O município de Lagarto, em Sergipe, vai acolher a segunda edição do Congresso Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde e o quarto Encontro Nordestino de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, que acontecerão simultaneamente. Pesquisadores, estudantes, movimentos sociais, professores, trabalhadores e usuários se reunirão de 14 a 17 de novembro para aprofundar o debate em torno do uso das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde – como yoga, acupuntura e auriculoterapia – vem crescendo a cada ano no SUS, como complemento de tratamentos em saúde.
A Abrasco, uma das apoiadoras do evento, ouviu Marilene Cabral do Nascimento, pesquisadora do Grupo Temático Racionalidades Médicas e Práticas Integrativas Complementares, e membro da Comissão Científica do Congresso, sobre os temas das conferências e a apresentação dinâmica de trabalhos científicos.
Abrasco – qual o tema escolhido para a conferência de abertura deste 2ª CongrePICS?
Marilene – A professora Madel Luz abordará a Solidariedade, democracia e saúde: contribuições das PICS na abertura do Congresso. As PICS, em sua maioria, compartilham uma epistemologia em saúde que permite alargar a percepção e o cuidado, não apenas do adoecimento, mas sobretudo da pessoa adoecida. Esta epistemologia considera o corpo em continuidade à subjetividade expressa nas interações de cada pessoa, nos campos social e natural, o que favorece um acolhimento e cuidado ampliados, além de estimular o autocuidado assistido. Práticas terapêuticas como a Terapia Comunitária e Integrativa, a meditação e a ioga, por exemplo, contribuem para o autoconhecimento e o autocuidado, aliviam o estresse e o sofrimento, favorecem a prevenção do adoecimento e a promoção do bem estar e da saúde. As medicinas homeopática, ayurvédica, antroposófica e tradicional chinesa, por sua vez, reúnem técnicas terapêuticas para esse acolhimento ampliado e também para o tratamento e cura da pessoa, vista como ser singular.
O acolhimento e a solidariedade presentes no cuidado e estímulo ao autocuidado são intrínsecos à episteme que informa as PICS, para além de uma conduta ética. As práticas integrativas e complementares, como sugere sua denominação, somam com a biomedicina na prevenção do adoecimento, no cuidado e na promoção da saúde. O direito democrático de escolha da orientação terapêutica para o cuidado de si é uma bandeira presente no movimento sanitário e nas conferências de saúde desde 1986, como parte da luta pela redemocratização do país e criação do SUS. A presença das PICS no SUS, oficializada em 2006 pela Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PNPIC), é uma conquista da população e da democracia brasileira.
Outros 97 países membros da OMS têm políticas sobre medicina tradicional e 113 reconhecem a utilização da acupuntura, por exemplo.
Abrasco – e haverá ainda uma conferência sobre as evidências científicas em PICS?
Marilene – Esta será a segunda conferência do CongrePICS, e convidamos um representante da OPAS para ministrá-la. O tema tem crescido no debate nacional e internacional sobre as PICS, que são denominadas pela OMS de Medicinas Tradicionais, Complementares e Integrativas (MTCI). Trata-se de um debate importante, pois contribui para ampliar a validação científica das PICS e MTCI, que se soma a sua ampla validação social, empírica – atestada por um número crescente de pessoas e profissionais de saúde que aderem a sua prática; e de custo-efetividade.
Pesquisadores de diversos países propõem inovações no desenho metodológico de investigações sobre PICS e MTCI que contemplem suas premissas epistemológicas, com destaque para a natureza multidimensional e singular de cada pessoa, o que tem contribuído para ampliar e qualificar as bases do debate. As conferências e as mesas sobre pesquisa científica em PICS, no 2º CongrePICS, serão uma importante oportunidade para aprofundar a reflexão e o debate deste tema.
Abrasco – o Congresso também abordará os saberes tradicionais brasileiros, espiritualidade e saúde?
Marilene – A terceira conferência do 2º CongrePICS abordará um segmento das práticas e tradições em saúde que não estão contempladas na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, mas estão presentes na cultura e prática popular. Trata-se de contribuições da cultura indígena, afro-brasileira e mestiça para o cuidado e a saúde, enquanto tradições vivas nas diferentes regiões do país. A proposta é dar voz a essas tradições e expressões populares, que contemplam em sua maioria um importante componente espiritual para pensar e lidar
com o corpo, as emoções, a saúde e a cura, e têm despertado interesse de pesquisa no Brasil e em outros países.
Abrasco – pode detalhar um pouco como será a apresentação dinâmica de trabalhos científicos em formato a favorecer a interatividade?
Marilene – Além de conferências e mesas com convidados, haverá apresentação de resultados de pesquisa e relatos de experiência por pesquisadores, profissionais de saúde e representantes de movimentos sociais, no formato de comunicação oral, poster dialogado e outras linguagens (teatro, vídeo, performance etc). Os trabalhos estarão distribuídos em 6 grandes eixos: I – PICS na atenção à saúde, II – Gestão e informação em PICS, III – Ensino e formação em PICS, IV – Pesquisa e evidência científica em PICS, V – Áreas de interface das PICS, e VI – Saberes tradicionais brasileiros e espiritualidade em PICS. Antes de cada turno de trabalho haverá um intervalo de vivência prática com diferentes PICS e técnicas de relaxamento e focalização. Teremos também um espaço de cuidado, com profissionais de saúde ofertando PICS. E ainda uma programação cultural, para celebrar a vida com arte e tempero nordestinos.
O prazo para submissão de trabalhos foi alterado para 18 de agosto. Acesse o site do evento para inscrever-se e obter mais informações.
II CongrePICS e IV PICSNE
Data: De 14 a 17 de novembro
Local: Lagarto – Sergipe