O X Congresso Brasileiro de Epidemiologia foi palco de uma importante conquista do SUS na dimensão da prática epidemiológica. O programa de treinamento em epidemiologia aplicada aos serviços do Sistema Único de Saúde – EpiSUS – recebeu na tarde de terça-feira, 10 de outubro, a certificação FETP – Field Epidemiology Training Program – atestando a qualidade das ações de vigilância epidemiológica brasileira no mesmo nível a de países com altos investimentos em saúde, como Canadá, Estados Unidos e Reino Unido.
Oferecida pela Training Programs in Epidemiology and Public Health Interventions Network (TEPHINET), rede independente que trabalha em cooperação com organismos internacionais, como Organização Mundial da Saúde (OMS), e grandes agências nacionais, como o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), a certificação é um reconhecimento da qualidade formativa dos programas de treinamento em epidemiologia desenvolvidos pelos sistemas de saúde nacionais e/ou governos. Atualmente, 69 países oferecem treinamentos similares e fazem parte da rede TEPHINET, sendo certificados aqueles que melhor aplicam e desenvolvem as ações de monitoramento. O SUS é o primeiro sistema de saúde de um país da América Latina a receber esta certificação, que neste 2017 também foi concedida aos programas desenvolvidos em dois países africanos: Camarões e Quênia.
“O motivo de estarmos aqui presentes, além do prazer em participar do evento de uma prestigiada sociedade científica como a Abrasco, é podermos expor sobre o que estamos trabalhando na rede TEPHINET e reconhecer a qualidade do trabalho do EpiSUS, que tem se mostrado extremamente profissional, alcançando resultados e causando impacto não apenas na região da América Latina, mas em nível internacional, como tem comprovado as ações relacionadas à Zika”, disse Dionisio Herrera, diretor da TEPHINET.
A certificação foi entregue a Greice Madeleine, coordenadora do EpiSUS, e Marcio Garcia, diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde (DEVIT/SVS/MS). “É um momento muito importante, de reconhecimento internacional do trabalho de epidemiologia de campo. Com essa certificação, o Brasil passa a poder apoiar outros países na formação em epidemiologia de campo, o que é um desafio, pois nossa responsabilidade aumenta”, agradeceu Garcia.
Lançado em 2000, o EpiSUS já formou mais de 100 profissionais em atividades formativas com duração de dois anos e que tem como propósito potencializar a capacidade de resposta às emergências em saúde pública, tendo atuado em mais de 300 eventos de saúde investigados, como surtos endêmicos, inquéritos nacionais e grandes emergências, no caso do zika vírus e da microcefalia. A turma 2017 conta com 17 pesquisadores. Neste ano, teve início o projeto-piloto EpiSUS Fundamental, que pretende formar cerca de cinco mil profissionais em três anos para fortalecer o Sistema Nacional de Vigilância em Saúde no nível local, visando melhorar a capacidade de detecção, resposta e comunicação de problemas de saúde pública diretamente nos mais de 5 mil municípios brasileiros.
Eleonora D’Orsi, professora do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (DSP/UFSC), integrante da diretoria da Abrasco e da Comissão Científica do X Congresso de Epidemiologia, conduziu a entrega da certificação após a Sessão Especial “A contribuição das investigações de surtos para a epidemiologia das doenças infecciosas” que contou com a participação de Eduardo Hage, especialista doa Instituto Sul-americano de Governo em Saúde (UNASUR), além de Herrera e Garcia. “Essa certificação é mais um importante reconhecimento internacional do SUS e da sua capacidade inconteste de formação e de intervenção. Como dirigente da Abrasco e integrante da Comissão Científica, fico extremamente honrada que o nosso congresso tenha sido o espaço formal para esse reconhecimento, mais uma prova de que apostar no SUS é fundamental”.