“O Fórum somos todos nós com seus anseios, diferenças e busca de um diálogo construtivista para o fortalecimento do campo da SC e do SUS” frisou Adauto Emmerich Oliveira da Universidade Federal do Espírito Santo, um dos coordenadores do Fórum de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Abrasco, sobre o encontro do grupo que se reuniu em 23 e 24 de novembro, no prédio histórico da Faculdade de Medicina da Bahia, construído em 1905 no lugar do antigo Colégio dos Jesuítas. A mesa de abertura contou com a presença de Guilherme Werneck – Coordenador da Área da Saúde Coletiva na Capes; Gastão Wagner – presidente da Abrasco; Darci Santos – pesquisadora do Instituto de Saúde Coletiva que estava representando o Reitor da UFBA, professor João Carlos Salles Pires da Silva; do Diretor da Faculdade de Medicina da Bahia, professor Luis Fernando Fernandes Adan; e Silvana Granado, coordenadora do Fórum.
Acesse aqui ao vídeo com toda a cerimônia de abertura do Fórum em Salvador.
Na manhã do primeiro dia houve debate sobre o ensino na Pós-graduação em Saúde Coletiva com apresentações de Naomar de Almeida Filho e Ligia Bahia sob mediação de Gastão Wagner. À tarde, foram apresentados os resultados da Avaliação Quadrienal da Capes, 2013-2016, pelo Coordenador da Área da Saúde Coletiva, Guilherme Werneck; pela coordenadora adjunta Maria Novaes ; e ainda por Eduarda Cesse, atual Coordenadora Adjunta para Mestrados Profissionais da Área da Saúde Coletiva da Capes.
Em sua participação, Gastão Wagner falou sobre a importância e o enfrentamento dos inúmeros desafios da pós-graduação em Saúde Coletiva no país, por meio da análise do contexto sociopolítico e de suas repercussões sobre os direitos sociais, no que tange a saúde, educação e ciência & tecnologia. O presidente da Abrasco, chamou atenção para o encontro de tantos coordenadores que justifica e mobiliza a Saúde Coletiva.
Assista aqui ao vídeo com a íntegra da participação de Gastão Wagner no Fórum.
Durante sua apresentação, o professor Naomar Almeida Filho apresentou a história da instituição universitária no mundo ocidental e no Brasil. O professor falou também do crescente interesse do capital financeiro em investir em fusões e aquisições de empresas educacionais como movimento para transformar o ensino superior em bens e serviços. Analisou ainda as perspectivas da universidade como instituição de conhecimento, num contexto de transformação da educação superior em espaço de negócios e mercado de valores e produtos simbólicos – “Proponho uma rápida revisão da trajetória histórica da educação universitária no mundo ocidental, a partir de textos clássicos. O filósofo e diplomata Wilhelm Von Humboldt tem sido largamente reconhecido e exaustivamente estudado como criador da universidade de pesquisa. Quero debater hoje os dilemas políticos e institucionais que desafiam a universidade brasileira no contexto atual de crises, conflitos e acomodações na nossa sociedade”, propos Naomar.
Assista aqui ao vídeo com toda a apresentação de Naomar Almeida Filho.
Em sua apresentação, Ligia falou sobre A saúde coletiva: ensino e pesquisa para reduzir desigualdades no Brasil contemporâneo. Seguindo um roteiro que começava no disclaimer, pressupostos, passando pelas “pré-hipóteses”, conjectura, interpretações sobre desigualdades no mundo contemporâneoe finalmente abordando os desafios para refletir e propor intervenções para a redução de desigualdades no Brasil. A professora sugeriu a construção de plataformas digitais comuns, pois atualmente grandes pesquisas feitas com dinheiro público não têm um espaço comum que permita acesso livre: – “Afinal, bancos de dados viraram bens de bancários”, alfinetou Ligia.
