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Simbravisa debateu cenário dos momentos extremos do ciclo da vida

Num país com tantas desigualdades como o Brasil, como se encontram as duas pontas do ciclo da vida, o nascer e o envelhecer? Este foi o tema geral da mesa-redonda “Cenário epidemiológico do Brasil contemporâneo”, realizada em 26 de novembro durante o 8º Simpósio Brasileiro de Vigilância Sanitária – 8º Simbravisa. A atividade contou com Gulnar Azevedo e Silva, presidente da Abrasco e docente do Departamento de Epidemiologia do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ), e Karla Giacomin, médica geriatra da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMS/BH-MG) e pesquisadora associado ao Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR). A coordenação foi de Barbara Goulart, integrante do GTVisa/Abrasco e docente da UFGRS.

Gulnar articulou sua participação em quatro eixos, apresentando a situação de saúde do país a partir dos principais indicadores; a conquista do SUS e seu efeito no cenário epidemiológico, e o quadro político recente.

Dos indicadores apresentados, ressaltou que as melhorias conquistadas nos últimos 30 anos são reais, o que não significa não haver ainda grandes desigualdades e iniquidades que precisam ser enfrentadas.

“A expectativa de vida, que era de 68,4 anos em 1990, passou para 75,2 anos em 2016; e as taxas de mortalidade geral padronizadas por idade caíram em 34%, estabilizadas em 13,82. No entanto, enquanto a taxa de mortalidade infantil no Espírito Santo é 9,19 mortes sobre mil nascidos vivos, no Amapá a mesma razão alcança 23,45 A disparidade entre as regiões não é aceitável para os padrões do século XXI, assim como a mortalidade materna, pois são eventos que poderiam ser evitados” destacou a epidemiologista.

Outro quadro similar é o das neoplasias. “O mesmo pode ser visto em relação ao câncer onde grandes contrastes na mortalidade pelos tipos específicos são visto entre as regiões do país e mesmo dentro destas, refletindo a desigualdade de acesso à detecção precoce e ao tratamento” comentou Gulnar ao comentar dados sobre a incidência desse grupo de doenças nas diferenças regiões brasileiras.

Ao analisar as transformações promovidas na saúde dos brasileiros pelo SUS, Gulnar ressaltou que indicadores como o considerável a cobertura da população pela Atenção Básica e acesso a medicamentos só foram possíveis com a criação de um sistema com centro na universalidade e na equidade, e que se encontram fortemente ameaçados.

“Precisamos buscar a formação de um amplo bloco democrático e popular em prol do desenvolvimento inclusivo e sustentável, que defenda a soberania do país e invista para a superação das iniquidades sociais, articulando militantes do SUS com iniciativas de outros setores democráticos. Só a luta pode transformar o atual cenário”, disse Gulnar, trabalhando ideias do documento “Pela Garantia do Direito Universal à Saúde no Brasil!”, lançado pela Abrasco como contribuição à 16ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em agosto.

Uma nova dimensão que já chegou, mas que ainda não se modificou: Presidente do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso (CNDI) entre 2010 e 2012, Karla Giacomin começou a apresentação fazendo as pessoas pensarem a perspectiva do envelhecimento.

“Se em 1987 o envelhecimento populacional brasileiro era apontado como uma realidade, passados 30 anos, percebemos o quanto ainda precisamos fazer” vaticinou Karla, trazendo dados sobre a saúde desse segmento populacional em expansão. Segundo dados do IBGE, a expectativa de vida chegará na próxima década que se avizinha será acima de 76 anos, e em 30 anos um quarto da população será idosa.

“A velhice de cada cidadão se constrói no curso da vida, a partir do acesso e da falta de acesso a direitos” ressaltou Karla, evocando dados de pesquisa desenvolvida pelo Diagnosted Research Group (DGR), que apontam em 30% a proporção de idosos com quadro de saúde pior do apresentado quando entraram nos hospitais, além de apresentarem maior tempo de internação: 5,4 dias para pessoas acima de 60 anos; e 7,2 dias para pessoas acima de 80 anos – crescimento acima de 100% quando comparado aos 3,4 dias internados no somatório das faixas etárias anteriores.

Para que o Brasil aprenda a envelhecer, a médica destacou que Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) precisam ser olhadas pela Vigilância Sanitária dentro da sua complexidade, envolvendo diferentes atores e aspectos de cuidado e assistência.

“A fiscalização sanitária interfere na realidade das instituições de maneiras distintas, o que não seria um problema já que a população assistida também é heterogênea, em termos de complexidade dos cuidados. No entanto, a gestão se faz de forma amadora e sem uma regulação efetiva dos cuidados prestados. Cuidar de alguém implica muito mais do que garantir “casa, comida e roupa lavada” ressaltou a médica, valorizando que tanto idosos com grande grau de autonomia quanto com menor autonomia, mas em adequadas condições de atenção precisam ser vistos como vencedores.

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