Reunidos na manhã desta sexta-feira, representantes das comunidades científica, acadêmica e associações relacionadas à Fundação Oswaldo Cruz fizeram um ato de desagravo à prisão de Paulo Roberto de Abreu Bruno, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) retido durante a manifestação do Dia do Professor realizada em 15 de outubro, na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro, e fortemente reprimida pela Polícia Militar.
Desde a tarde de quarta-feira, 16, quando oficialmente informada da detenção, pesquisadores, alunos e funcionários da Fundação estão mobilizados e acompanhando a situação. O pesquisador vem cobrindo as manifestações públicas desde o início das jornadas de junho. O ato de sexta foi aberto por Paulo Garrido, presidente da Associação de Funcionários da Fiocruz (Asfoc), que anunciou a garantia do relaxamento da prisão de Paulo Bruno e as articulações com lideranças nacionais e parlamentares para evitar qualquer tipo de transferência. “Reafirmamos a luta em prol dos direitos da população que vem sendo agredida e desrespeitada nas suas manifestações”, avalia Garrido.
Na sequência, Jorge da Hora, diretor jurídico da Asfoc, informou que a liberação e soltura foram acatadas pela juíza da 35ª Vara Criminal e que faltavam apenas trâmites burocráticos para a saída do pesquisador do Centro de Custódia de São Gonçalo. “Na hora que a porta for aberta, estaremos lá para receber nosso companheiro e trazê-lo de volta à comunidade”. A mesma magistrada estendeu o benefício a outros 19 profissionais da Educação que também estão detidos na mesma unidade.
Presente ao ato, Paulo Gadelha, presidente da Fiocruz destacou a gravidade da situação. “A proximidade de alguém que conhecemos e que se encontra nesta situação aflora em nós o sentido de urgência e de respeito ao direito de manifestação, ao exercício do trabalho, da reflexão e do compromisso com o movimento social. Estamos trabalhando para que este caso seja resolvido, protegida sua integridade, e que seja um incentivo à mobilização e que torne esta instituição um dos agentes centrais para repensar e propor que a democracia seja respeitada em nosso país”. Gadelha frisou ainda os casos de violência institucional enfrentados atualmente no país e a necessidade de discuti-los e intervir nesse processo.
Hermano Castro, diretor da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) falou em seguida. “Não estamos em defesa de apenas um pesquisador ou manifestante, mas em defesa da democracia. É preciso acabar com a forma truculenta e autoritária que as autoridades impõem à população quando tentam se manifestar, achávamos que era passado, mas não é”.
Os professores destacaram também o comprometimento da Fundação e da ENSP com o esclarecimento da morte do jovem Paulo Roberto Pinho, falecido durante a ronda de policiais da UPP de Manguinhos dentro da comunidade na noite de quarta-feira, 16.
“Não é para trocar a violência do bandido ou daquele que está causando dano à sociedade por uma violência armada com carterinha oficial do Estado. Queremos uma investigação completa no processo da morte do jovem Paulo Roberto Pinho. É preciso fortalecer os instrumentos sociais e de defesa da comunidade, esse é o nosso papel”, lembrou Hermano.
Representante da diretoria da Abrasco, Thiago Barreto, secretário-executivo adjunto da entidade, expressou a solidariedade da Associação não somente com o pesquisador Paulo Bruno, mas com toda a comunidade da Ensp e da Fiocruz. “Esse movimento foi importante para garantir a liberação do pesquisador, pois sem a mobilização e a visibilidade pública do abuso dessa prisão teríamos mais dificuldades para conseguir a liberação de nosso companheiro”.
Barreto destacou ainda o compromisso da entidade com o direito de liberdade de manifestação e contrário ao crescente cerceamento da mesma no Estado do Rio de Janeiro. “No nosso último congresso de política, planejamento e gestão em saúde, a plenária final aprovou uma moção de solidariedade aos profissionais de educação do município e do estado que tinham acabado de sofrer uma brutal repressão da polícia militar. Passaram-se poucas semanas, e uma nova forte repressão à manifestação popular aconteceu em nossa cidade. A Abrasco não se calará e está empenhada a mobilizar a comunidade da saúde coletiva brasileira em defesa dos direitos tão duramente conquistado em muitas lutas e por gerações de brasileiros”. Ao final do ato, o Fórum de Estudantes da Fiocruz seguiu para a Associação de Moradores de Manguinhos para acompanhar o velório do jovem enquanto representantes da Asfoc dirigiram-se ao Centro de Custódia aguardar a liberação de Paulo Bruno. O pesquisador é esperado na Ensp ainda na tarde desta sexta-feira. (fotografia de Guilherme Kanno/ENSP)
Assista ao vídeo com a participação da Abrasco no Ato da ENSP