Analítica, crítica e, ao mesmo tempo, extremamente produtiva. A área da Saúde Coletiva consolida sua força como campo produtor de conhecimento, tendo à frente a revista Ciência & Saúde Coletiva, publicada pela Abrasco. A C&SC atingiu o topo do ranking do Google Acadêmico (também conhecido como Google Scholar, na versão em inglês) entre os periódicos científicos editados em língua portuguesa, seguida das parceiras Revista de Saúde Pública, editada pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP), e pela Cadernos de Saúde Pública, editada pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz). Além de fechar o pódio, demais revistas do campo organizadas no Fórum de Editores de revistas em Saúde Coletiva estão entre as 50 publicações com maior relevância, com postos alcançados na nona colocação (Saúde e Sociedade); 12ª (Revista Brasileira de Epidemiologia – RBE); 20ª (Interface – Comunicação, Saúde e Educação); 33ª (Revista de Epidemiologia e Serviços de Saúde – RESS), e 42ª (Physis). O novo ranking foi divulgado na quarta-feira, 20 de julho, e cobre os artigos publicados entre 2011 e 2015.
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Consolidação e fortalecimento: Em 2013, a Ciência & Saúde Coletiva havia alcançado o segundo lugar no ranking. Nesta atualização agora divulgada, houve uma troca de posições: subiram a C&SC e a RSP para o primeiro e segundo lugares, respectivamente. A CSP, antes em primeiro, passou para a terceira colocação. Para Cecília Minayo, editora cientifica da C&SC, atingir o topo do ranking é o resultado do trabalho de toda uma equipe ao longo do tempo e do espaço vividos e percorridos nos últimos 20 anos, celebrados em meio ao 11º Abrascão, no ano passado.
“Temos a contribuição inestimável dos comitês editoriais e dos colaboradores que publicam na revista, um valor reconhecido pelo presidente do SciELO, o professor Rogério Meneghini, que aponta a Saúde Coletiva como responsável pelo crescimento do país no ranking mundial da produção científica. Vamos continuar trabalhando para ver se a gente não cai”, brinca Cecília. A pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) e ex-presidente da Abrasco ressalta que tal mérito precisa ser reconhecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) neste momento em que se prepara a revisão dos critérios do Qualis Capes. “É grande a expectativa que esse êxito seja abraçado pelas agências científicas brasileiras”, completa a editora, que divide a função com Romeu Gomes, pesquisador do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz).
O Brasil no cenário científico internacional: Como todo o ranking e todo índice de mensuração, o ranking do Google Acadêmico e o índice H têm suas qualidades e limitações. O serviço dedicado à produção científica do maior motor de busca do planeta foi lançado em 2004 e passou a oferecer resultados em língua portuguesa a partir de 2006. Para uniformizar a mensuração, tomou como métrica o Índice H, criado em 2005 pelo físico Jorge E. Hirsch, e também utilizado por outras bases, como a Web of Science. Este indicador representa o maior número de citações com maior ou igual número de citações por artigo único em um determinado intervalo de tempo. No caso do Google Acadêmico, o intervalo de mensuração é de cinco anos (por isso,o nome H5). Já a mediana H5 é uma medida da distribuição de citações entre os artigos de maior citação, que compõem o H-núcleo. Estão excluídos dos cruzamentos citações feitas em livros, dissertações e monografias e não compõem base de análise publicações com menos de 100 artigos ao ano e/ou que não tenham citação em outras revistas.
O sistema permite e produz listagens por idiomas e áreas temáticas. As publicações em português, dominadas por periódicos editados nas universidades brasileiras, possuem índices próximos aos das publicações editadas em chinês e em espanhol, e bem acima aos das demais línguas, como o francês, o russo, o ucraniano e o coreano. São dados que ressaltam a qualidade de produção cientifica da Saúde Coletiva brasileira, na opinião de Leila Posenato Garcia, editora da RESS. “O ranking do Google Acadêmico é importante, pois divulga esse recorte das publicações científicas em português que, assim como as demais publicações com idiomas distintos do inglês, não se destacam nos rankings mais tradicionais, como o JCR (Journal Citation Reports, da Thomson Reuters) e o SJR (Scientific Journal Rankings, da Scimago)”.
Ela destaca também o posicionamento do Fórum de Editores de revistas em Saúde Coletiva em defender a manutenção das publicações em língua portuguesa. “A internacionalização é necessária para dar mais visibilidade aos periódicos. Entretanto, outros aspectos devem ser considerados, como a publicação em outros idiomas, a exemplo do espanhol, e a participação – em proporções aceitáveis – de autores e revisores de instituições estrangeiras no corpo editorial dos periódicos nacionais, permitindo a manutenção das características da produção da área no Brasil, fortemente atrelada aos serviços de saúde e ao Sistema Único de Saúde (SUS)”.
Assim como Cecília Minayo, Leila Posenato Garcia aponta a necessidade de maior reconhecimento das publicações nacionais por meio do Qualis Capes, que se pauta majoritariamente nos indicadores das bases de dados internacionais e em língua estrangeira. “Essas bases são negócios bilionários, que destacam periódicos publicados em inglês e vinculados a grandes editoras comerciais. Nesse sentido, a revisão dos critérios do Qualis Capes Saúde Coletiva para valorização dos periódicos indexados na coleção SciELO Saúde Pública é uma boa iniciativa”, ressalta Leila, frisando que são imprescindíveis investimentos financeiros e logísticos para um importante trabalho de aproximação das publicações brasileiras junto às estrangeiras, uma vez que os todos os rankings são produzidos a partir de indicadores de citação entre os periódicos. A ausência desse trabalho por parte da ciência brasileira fica evidente no top 100 mundial do Google Acadêmico, dominado do primeiro ao centésimo lugar por publicações em inglês, sem nenhuma publicação em língua portuguesa. O pódio mundial é formado com as revistas Nature, The New England Journal of Medicine, e Science, respectivamente, em primeiro, segundo e terceiro lugares.