O Núcleo de Estudos sobre Violência da Fiocruz trabalha com um conceito ampliado de saúde, que não é só a ausência de doença, mas um estado geral de bem-estar físico e emocional. Uma das pesquisas desenvolvidas está relacionada abaixo e as coordenadoras do Núcleo, Cecilia Mynaio e Edinilsa Ramos são fontes muito importantes nesta matéria, podendo situar a extensão do problema no Brasil e apresentar dados. Há “n” estudos sobre a violência interferindo direto na saúde, que foram apresentados no 11º Congresso Mundial de Saúde Pública e 8º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva.
Outro ponto interessante é a questão dos impactos da violência no sistema de saúde. Nos hospitais, os ferimentos provocados em vítimas, reorientaram a atuação dos médicos em situações de emergência. No congresso, do especialista Seggane Musisi (Uganda), conhecido mundialmente pelas pesquisas que realiza sobre as seqüelas psicossociais e de saúde nas vítimas de violência e de situações de conflitos armados, fará uma importante apresentação.
Trauma e violência: desafios para a Saúde Pública
A violência nas grandes cidades tem limitado o exercício da cidadania dos seus habitantes, terminando por coibir um dos seus direitos fundamentais, de ir e vir. Áreas historicamente abandonadas pelo poder público, como as favelas têm sido penalizadas múltiplas vezes. Ao mesmo tempo em que as propostas neoliberais avançam apontando para a inevitabilidade de injustiças sociais, observa-se a assimetria entre o crescimento do desejo de inclusão dos pobres na sociedade de consumo e as possibilidades de se fazê-lo. A relação perversa entre o aprofundamento dos níveis de pobreza, a aumento da expectativa de consumo, a crise dos mecanismos de controle social tradicional, a densificação da habitação em comunidades, a falta de perspectiva de futuro para muitos jovens das classes populares e a facilidade para o mercado local de drogas, são alguns dos fatores que geram, fomentam e facilitam a violência.
O presente trabalho discute informações acerca da relação entre violência e saúde através dos resultados de uma pesquisa em curso na zona da Leopoldina, no âmbito da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, chamada Vigilância Civil da Saúde na Atenção Básica- uma proposta de Ouvidoria Coletiva na A.P. 3.1, Rio de Janeiro.
Seu principal objetivo é organizar um sistema de vigilância capaz de identificar os problemas de saúde da população e os recursos que ela encontra para enfrentá-los. São discutidas questões como: o acesso a alimentos pela população, as expressões do sofrimento, o acesso aos serviços de saúde; a freqüência de morte ou morbidade por causas externas e as iniciativas da população em busca de soluções para os seus problemas.
Os resultados apontam para um quadro complicado de condições de vida e saúde. A questão da violência nos complexos de favelas foi bastante levantada. Algumas áreas pertencentes à pesquisa são chamadas pela mídia de “faixa de Gaza” e “corredor do medo”. Os serviços de saúde superlotam com conseqüências de horas de tiroteio no interior das comunidades. Os profissionais de serviços públicos encontram dificuldade em lidar com os parâmetros de sucesso e bem-estar dos jovens dessas comunidades.
Nesta pesquisa a categoria predominante tem sido impasse, seguida de carência. Mesmo assim, cabe ressaltar que já é possível vislumbrar contribuições na formulação de políticas públicas em saúde e educação para a região.
Traumas da Violência no Rio de Janeiro em Foco
Mais de 60 países no mundo são atingidos atualmente por guerras e conflitos impulsionados pelo comércio internacional de armas de pequeno calibre. Especialistas dizem que guerras e situações de violência e intenso estresse – como a ameaça de bioterrorismo e a violência sexual dirigida às mulheres em épocas de conflitos armados – vêm criando uma legião de pessoas com problemas mentais e de saúde.
Os traumas ligados à violência, especialmente aqueles vividos durante as guerras civis, serão um dos destaques da palestra do psiquiatra Seggane Musisi, Makerere Medical School (Mulago Hospital – Uganda) no 11ª Congresso Mundial de Saúde Pública, que começa no próximo dia 21 no Rio de Janeiro (Riocentro), com a apresentação de mais de nove mil trabalhos científicos. O especialista é conhecido mundialmente pelas pesquisas que realiza sobre as seqüelas psicossociais e de saúde nas vítimas de violência e de situações de conflitos armados. No Brasil, Musisi, que deverá chegar ao Rio de Janeiro neste final de semana, terá muito assunto para futuros estudos em sua área de conhecimento.