A convite do Ministério Público Federal no Estado de Goiás (MPF-GO), a Abrasco fará uma visita técnica à cidade de Rio Verde, no sudoeste goiano, para levantar os problemas de saúde e riscos ambientais causados pela pulverização aérea do agrotóxico Engeo Pleno que atingiu a Escola Rural São José do Pontal, no assentamento Pontal dos Buritis, e causou a intoxicação de alunos e professores em 03 de maio deste ano. A comissão é composta pelos abrasquianos Wanderlei Pignati, professor-doutor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Lia Giraldo, professora aposentada da Universidade de Pernambuco (UPE-PB) e por Karen Friedrich, doutora em Saúde Pública na área de toxologia e pesquisadora do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS-Fiocruz), participantes do grupo de diálogos e convergências da Abrasco e co-autores do dossiê Abrasco sobre o uso de agrotóxicos.
A avaliação sanitária-ambiental será feita em conjunto com as secretarias estaduais de saúde e de educação do estado e por professores da Universidade Federal de Goiás (UFG) e demais instituições locais de ensino. Os profissionais discutirão os prontuários médicos das internações de mais de 40 alunos e professores diretamente expostos ao pesticida, além de coletar material de laboratório e definir formas de monitoramento de possíveis efeitos neurotóxicos e imunológicos de médio e longo prazo dos atingidos. Passados mais de um mês do incidente, diversas crianças retornaram aos postos de saúde locais com sintomas sub-agudos e sub-crônicos como mal estar, náuseas e indícios de intoxicação renal e hepática.
Segundo Karen Friedrich, o caso só reforça a necessidade de se proibir a pulverização aérea. “É um método que não é passível de controle. Basta uma pequena mudança das condições meteorológicas para espalhar qualquer agrotóxico para áreas fora do traçado original, atingindo assim nascentes, outras lavouras e, no caso de Rio Verde, as populações do entorno”.
A pesquisadora relembra ainda que o Engeo Pleno, pesticida produzido pela multinacional Syngenta não tem seu uso autorizado para esta forma de pulverização. “O produto é feito de dois ingredientes, o tiametoxam e a lambda-cialotrina. Apesar de os compostos serem isoladamente testados, a mistura final não passa pelos mesmos testes. Qual é o efeito desses produtos em conjunto? As empresas não fazem esses estudos, o que pode causar problemas de saúde muito maiores do que os pesquisados em cobaias”.
O convite à Abrasco foi feito pelo procurador da República em Rio Verde, Wilson Rocha Assis. “Já estamos em junho e ainda não há definição dos procedimentos e cautelas que se devem tomar para assegurar o direito à saúde dos atingidos. Tenho esperança que a visita técnica dos pesquisadores e o contato direto com a comunidade e demais órgãos públicos locais possam contribuir para um diagnóstico mais seguro dos possíveis problemas que possam decorrer”, explica Assis. O inquérito civil já foi aberto e o laudo final dos pesquisadores irá compor os autos. “Caso seja constatado dano ao meio ambiente e/ou à saúde da comunidade, o MPF-GO promoverá todas as medidas cabíveis, tanto da reparação do dano como a punição civil e penal dos responsáveis”, afirma o procurador.
A data da visita será definida nos próximos dias. “Esta é uma importante ação a ser desenvolvida pela Abrasco, pois é uma intervenção prática de nossa associação num acidente de proporções nacionais. Após a avaliação, teremos ainda mais instrumentos para propormos políticas de saúde, tanto humana quanto ambiental, para que o Brasil exerça de fato o desenvolvimento sustentável no campo, algo que infelizmente não tem sido feito pelo agronegócio de nosso país”, define o professor-doutor Wanderlei Pignati.