e necessário dizer que a contribuição das mulheres no percurso histórico tem sido sua força, coragem e capacidade de lutar; de fazer frente às adversidades e de se contrapor às limitações e aos limites impostos, para além das lutas feministas”, diz Leny Trad, professora do ISC/UFBA e vice-presidente da Abrasco.
Para a docente, o feminismo tem se apresentado à sociedade como algo que vai ampliando suas fronteiras, trazendo mais áreas de atuação e mais pessoas, entre jovens mulheres e homens. “Hoje, fiquei muito estimulada por um texto que li da Juliana Crapp nas redes sociais em que ela diz o seguinte: ‘as mulheres estão se unindo em busca de criar pessoas mais saudáveis, solidárias, conscientes, equilibradas, que só querem que a humanidade seja mais acolhedora’. Para isso, elas estão estudando e debatendo sobre práticas como criação com apego, comunicação não-violenta, introdução alimentar guiada. São mulheres que estão passando horas e horas de seu dia em grupos virtuais e reais, organizando debates, lutas e coletivos de apoio, militando em lutas políticas tão variadas quanto o direito ao aborto à rotulagem de alimentos, povoando os espaços públicos e resgatando o prazer da convivência. Essa forma de olhar e de agir é a contribuição que as mulheres têm dado à Saúde Coletiva em suas várias frentes. Nossa tarefa é trazer uma perspectiva crítica e transformar a realidade”, completa Leny Trad.