Sobre a divulgação científica na Saúde Coletiva, Ligia sugeriu que as revistas da Abrasco poderiam divulgar os trabalhos premiados nos congressos da Associação. Ainda sobre os trabalhos submetidos aos congressos da Associação, Ligia salientou a importância de permitir a submissão de trabalhos em andamento, pois permitiria melhor debate de temas, durante os encontros abrasquiano: – “Muitas vezes os trabalhos apresentados nos congressos da Abrasco são trabalhos que já foram até publicados, o que, na minha opinião, não permite um debate com o público interessado”
Ao final da apresentação, Ligia chamou atenção para o cenário político no mundo e algumas novidades como a candidata mexicana indígena María de Jesús Patricio, candidata nahua do Conselho de Governo Indígena e que tem o apoio do Exército Zapatista de Libertação Nacional, conhecida como Marichuy: – “Prestem atenção nesta candidata independente às eleições presidenciais de 2018, ela já anunciou que não usará “nenhum peso” dos recursos públicos que a autoridade eleitoral fornece aos candidatos para sua campanha”, explicou Ligia.
Em relação ao recente estudo anunciado pelo Banco Mundial Um ajuste justo: análise da eficiência e equidade do gasto público no Brasil Ligia pediu: – Leiam as 3 páginas do Relatório que fala sobre saúde (sim, só 3 páginas) lá eles dizem que precisamos ter mais médicos, mas não é disso que se trata, não é verdade? O que nós precisamos é reduzir desigualdades, e o que estamos fazendo para a redução das desigualdades? Finalizo chamando atenção para a destruição da base técnica do SUS que está acontecendo debaixo das nossas barbas: nós formamos milhares, milhares de pessoas na saúde pública que não têm nenhuma autonomia para resistir a esta destruição e esse é um problema muito sério, não só de precarização do trabalho na saúde, mas um problema de formação, um problema de cidadania, um problema dos sujeitos sociais que estamos formando”.
Acesse aqui à apresentação de Ligia Bahia, em formato PDF.
Assista aqui ao vídeo com a participação de Ligia Bahia no encontro de Salvador.
À tarde, o professor Guilherme Werneck apresentou o sistema de avaliação da Pós-graduação no Brasil, feito pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes. Os resultados foram publicados em 20 de setembro: – “Os objetivos da avaliação são contribuir para a garantia da qualidade da pós-graduação brasileira; retratar a situação destas pós-graduações; contribuir para o desenvolvimento de cada programa e área em particular e oferecer subsídios para fundamentar decisões sobre as ações de fomento dos órgãos governamentais”, introduziu Werneck. A Avaliação analisou os projetos político-pedagógicos, a inserção social e a produção científica docente e discente de 4.175 programas de pós-graduação (PPG) distribuídos em 49 áreas de conhecimento. Na área da Saúde Coletiva, foram avaliados 87 programas, sendo 51 acadêmicos (44 em avaliação e 7 em acompanhamento) e 36 profissionais (34 em avaliação e 2 em acompanhamento). Todos pontuaram a partir da nota 3, não havendo necessidade de descredenciamento de nenhum dos PPG em atividade atualmente. As notas ficaram assim distribuídas: 35 PPG obtiveram nota 3; 29 PPG computaram nota 4, e 13 PPG a nota 5. Foram 7 PPG com nota 6, e 3 programas com nota 7. A área concentra um percentual de 26% de seus programas que oferecem cursos de doutorado com notas 6 e 7, acima do percentual médio, considerando todas as áreas de conhecimento (21%). Dos 35 PPG ranqueados na nota 3, 14 deles iniciaram seu funcionamento a partir de 2014 e não tiveram tempo suficiente para um ciclo de avaliação completo tendo, portanto, mantido a nota obtida quando de sua abertura. O gráfico abaixo traz a distribuição das notas pelos tipos de programa: com mestrado acadêmico (ME) e doutorado (DO), só doutorado, só mestrado acadêmico, e só mestrado profissional (MP).
Acesse aqui à apresentação de Guilherme Werneck, em formato PDF.
