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The Guardian ouve Débora Diniz sobre ameaças de morte e exílio

Vilma Reis com informações do The Guardian

O trabalho de Débora Diniz reverbera além dos debates acadêmicos sobre os direitos das mulheres

Nova geração de exilados políticos deixa o Brasil de Bolsonaro ‘para se manter vivo’ diz o jornal britânico The Guardian, na manchete da reportagem assinada pelo correspondente Dominic Phillips, e publicada nesta quinta-feira, 11 de julho. Uma das entrevistadas é Débora Diniz,  antropóloga, pesquisadora, membro do Grupo Temático Bioética da Abrasco e professora da Universidade de Brasília, que ajudou a encampar uma ação no Supremo Tribunal Federal para permitir o aborto em gestações de fetos anencéfalos e se tornou idealizadora de outra empreitada no STF, desta vez pela descriminalização do aborto até a 12ª semana de gravidez. Por causa de seu trabalho e pesquisa, Débora foi vítima de linchamento virtual nas redes sociais, recebeu dezenas de ameaças de morte e, incluída no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos do Governo federal, foi aconselhada a deixar o país. “Sou vítima de ataques que colocam em risco o sentido de democracia no Brasil.”

Confira aqui o original no site do jornal e abaixo, alguns trechos, em português.

Às vezes, a solidão e separação da família e amigos levaram Jean Wyllys ao desespero. “Eu passei por momentos de profunda tristeza, passei a noite inteira chorando”, disse, falando por telefone de sua nova casa em Berlim. “Então evito pensar muito nisso. Eu me mantenho muito ocupado, eu escrevo muito”. Escritor e professor universitário, Wyllys ganhou a versão brasileira do Big Brother antes de se tornar um dos mais conhecidos políticos da esquerda do país, e o único legislador abertamente gay no Congresso. Mas em janeiro ele renunciou ao seu lugar e fugiu do país. “Eu saí do Brasil para continuar vivo”, disse Wyllys.

A ditadura militar que governou o Brasil de 1964 a 1985 exilou políticos, dissidentes, artistas e acadêmicos de esquerda. Décadas mais tarde, proeminentes esquerdistas e ativistas brasileiros estão novamente deixando o país, mas desta vez estão fugindo das ameaças de morte de extremistas de direita e apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Outros proeminentes exilados incluem a acadêmica Marcia Tiburi, uma ex-candidata ao governo do estado do Rio de Janeiro, a ativista feminista Débora Diniz e o escritor e ativista da favela Anderson França.

Todos os quatro exilados descrevem um coquetel de ameaças de gangues paramilitares, extremistas de direita e um fórum niilista de dark-web cujos usuários vomitam ódio por esquerdistas, mulheres e negros. Às vezes, essas ameaças coincidem com abusos ou mentiras difamatórias compartilhadas on-line por seguidores de alto perfil do presidente de extrema direita do Brasil.

Diniz foi colocada por semanas sob proteção policial por colocar em debate, no supremo tribunal, a descriminalização do aborto.

Ameaças de morte e até mesmo de massacre dos seus alunos e colegas na Universidade de Brasília chegaram via WhatsApp e email. Diniz deixou o Brasil e agora trabalha como pesquisadora visitante na Universidade Brown, nos Estados Unidos; o marido está desempregado e ela está longe de seus pais idosos.

“Deixar o Brasil tem um tremendo impacto”, disse ela. “É uma experiência horrível”.

Anderson França, escritor e educador cujas postagens no Facebook e no Instagram denunciam o racismo, a desigualdade e a violência policial são amplamente lidas no Brasil, há muito tempo recebe ameaças e abusos racistas por seu trabalho. Após o assassinato de Marielle Franco e a vitória eleitoral de Bolsonaro, amigos e colegas disseram que não era mais seguro para ele no Brasil. Ele se mudou para Portugal – e continua escrevendo. “Estamos muito preocupados com as pessoas que ficaram”, disse ele. “Outro ativista vai morrer?”

França, Wyllys e Diniz disseram que receberam ameaças de morte de usuários de um site extremamente racista e misógino que se autodenominou “o maior fórum de ultra-direita no Brasil”. Os usuários anônimos do site discutem pedofilia, estupram e matam mulheres, “estupro corretivo” de lésbicas, dicas de suicídio e até planos de abater escolas e universidades para atingir marxistas e esquerdistas. Ao longo dos anos, o fórum mudou seu nome e se mudou para a dark web, onde não pode ser acessado usando um navegador normal; recentemente suspendeu atividades.

Um de seus primeiros alvos foi Dolores Aronovich, professora de inglês na Universidade Federal do Ceará, no nordeste do Brasil. “Eles acham que a verdadeira vítima do mundo é o branco, hetero masculino … que as mulheres controlam o mundo através do poder do sexo”, disse Aronovich. Em 2011, alguns de seus usuários expressaram apoio a um atirador que matou 12 estudantes – 10 deles eram meninas – em sua antiga escola no Rio antes de atirar em si mesmo, disse Flúvio Cardinelle, um policial federal. Cardinelle liderou uma investigação de 2012 que resultou em condenações por racismo e compartilhamento de imagens de abuso infantil por dois dos principais membros do fórum, mas eles passaram apenas um ano na prisão.

Em dezembro, um desses homens foi condenado a 41 anos de prisão por crimes, incluindo racismo, incitação a crimes, terrorismo e compartilhamento de conteúdo pedófilo. Ele foi filmado usando uma camiseta de Bolsonaro e fazendo uma saudação neonazista. O segundo homem permanece no exterior. Dois policiais da unidade de cibercrime da polícia federal do Brasil disseram que não tinham recursos para combater sistematicamente os crimes de ódio virtuais. Há uma “falta geral de eficiência nas investigações porque não há estrutura dedicada”, disse um deles. “O resultado afeta todos nós.”

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