Não há uso seguro de agrotóxicos. Quantidades muito pequenas dos químicos – na água, nos alimentos e no ar – já são suficientes para causar câncer, mutações no DNA, alterações hormonais e reprodutivas, malformação fetal, danos nos sistemas endócrino, neurológico, imunológico, e respiratório. O impacto do uso de agrotóxicos foi tema de uma audiência na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, no dia 8 de novembro, com participação da Abrasco.
O Centro de Derechos Reproductivos levou importantes evidências sobre o uso de venenos na América Latina , com ênfase no Brasil, Argentina e Colômbia. A organização afirma que 51% de todo agrotóxico utilizado em 2020 foi aplicado nesta região: “No Brasil, 30% dos agrotóxicos utilizados são proibidos na União Européia, e estima-se que 15549 pessoas foram intoxicadas por agrotóxicos entre 2019 e 2022. Pelo menos 439 dessas pessoas vieram a óbito”.
Márcia Sarpa, integrante do GT Saúde e Ambiente da Abrasco e pesquisadora do INCA, representou a associação na audiência. Ela destacou que 54,5% da água da chuva, em municípios brasileiros com grande produção agrícola, apresenta pelo menos um tipo de agrotóxico. A presença de agrotóxicos também é observada no ar, e a exposição química afeta os trabalhadores rurais, as pessoas que moram perto das lavouras, e os consumidores dos alimentos contaminados.
Sarpa explicou que a intoxicação aguda pode causar sintomas como dores de cabeça, convulsões, coma e morte, enquanto a intoxicação crônica está associada a patologias, danos genéticos, câncer e desregulação hormonal. Ela destacou o impacto direto no sistema reprodutivo e endócrino, com efeitos adversos que incluem infertilidade, câncer de mama e complicações durante a gestação: há risco de prematuridade, baixo peso ao nascer, atraso de crescimento intrauterino e má formação congênita.
“É evidente que a exposição a agrotóxicos não apenas representa uma ameaça à saúde individual, mas também gera impactos em comunidades inteiras. A vulnerabilidade de grupos específicos, como mulheres grávidas e crianças em áreas rurais, destaca a necessidade urgente de reduzir o consumo de agrotóxicos na América Latina, é fundamental para mitigar os riscos e preservar a saúde ambiental e humana”, declarou a pesquisadora.
A audiência pública foi uma articulação do Centro de Derechos Reproductivos, a Abrasco, a Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e Pela Vida, Terra de Direitos, Instituto Preservar, Fosfeminista, e outras organizações.
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