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Saúde das populações continua a mercê de lixo tóxico

Bruno C. Dias

Foto: Pexels

O padrão de desenvolvimento econômico e a consequente alta produção de todo o tipo de material faz com que o crescimento exponencial de resíduos sólidos torne-se um dos maiores problemas do planeta no século XXI. O quadro se agrava quando os detritos são almente tóxicos, como metais pesados, subprodutos industriais e compostos organoclorados. Recentemente, autoridades italianas começaram um trabalho de escavação profunda nas proximidades de Nápoles por conta do destino incorreto desse tipo de lixo (confira matéria publicada no jornal Folha de S. Paulo). Estima-se que 10 milhões de toneladas foram ilegalmente enterradas na cidade de Casal di Principe desde o início da década de 1990. Um dos resultados é o aumento dos casos de câncer na região muito acima da média nacional.

Os problemas de saúde são acompanhados desde 2004 e renderam estudos publicados na revista The Lancet. Casos como câncer de bexiga, mama, testículos e pâncreas são encontrados em boa parcela da população. Um agravante do caso napolitano é a presença da Camorra, uma das três principais organizações criminosas da Itália, sediada na região. Durante décadas, acordos secretos entre indústrias de dentro e fora da Itália buscaram a organização mafiosa para enterrar o lixo na cidade e assim evitar os custos das práticas legais para a eliminação de resíduos perigosos.

Para Nelson Gouveia, professor do departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e vice-presidente da Abrasco, o Brasil possui casos parecidos com o italiano, mesmo que sem o componente mafioso. “Há um monte de empresas que já andaram enterrando lixo tóxico em lugares indevidos”, diz Gouveia, citando casos bastante conhecidos, como do conjunto Cidade dos Meninos. Cerca de 400 toneladas de hexaclorocicloexano (BHC) foram enterrados nas proximidades de um antigo e já fechado abrigo em Duque de Caxias, cidade da região metropolitana do Rio de Janeiro.

Estudos realizados pela Fundação Oswaldo Cruz apontaram presença de BHC no sangue em níveis superiores em até 350 vezes o aceito pela Organização Mundial de Saúde, além de inúmeros relatos de cânceres e problemas de gestação e má formação congênita. “O câncer é uma doença de indução longa, que pode levar de 20 a 30 anos para se manifestar. Mas há materiais tóxicos como pesticidas organoclorados que causam efeitos mais agudos e em menor tempo, atingindo gravemente órgãos como o fígado”, destaca o professor que cita ainda a crescente produção e descarte de metais pesados, como pilhas, baterias e cargas de celulares e de demais eletroeletrônicos.

Os problemas não se restrigem ao lixo tóxico, mas a todo tipo de resíduo, incluindo orgânicos e sólidos. Aprovada em 2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/10) exige que as cidades brasileiras acabem com seus lixões até agosto deste ano. Coleta seletiva, usinas de reciclagem e aterros sanitários são necessários para a implementação da legislação. No entanto, o Brasil ainda está longe de alcançar essa meta. De acordo com dados de 2012 da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe), 42% de todo o lixo coletado no país ainda foram depositados em lixões ou aterros controlados, que pouco se diferenciam dos lixões. O percentual exclui a enorme quantidade descartada inapropriadamente no meio ambiente e que causa ainda mais males à saúde brasileira. (Com informações da Folha de S. Paulo e Agência Câmara)

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