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Agência Brasil relembra caso Rio Verde e abrasquianos criticam pulverização aérea

Bruno C. Dias com informações da Agência Brasil

O debate da pulverização aérea reaberto pela sanção do vice-presidente Michel Temer em função interina não precisa de novas evidências criminosas, pois elas já existem: aconteceram em 2006, em Lucas do Rio Verde, no estado do Mato Grosso, e novamente em 2013, quando uma aeronave despejou agrotóxico nas proximidades de uma escola rural no Assentamento Pontal dos Buritis, às margens da GO-174, em Rio Verde, em Goiás, levando à intoxicação de 40 pessoas, entre crianças e professores. Na época, a Abrasco foi convidada por Wilson Assis Rocha, procurador do Ministério Público Federal em Goiás, para compor a visita técnica de avaliação das condições sanitárias e ambientais do local. O parecer da Abrasco levou a um grande debate científico, travado às claras pelo campo da Saúde Coletiva, ao contrário da forma tratada pelos defensores da indústria química e do agronegócio.

Ambos os fatos foram retomados na matéria Pulverização aérea de agrotóxico provoca danos persistentes, dizem especialistas, publicada no último sábado, 16 de julho, pela Agência Brasil. A reportagem de Edwirges Nogueira ouviu Raquel Rigotto, docente do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (DSC/FM/UFC) e integrante do Conselho Diretivo da Abrasco, e Wanderlei Pignati, professor-pesquisador do Núcleo de Estudos Ambientais e Saúde do Trabalhador da Universidade Federal do Mato Grosso (NEAST/UFMT) e também associado à Abrasco. Recentemente, Pignati gravou uma contundente declaração sobre o perigo da medida.

Confira:
+ Nota da Abrasco contra pulverização aérea de inseticidas para controle de vetores
+ Temer sanciona pulverização de agrotóxicos em áreas urbanas
+ Marcelo Firpo fala à Agência Brasil sobre a pulverização aérea
Nelson Gouveia e Luiz Claudio Meirelles falam à imprensa sobre as pulverizações

Na matéria, eles destacam os risco que a disseminação da prática pode trazer caso for adotada em larga escala, fazendo dos incidentes goianos uma constante na saúde pública brasileira. A edição do texto é de Lílian Beraldo. Leia abaixo na íntegra ou acesse na publicação original.

Pulverização aérea de agrotóxico provoca danos persistentes, dizem especialistas

Em 2006, uma nuvem tóxica oriunda da pulverização aérea em plantações de soja chegou à área urbana e provocou intoxicação aguda em crianças e idosos de Lucas do Rio Verde (MT). Já em 2013, quase 100 pessoas, entre professores e alunos, tiveram intoxicação depois que um avião jogou defensivos agrícolas sobre uma escola de Rio Verde (GO).

O professor do Núcleo de Estudos Ambientais e Saúde do Trabalhador da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Wanderlei Pignati, que participou da perícia dos dois casos, acredita que a poluição causada por agrotóxicos pode ser considerada intencional, uma vez que, para atingir o alvo, afeta também o solo e a água.

“Não é acidente. O avião passa ao lado e, de qualquer jeito, o vento vai levar para um lado ou para outro. Essa história de que o vento não leva o veneno para outro lugar fere os princípios da aviação, inclusive, pois se o vento estiver parado, o avião nem levanta voo”, disse o especialista durante uma palestra na Assembleia Legislativa do Ceará, em Fortaleza, em maio deste ano.

Um dos principais argumentos contra a pulverização aérea é a chamada deriva, quando a aplicação de defensivo agrícola não atinge o local desejado e se espalha para outras áreas. O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Aldemir Chaim, no artigo Tecnologia de aplicação de agrotóxicos, de 2004, declara que a aplicação de agrotóxicos no século atual não é muito diferente da forma como era praticada no século passado. A principal característica dessa aplicação é o desperdício de produto químico.

Em 1999, Chaim e outros pesquisadores desenvolveram uma forma de quantificar esse desperdício em diferentes formas de aplicação de agrotóxicos. Dependendo da altura das plantas, apenas metade do produto aplicado atinge o alvo. O restante cai no solo ou se perde pela deriva. Em 2013, a Embrapa desenvolveu o Programa Gotas, um software que ajuda na calibração das pulverizações.

Segundo Pignati, no caso da pulverização aérea, a deriva pode atingir áreas mais distantes devido ao espaço entre o alvo e o avião: quanto mais alto a aeronave estiver da lavoura que receberá os defensivos, maior será a deriva por conta da ação do vento.

A professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) Raquel Rigotto participou de um estudo que identificou princípios ativos de agrotóxicos no solo da região da Chapada do Apodi – uma das áreas mais ocupadas pelo agronegócio no Ceará. Segundo a especialista, as substâncias encontradas – difenoconazol e epoxiconazol – são muito tóxicas: o difenoconazol, por exemplo, pode comprometer seriamente o fígado e é tido como possível causador de câncer, segundo classificação da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês).

A especialista acredita que as substâncias podem chegar até mesmo às cisternas que abastecem as casas durante a seca.Também foram encontrados princípios ativos de agrotóxicos no aquífero Jandaíra, localizado entre o Ceará e o Rio Grande do Norte. As águas subterrâneas são usadas tanto pelo setor produtivo como pelas populações dos oito municípios cearenses, incluindo Limoeiro do Norte, e potiguares que abrangem o aquífero.

“Esses contaminantes são transportados pelo vento, podem se depositar no telhado das casas e, quando vem a chuva, ela lava os telhados e é essa a água que as calhas recolhe e se dirige para as cisternas. Temos uma preocupação muito grande se essas águas, que muitas vezes garantem o abastecimento hídrico das famílias nos períodos de seca, podem também estar contaminadas com esses produtos”, indaga Raquel.

Leia também:
Nota conjunta Conass/Conasems
Nota informativa sobre pulverização aérea e o controle de endemias do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde
Nota do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea)

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