O segundo dia da reunião do Fórum abordou a translação do conhecimento científico na pesquisa em Saúde Pública, através das abordagens de Maria do Carmo Leal – professora de Epidemiologia nos cursos de pós-graduação da Escola Nacional de Saúde Pública / Fiocruz; e ainda do professor Luis Eugenio Souza, do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, presidente da Abrasco na gestão 2012 – 2015 e atual coordenador do Comitê de Ciência e Tecnologia da Associação.
A translação do conhecimento consiste na troca e aplicação do conhecimento com vistas a potencializar os benefícios decorrentes de inovações para fortalecer sistemas de saúde e a melhoria da saúde das populações. O conceito refere-se ao entendimento de que não basta haver conhecimento novo ou sua divulgação, sendo necessário promover sua utilização, na prática.
Em sua apresentação, o professor Luis Eugenio trouxe o conceito de inovação como formulado por Joseph Schumpeter, uma mola propulsora da economia no sistema capitalista que dispara uma complexa relação entre produção e destruição. Eugenio falou ainda da relevância do conhecimento científico para o cuidado e a gestão de saúde, dos obstáculos à sua utilização e à inovação e questionou: – Como melhorar a utilização e a inovação? “Para responder a esta questão, falarei aqui sobre a revisão de conceitos chave relativos ao uso de conhecimento e à inovação e sobre a identificação de fatores intervenientes”, introduziu Eugenio.
Acesse aqui à apresentação de Luis Eugenio Souza, em formato PDF.
Assista aqui à íntegra da apresentação de Luis Eugemio Souza, em vídeo.
A abordagem de translação da pesquisadora Maria do Carmo Leal permeou a pesquisa Nascer no Brasil, por ela coordenada e que revelou um Brasil recordista mundial em cesarianas, e os índices são ainda mais alarmantes no setor privado, com 88% dos nascimentos. Maria do Carmo mostrou os aspectos metodológicos da amostra, a criação de um algoritmo para cálculo da idade gestacional e estimação da mortalidade materna; resultados sobre a assistência pré-natal; decisão sobre a via de parto; intervenções sobre as parturientes e recém-nascidos de risco habitual; tipo de parto nas adolescentes; entre outros. Através de um panorama do parto e nascimento no Brasil para a sociedade, a pesquisadora mostrou como se deu a sensibilização de profissionais, gestores, gestantes e seus familiares para a necessidade de mudanças no atual modelo de atenção obstétrica.
Acesse aqui à apresentação de Duca Leal, em formato PDF
Assista aqui à íntegra da apresentação de Duca Leal, em vídeo.
Por fim, a plenária final aprovou o pesquisador Sérgio William Viana Peixoto, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Fiocruz Minas, para compor a coordenação do Fórum, no lugar da pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz, Silvana Granado – “ É, sem dúvida, um espaço de muito aprendizado, onde temos a oportunidade de conhecer o trabalho das várias instituições que atuam na área. E é também um lugar em que se discutem os rumos da área, o sistema de ensino, a inserção no mercado e o contexto político. O fórum também tem o papel importante de dialogar com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes, propondo, por exemplo, indicadores para o sistema de avaliação”, explica Sérgio, que terá um mandato de três anos na coordenação do fórum, e que integrará o grupo formado atualmente pelo professor Adauto Emerich, da UFES, e pela professora Mônica Angelim, da UFBA.
Sérgio frisa ainda que “Houve discussão e consenso na indicação dos nomes para compor a lista de candidatos à Coordenação de Área da Capes; o grupo discutiu sobre esse aspecto e acordou alguns nomes que subsidiariam as discussões e decisões internas de cada programa para fazer as indicações à Capes como uma proposta do Fórum”.
O GT de Avaliação apresentou durante o encontro, o consolidado das propostas discutidas no âmbito do Fórum de Coordenadores da Abrasco no período de 2011 a 2017, fazendo um paralelo com o Relatório de Avaliação 2013-2016 da área de Saúde Coletiva.
Acesse aqui a apresentação do GT Avaliação do Fórum
Atualmente 78 programas compõem o Fórum da Abrasco, que reúne coordenadores dos Programas de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Brasil. O grupo se encontra duas vezes ao ano, o próximo encontro será em São Paulo, na segunda quinzena de maio.