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Tecnologias digitais e saúde: Congresso da Abrasco debate uma agenda pública,democrática e cidadã sobre o tema

André Gonçalves - ICICT/Fiocruz

Por uma agenda pública, democrática e cidadã da saúde digital, o 13º Congresso de Saúde Coletiva promoveu nesta segunda-feira, 21/11, a mesa redonda ‘Como direcionar as tecnologias digitais no SUS para participar da superação das desigualdades sociais e a ampliação da soberania dos bens de saúde e não para servir ao poder político-econômico nacional e transnacional?’.

Instigados pela pergunta do debate, os convidados apresentaram três perspectivas diferentes para pensar o tema. O médico sanitarista Gileate Coelho Neto levantou três eixos importantes para uma agenda pública para a saúde digital no Brasil voltada para o enfretamento das desigualdades e fortalecimento da cidadania: a proteção de dados e a democratização da informação, a transformação digital e um ambiente de inovação para o Sistema Único de Saúde.

De acordo com o sanitarista, que atua no município de Recife (PE) e é doutorando em Saúde Coletiva da Unifesp, são propostas para um “próximo ciclo de saúde digital a favor do SUS”, depois de apontar alguns dos problemas recentes em torno das fragilidades e negligências ocorridas no campo da proteção de dados de usuários do sistema e a falta de investimentos e políticas públicas para a área tecnológica do SUS.

O pesquisador Sergio Amadeu, da Universidade Federal do ABC, aprofundou a questão trazendo uma crítica às estratégias e doutrinas da saúde digital do ponto de vista da saúde baseada em valor. “Nós estamos em um cenário de conversão de tudo em dados, a datificação”, explicou. “Esse processo transformou a vida cotidiana em um grande negócio”, complementou.

Para ele, um dos grandes desafios da saúde digital no Brasil é a forte tendência de plataformização, como já vem ocorrendo em outras esferas da sociedade nos setores da economia e do trabalho. Nesse processo, com a digitalização e datificação das informações geradas diariamente pela população conectada ou usuária de serviços, setores do mercado utilizam técnicas avançadas de inteligência artificial e aprendizado de máquina para a extração de padrões e desenho de tendências de consumo.

Clarissa Marques Santos França, da Coalizão Direitos nas Redes, completou o debate reforçando alguns dos pontos defendidos pela sociedade civil, como a garantia da proteção de dados e a neutralidade da rede. Para ela, mesmo com algumas tentativas atuais de uso cidadão das tecnologias, não necessariamente estamos caminhando para superar as desigualdades sociais, e um dos principais entraves é a própria desigualdade no acesso à internet.“Como discutir soberania e inovação sem discutir uma estrutura pública para a saúde digital?”, destacou, propondo mecanismos de proteção e
atualização tecnológica em âmbito próprio no SUS.

Na terça-feira, 22/11, o Abrascão volta a debater o tema na mesa-redonda ‘Saúde Digital pode ser uma ameaça ao SUS?’, às 10h20, com Leonardo Castro, da ENSP/Fiocruz Clarissa França, da Coalizão Direitos na Rede, Raquel Rachid, da EFA 2030 Fiocruz, e Rafael Evangelista, do Comiê Gestor da Internet da Unicamp.

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