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 NOTÍCIAS 

Série Convidados Internacionais do VI Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde

Foto DivulgaçãoDIDIER FASSIN | Texto de Pedro Jaime & Ari Lima

 

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Didier Fassin é um antropólogo francês, docente da École des Hautes Études en Sciences Sociales, onde fundou e coordena o Institut de Recherche Interdisciplinaire sur les Enjeux Sociaux (IRIS) e que em 2009 foi nomeado James D. Wolfensohn Professor do Institute for Advanced Study, da Princeton University. Ele lidera ainda um programa de investigações do European Research Council intitulado Towards a Critical Moral Anthropology. Esta seria uma apresentação sintética do nosso entrevistado. Ela certamente traz informações precisas, porém não faz jus à sua complexa trajetória.

 

Inusitadamente para a geração de profissionais já distantes dos fundadores da antropologia, Didier Fassin é um antropólogo e sociólogo cuja primeira área de formação e atuação profissional foi a medicina. Como médico, ao atuar na Índia e na Tunísia, decidiu pela conversão à sociologia e à antropologia. Algum tempo mais tarde, já como sociólogo e antropólogo, atuou como vice-presidente da ONG Médicos Sem Fronteiras. Tudo isso deu um caráter inovador ao seu percurso profissional, que é marcado pela proximidade entre a prática da pesquisa e a prática da intervenção. "O que há de mais interessante hoje nas ciências sociais se faz na fronteira entre a participação e a observação", declarou recentemente ao jornal Le Monde.

 

É possível perceber na antropologia praticada por Didier Fassin a influência de Georges Balandier, que dirigiu o seu doutoramento num período em que o estruturalismo de Claude Lévi-Strauss ainda era o paradigma antropológico hegemônico na França. Essa influência se evidencia na abordagem política que ele adota para analisar os fenômenos sociais. Contudo, se herdou essa perspectiva do seu mestre, não deixou de nutri-la também com a inspiração que encontrou em Pierre Bourdieu, na forma como este decodifica os mecanismos que produzem as desigualdades sociais; e em Michel Foucault, autor a quem descobriu em meados dos anos 1980 e com cuja obra nunca parou de dialogar.

Essas influências estão presentes em seu itinerário etnográfico. Elas se revelam nas investigações sobre a AIDS que realizou na África do Sul, juntamente com pesquisadores locais, e que resultaram na publicação do livro Quand les corps se souviennent: expériences et politiques du sida em Afrique do Sud (La Découverte, 2006), no qual interroga os corpos negros vitimados por essa epidemia. Aparecem também nos estudos empreendidos em seu próprio país, nos quais problematiza os significados de políticas públicas voltadas para os desempregados e os imigrantes, concebidos pelo Estado francês como corpos doentes ou perigosos.

 

Atualmente Didier Fassin vem participando ativamente dos debates sobre raça e racismo que têm sido objeto de calorosas polêmicas na França. Nos textos que escreveu a esse respeito, procurou revelar o viés racista e racialmente desigual da sociedade e do Estado franceses, paladinos de um ideal de universalidade e igualdade entre os homens. Para ele, não é mais possível camuflar, sob a máscara da xenofobia, o racismo existente naquele país. Os jovens franceses, nascidos na França de pais africanos, que recebem tratamento diferenciado não por possuírem status de estrangeiro, mas pela cor de sua pele, emergiram na cena pública protestando contra o destino que a República lhes reservava, algo que interpelou os sociólogos e antropólogos a se debruçarem sobre a questão racial a fim de compreender fenômenos como as revoltas juvenis ocorridas em Paris no ano de 2005. Das investigações que liderou a esse respeito resultaram duas coletâneas: De la question sociale à la question raciale? Représenter la société française (La Découverte), que coordenou com seu irmão, o sociólogo Éric Fassin, e que foi publicada inicialmente em 2006 e reeditada em 2009; e Les nouvelles frontières de la société française (La Découverte), lançado em 2010 com sua direção.

 

Outro eixo que orienta a sua produção antropológica mais recente concerne ao que denominou de governo humanitário, expressão que utiliza para se referir à introdução de sentimentos morais na vida política. A esse respeito, sua atenção tem se voltado para a reformulação que nos últimos anos marca o debate político. "As desigualdades são traduzidas como sofrimento social, as violências em termos de traumatismos e as questões políticas em termos humanitários", apontou ele também ao jornal Le Monde. Ademais, como ressalta nessa entrevista, considera que no mundo contemporâneo há uma zona de interseção nebulosa entre a ajuda humanitária e a intervenção militar. Isso porque, de um lado, a legitimação das intervenções militares é cada vez mais justificada pelo argumento humanitário; e, de outro lado, as próprias organizações não governamentais que atuam no campo humanitário adotam frequentemente a lógica de atuação própria dos exércitos. Os livros Contemporary states of emergency. The politics of military and humanitarian interventions (Zone Books), que ele organizou juntamente com Mariella Pandolfi; e La raison humanitaire: une histoire morale du temps présent (EHESS, Galimard/Seuil), ambos publicados em 2010, refletem esse eixo de sua investigação científica.

 

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