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Use o SUS e troque de carro – artigo de Roberto Cooper

Vilma Reis

Faça as contas: multiplique o valor mensal do seu plano de saúde por 12 meses e, a seguir, por cinco anos. Veja se o valor obtido não é suficiente para comprar um carro zero. Portanto, se você, em vez de pagar um plano de saúde, fosse usuário do Sistema Único de Saúde (SUS), trocaria de carro a cada cinco anos. Se você não se liga em carros, poderia planejar férias para lugares mais distantes. Se você também não gosta de viajar, poderia, simplesmente, poupar esse dinheiro. Quem paga o plano é a sua empresa? Neste caso, ela, não tendo que pagar o plano, poderia lhe dar um aumento de salário. O fato é que, se você fosse cliente do SUS, teria mais dinheiro.

Então, por que não passar a usar os serviços do sistema? Sua primeira resposta seria, provavelmente, porque não funcionam a contento. Uma resposta indiscutivelmente certa. Para sermos honestos, os serviços privados, pagos pelos planos de saúde, também não funcionam a contento. Basta ver o número de reclamações que o Procon recebe relativas a planos de saúde. Mesmo não funcionando a contento, parecem ser melhores do que o que o SUS oferece.

E por que o sistema não funciona? Será que é porque, conceitualmente, ele está errado? Se você tiver a curiosidade de se informar sobre o modelo do SUS, verá que ele é muito bom. Um sistema único de saúde que se propõe a ser universal (para todos) — descentralizado, regionalizado, portanto com maior conhecimento das necessidades de saúde das pessoas daquela região, oferecendo atendimento integral, da prevenção à reabilitação, passando por diagnóstico precoce e tratamento, organizado em rede hierarquizada, significando que a porta de entrada para o sistema é o médico generalista (e não o hospital sofisticado) — lhe parece conceitualmente equivocado? Mais, um sistema com esse desenho tem, embutido nele, o sonho de qualquer gestor: eficiência e redução de custos. Se o SUS é essa maravilha toda, por que não funciona?

Certamente porque é mal gerenciado. Porque existem problemas na relação entre os governos federal, estaduais e municipais. Porque um sistema que está baseado na municipalização em um país onde 90% dos municípios têm menos de 50 mil habitantes obrigaria a um pacto intermunicipal inviável de ser conseguido por conta de disputas políticas. Porque os profissionais de saúde ainda são formados com uma visão de ultraespecialistas e o generalista não é valorizado. Não faltam porquês para explicar o mau funcionamento do SUS. Mas existe outro porquê, sobre o qual pouco se fala.

O sistema não funciona porque uma boa parcela da população pensa que é para os mais pobres. Tanto isso é verdade que a aspiração das pessoas é ter um plano de saúde, e não um SUS que funcione. Aqueles que, historicamente, sempre tiveram plano de saúde sequer imaginam que poderiam ser clientes do sistema. Enquanto pensarmos que o SUS é para atender os mais pobres, não vamos ter um sistema de qualidade. É preciso que cada um de nós se convença de que não só poderia estar recebendo uma assistência de alta qualidade como, ao deixar de pagar o plano, ter mais dinheiro no bolso.

Utopia? Sonho? Os ingleses não acham que seja sonho ou utopia. Acham que o National Health System (NHS) deles é motivo de orgulho. Tanto que fez parte de um dos aspectos da cultura inglesa que quiseram mostrar ao mundo, na abertura dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012. Enquanto isso, imaginar o SUS como parte da apresentação da abertura dos nossos Jogos Olímpicos nos faz rir. Deveria nos fazer pensar que, se cada um de nós que tem plano começasse a alimentar a ideia de que um sistema único de saúde é algo viável e bom para todos, quem sabe quando as Olimpíadas voltarem a ser no Rio, poderemos apresentar o SUS? Só depende de nós.

(Roberto Cooper é médico pediatra)

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