“O Brasil poderia ter iniciado 2021 com 316 milhões de doses, suficientes para vacinar 78% da população brasileira. Mas em 2020 o governo federal recusou encomendar 200 milhões de doses da Covax, não negociou com a Pfizer” afirmou Ligia Kerr (UFC), vice-presidente da Abrasco, na abertura do colóquio Desafios atuais na campanha de vacinação contra a Covid-19 no Brasil, em 28 de setembro. Kerr abordou o histórico de ações do governo federal na construção de um Plano Nacional de Vacinação contra a Covid-19 no Brasil.
“Em maio de 2020 a Abrasco já estava falando sobre vacina, sobre quebra de patentes. Nós tivemos um papel, enquanto entidade científica, importante na vacinação. O governo só volta atrás quando há pressão”, afirmou Gulnar Azevedo, ex-presidente da Associação e uma das debatedoras do evento. José Cássio de Moraes, da Comissão de Epidemiologia da Abrasco, complementou: “A Abrasco teve uma liderança muito importante para pressionar, a fim de que houvesse uma campanha de vacinação baseada na ciência”.
Além de Ligia Kerr, participaram como expositores Guilherme Werneck (UFRJ e UERJ) e Ethel Maciel (UFES), epidemiologistas. Segundo Werneck, o plano de imunização pra Covid-19 no Brasil nasceu errado, porque “as negociações das compras e produção das vacinas foram motivadas por interesses político-econômicos, não pela saúde da população”.
Ethel criticou a falta de testagem, já que não é possível rastrear os casos adequadamente: “Não conseguimos saber quantas pessoas doentes temos. O percentual de amostras recebidas nos estados estão menores, porque as pessoas estão procurando menos as unidades de saúde, a delta parece uma gripe leve. E não é fácil testar”.
O colóquio foi coordenado por Anaclaudia Fassa (UFPel), e participaram Ana Brito (Fiocruz/PE), Antonio Boing (UFSC), Bernadete Perez (UFPE), Claudio Maierovitch (Fiocruz Brasília), Reinaldo Guimarães (NUBEA/UFRJ).
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