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Agro é tudo? Agro é Tóxico

“Enquanto existir agrotóxico, existirá água contaminada, enquanto existir mineração, teremos água contaminada, e se a água está contaminada, não há peixe. Não é possível falar em soberania e não é possível falar em segurança alimentar se a nossa água virou veneno”. Esse é o depoimento de Tainá Marajoara, moradora de Marajó, no Pará, trazido pela professora da Universidade Federal do Ceará, Raquel Rigotto, na mesa ‘Agro é tudo? Agro é Tóxico’, uma iniciativa conjunta dos Grupos Temáticos de Comunicação e Saúde e também do GT Saúde e Ambiente da Abrasco, realizada no dia 28 de julho, no 12º Abrascão. A Mesa Redonda Agro é Tudo? Agro é Tóxico. Comunicação e resistência na luta contra os agrotóxicos, foi coordenada por Alan Tygel – Campanha Contra os Agrotóxicos e Pela Vida e contou com as exposições de Marina Fasanello – pesquisadora do Núcleo Núcleo Ecologias, Epistemologias e Promoção Emancipatória da Saúde do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana – NEEPES-CESTEH;  Raquel Maria Rigotto – do GT Saúde e Ambiente da Abrasco e Universidade Federal do Ceará e Sílvio Tendler – cineasta.

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Em sua fala, Raquel mostrou como a invisibilização dos efeitos dos agrotóxicos na saúde e no ambiente é um processo ativo de ocultamento, que é necessário para manter o modelo de desenvolvimento, além do reconhecimento de que a comunicação é chave tanto no ocultamento quanto no desvelamento desse processo. “Há um universo de pessoas que nos seus corpos trazem a marca do que o agronegócio é capaz de fazer com os territórios, com os ambientes, com a vida e com a saúde. Essa invisibilização, o fato de as pessoas não saberem disso, ajuda o agronegócio a construir esse discurso de que ele é Pop e a invisibilizar a agricultura familiar”, revelou Raquel, que afirmou que apesar da invisibilidade, ela acredita que o tema dos agrotóxicos tem saído da “bolha” por movimentos sociais, pesquisadores do tema e todos que levantam essa “bandeira” e já é discutido pela sociedade como um todo.

Marina apresentou parte de sua tese de doutorado, que tem como tema ‘O documentário nas lutas emancipatórias dos movimentos sociais do campo no Brasil’. A pesquisadora do NEEPES-CESTEH, que analisou filmes como ‘O Veneno está na mesa’, de Tendler, e ‘Chapada do Apodi, morte e vida’, do cineasta Tiago Carvalho, constatou que, em todos os filmes, a produção da riqueza feita pelo agronegócio encontra-se radicalmente divorciada dos interesses dos que vivem e trabalham nos territórios atingidos por essa agricultura. “Nos documentários, a denúncia técnico-científica alia-se ao afeto ao expressar a indignação de todos pelo sentido do modelo econômico e tecnológico daquela agricultura. Esse aspecto evidente em todos os documentários mostra a potência do cinema para integrar produção de conhecimento e ética, razão e coração, e através disso construir as bases de um conhecimento transformador”, afirmou.

Marina defendeu ainda que documentários engajados possibilitam a criação de novas estratégias comunicacionais e epistemológicas que ajudam, segundo ela, a reaproximar ciência, transformação social e sabedoria.

Por fim, Tendler falou sobre o documentário ‘O veneno está na mesa’, produzido com apoio da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), que traz o relato de especialistas e agricultores sobre agrotóxicos e coloca em xeque o atual modelo de produção de alimentos. “O documentário surgiu quando estive no Uruguai e o escritor Eduardo Galeno me disse que o Brasil era o principal consumidor de agrotóxico do mundo. Voltei com a missão de fazer um filme sobre isso e o lançamento superou as expectativas”, ressaltou Tendler, que contou também o cuidado que teve para que o filme não caísse em nenhuma inverdade:“Foi a presença dos cientistas que deu a credibilidade necessária para dizer à sociedade que “É veneno e mata”. Não foi a presença de artistas, mas sim de pesquisadores que trabalham e que têm como matéria-prima essencial a vida”.

“Arte é militância. Arte é política. Arte é transformação”, finalizou Tendler.

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