Na Semana Mundial da Amamentação deste ano, o foco é a amamentação e o trabalho. No Brasil, apesar da prática da amamentação ter aumentado, sua duração ainda é menor do que a recomendada. Pouco mais da metade das crianças menores de seis meses já recebem outro alimento e somente uma em cada três crianças continua recebendo leite materno até os dois anos de idade, como é indicado.
Com ambientes corporativos pouco favoráveis à amamentação, as desigualdades de gênero ficam ainda mais evidentes, levando mulheres a procurarem outras alternativas ao aleitamento materno. Mesmo com essas dificuldades, por que optar pela amamentação ainda é importante?
Amamentação faz bem à saúde da criança – O leite materno protege contra infecções, como diarreia, pneumonia e infecção de ouvido (otite) e, caso a criança adoeça, a gravidade da doença tende a ser menor. Também previne algumas doenças no futuro, como asma, diabetes e obesidade; e favorece o desenvolvimento físico, emocional e a inteligência.
Amamentar faz bem à saúde da mulher – Amamentar auxilia na prevenção de algumas doenças da mulher, reduzindo as chances de desenvolver, no futuro, câncer de mama, de ovário e de útero e também diabetes tipo 2. Amamentar exclusivamente nos primeiros 6 meses pode aumentar o intervalo entre os partos. Quanto mais tempo a mulher amamentar, maiores serão os benefícios da amamentação à sua saúde.
O aleitamento promove o vínculo afetivo – A amamentação é um ato de interação profunda entre a mulher e a criança, com muitas trocas, sendo geralmente prazeroso para ambas. Assim, a amamentação aproxima mãe e filho ou filha, facilitando o vínculo afetivo entre eles.
Porque é econômico – Amamentar é bem mais barato do que alimentar a criança com outros leites, pois o leite materno é produzido pela própria mulher para ser oferecido para o seu filho. Não exige preparo, com economia de tempo, água e gás. Já as fórmulas infantis industrializadas podem comprometer boa parte do orçamento familiar.
Amamentação faz bem à sociedade – Crianças amamentadas adoecem menos e tem menos chance de desenvolver algumas doenças no futuro; com isso, o sistema de saúde e suas famílias gastam menos para preservar a sua saúde. Quando as crianças adoecem, as mães e cuidadores muitas vezes perdem dias de trabalho, o que pode prejudicar a família e a sociedade. Crianças amamentadas também têm maiores chances de alcançar o seu potencial máximo de inteligência, resultando em adultos com maior capacidade para o trabalho, o que contribui para o desenvolvimento do país.
Amamentação faz bem ao planeta – A amamentação contribui efetivamente para a sustentabilidade ambiental e segurança alimentar e nutricional. O leite materno é um alimento natural, não industrializado, produzido e fornecido sem poluição e sem prejuízos aos recursos naturais. Dispensa a produção leiteira animal, reduzindo o seu impacto na natureza, evitando resíduos que contribuem para a emissão de gás metano, com resultado direto no efeito estufa. Reduz a produção industrial de fórmulas lácteas e toda uma cadeia de produtos geradores de detritos, como toneladas de latas, plásticos e rótulos.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2021, apontam que 54,6% das mães entre 25 e 49 anos, com filhos de até três anos, estavam empregadas. E o que podemos fazer para diminuir as desigualdades de gênero impostas a mães e pessoas que amamentam no ambiente de trabalho?
- criar e fortalecer políticas de auxílio e transferência de renda para mulheres com filhos com idade até 6 anos;
- criar e fortalecer políticas públicas que incentivem e adotem o conceito de parentalidade, com uma melhor distribuição das tarefas domésticas;
- fomentar políticas que incentivem e apoiem a mulher que é mãe no retorno ao mercado de trabalho após a licença-maternidade;
- criar salas de amamentação em ambientes de trabalho.
Além disso, é preciso reverter a carga de trabalho injusta imposta às mulheres, e tornar visível o valor econômico da amamentação e de outros trabalhos não remunerados dentro da economia convencional. Para Inês Rugani, coordenadora do GT Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva, reconhecer essas desigualdades é urgente. “Promover, apoiar e proteger a amamentação é contribuir para a garantia do direito humano à alimentação adequada e para sistemas alimentares sustentáveis”.