O Rio de Janeiro foi a capital mundial da Saúde Pública na última semana de agosto. Os cerca de 12 mil congressistas de 26 países e os mais de 9650 trabalhos científicos apresentados fizeram do 8º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva e 11º Congresso Mundial de Saúde Pública o maior encontro científico já realizado pelo setor. Autoridades, pesquisadores, estudantes e profissionais de saúde e de áreas afins participaram de conferencias, debates, painéis e palestras durante os cinco dias de atividades.
O evento teve uma expressiva participação local, colocando em evidência a grande produção científica nacional. Basta citar que dos 7.533 pôsteres expostos, 7.131 eram de autores brasileiros.
Na perspectiva global proporcionada por um evento desta magnitude foi possível comprovar que, apesar das dificuldades, a saúde no Brasil vem melhorando. É o que mostram os números do setor, que conta aproximadamente com dois milhões de trabalhadores: 7,8% do Produto Interno Bruto brasileiro giram em torno de questões vinculadas à saúde (Sistema Único de Saúde, medicamentos, vacinas e equipamentos).
O prêmio outorgado pela World Federation of Public Health Associations (WFPHA) à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), como a melhor instituição pública de saúde do mundo evidencia a excelência do ensino e pesquisa na Saúde Pública brasileira. O co-presidente da WFPHA, Theodor Abelin, chamou a atenção para o trabalho desenvolvido pela Fiocruz em países da América Latina e do mundo ao entregar o prêmio ao sanitarista Paulo Buss, presidente da Fundação. Asib Nasim, novo presidente da WFPHA
empossado durante a cerimônia de encerramento, declarou: “sentimos muito orgulho de manter parcerias com uma instituição desse porte, que trabalha há anos na produção de medicamentos em benefício da população. Hoje, estamos premiando a Fiocruz, mas não podemos deixar de parabenizar o governo brasileiro pela sua atuação”. Ao receber o prêmio, Buss lembrou que, desde a criação da instituição, o compromisso da Fiocruz é com a sociedade brasileira e global. “O trabalho desenvolvido diariamente em nossa instituição faz com que a população brasileira tenha acesso ao melhor em Saúde Pública”, afirmou.
Saldo positivo
Para Paulo Gadelha, presidente da Abrasco, a qualidade dos debates, a representatividade das delegações presentes e a força da participação científica e política extrapolaram todas as expectativas. “A presença do Presidente Lula e de Estadistas representando 26 nações, na cerimônia de abertura dos trabalhos, traduziu a energia e a capacidade de convocação da Abrasco e é a resposta à vontade da comunidade científica de colocar a Saúde no centro do debate político nacional e internacional”, afirmou, lembrando também que foi o primeiro congresso internacional da área ao sul do Equador.
Durante o Congresso reiteraram-se as evidências das desigualdades no acesso a moradia, educação, trabalho, lazer, terra e liberdade. Em diversos momentos foi ressaltado que a fome, a pobreza, as doenças evitáveis e a violência continuam comprometendo a saúde de três quartos da população do planeta. “De fato a solução de muitos destes problemas exige o fortalecimento de nossos laços de cooperação. Precisamos estabelecer uma agenda ampla e renovada com outros organismos internacionais e movimentos sociais objetivando o desenvolvimento humano no âmbito mundial”, declarou Gadelha.
A Declaração do Rio
No intuito de colaborar com esta agenda para o desenvolvimento, os cinco dias de estudos, debates e relatos de experiências deram origem à Declaração do Rio, documento composto de nove propostas que buscam estabelecer compromissos e caminhos para o enfrentamento das questões de saúde em um mundo globalizado. “A conclusão é que a globalização, fenômeno que teria o potencial de quebrar barreiras, infelizmente, produziu um ciclo vicioso, em que se tem um aumento das desigualdades que leva à pobreza e à exclusão social, piorando as condições de vida, deteriorando a saúde e, por sua vez, ampliando ainda mais as desigualdades sociais internas e entre nações”, diz o documento.
Para o presidente da Abrasco, a Carta do Rio indica a necessidade de pensar em questões de saúde ligadas a uma ótica global. “Por exemplo, o aquecimento global é um problema que afeta a saúde dos povos. Doenças que não poderiam atingir certas regiões em função das barreiras climáticas passam a existir nessas regiões por causa da elevação das temperaturas”, alerta Gadelha. Ele lembrou também a nossa vulnerabilidade e a rapidez da propagação de doenças face à velocidade das trocas comerciais e à movimentação de pessoas em todo o mundo. Segundo o sanitarista, a Carta do Rio é importante principalmente nesse momento eleitoral brasileiro porque obriga os candidatos a perceberem a importância e estabelecerem compromissos com as questões e propostas levantadas.
Gadelha reforçou ainda a indicação da Carta sobre uma maior participação da Organização Mundial de Saúde na definição de políticas públicas mundiais. Segundo ele, nos últimos anos a entidade perdeu espaço na discussão de problemas mundiais para outras organizações como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio.
|