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Avaliação da pós-graduação em Saúde Coletiva é tema de mesa-redonda no Abrascão

Catarina Schneider, cobertura colaborativa Abrasco*

Na manhã da sexta-feira, 27 de julho, no segundo dia do 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva – Abrascão 2018 – a mesa-redonda “Avaliação da pós-graduação em Saúde Coletiva: que caminho seguir?” trouxe para o debate questões centrais enfrentadas pela pós- graduação da área, discutindo aspectos de ordem conceitual e organizacional sobre o processo avaliativo e produzindo conhecimento e sugestões para mudanças do modelo atual. A coordenação foi de Guilherme Werneck, professor do Instituto de Medicina Social (IMS/UERJ), do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC/UFRJ) e coordenador da área de Saúde Coletiva pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) entre 2014 e 2018.

Rita Barradas Barata, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa da Casa de São Paulo e presidente da Abrasco (1996-2000), abriu o debate trazendo questões importantes sobre a Avaliação Quadrienal 2013-2016. Segundo Rita, também ex-diretora da Capes, este modelo de avaliação é utilizado desde 1998 e poucos ajustes foram feitos até então, o que não possibilitou, por parte da Agência, o acompanhamento do crescimento exponencial dos programas de pós-graduação (PPG), as mudanças no setor científico e os desafios contemporâneos da ciência. Para ela, questões como o tempo exíguo para a avaliação e o predomínio de indicadores quantitativos levam a um uso ineficiente dos indicadores pelos coordenadores dos PPG, além de uma formação insuficiente e deficiente dos doutores, ao trabalho mecânico de publicação, promovendo prejuízos ao objetivo primeiro da pós-graduação, que passa a ser o alcance de notas e números, e não necessariamente à busca por excelência e qualidade. “Esse modelo gera mais resultados nocivos do que benéficos; e isso não pode continuar”, afirma a pesquisadora.

Construindo sua fala em cima do lema “menos é mais”, ela acredita que a busca por um papel mais avaliativo e menos regulatório poderia ser o início de uma mudança no sistema avaliativo da Capes, tentando focar menos na produção e priorizar mais a formação nas suas avaliações. Além disso, a auto avaliação deve mostrar tanto a relevância dos PPG para o campo científico quanto para a sociedade brasileira, com definição de um conjunto de indicadores qualitativos para as áreas e transformações urgentes no Qualis periódicos.

Maurício Barreto defendeu que o sistema nacional de pós-graduação deve ser visto como parte do sistema  científico e tecnológico do país e que um dos principais objetivos da avaliação deve ser a prospecção da produção de conhecimento e o estímulo ao desenvolvimento científico. O erro mais grave, para o pesquisador do Instituto Gonçalo Moniz (IGM/Fiocruz), é “ter mantido um sistema de avaliação de 30 anos”. A mudança, na sua visão, vai além da implementação do sistema qualitativo.  Ele acredita que os modelos de avaliação devem ser aplicados de acordo com o contexto, ou seja, é preciso, antes de tudo, entender as bases de estrutura e de poder das comunidades científicas do país.

Para Barreto, criar estruturas para lidar com grandes volumes das avaliações, adotar sistemas que relacionem elementos quantitativos e qualitativos e avaliar o próprio sistema de avaliação da Capes seria essencial para que as mudanças começassem a acontecer. “O sistema avaliativo precisa ser recriado. Precisamos de transformações.”, finaliza ele.

A última fala foi de Kenneth Camargo, também professor do IMS/Uerj. Para ele, antes de tudo, é preciso debater sobre algumas questões mais amplas da ciência, com risco de a ciência ser capturada pelos interesses econômicos e só produzir aquilo que pode render lucro e ser financiado. Portanto, “a ciência deve ser defendida pelos seus valores”, que teriam como eixo o universalismo e desinteresse das questões materiais, já que a ciência é um empreendimento coletivo e dependente da sociedade para sua produção.

Como algumas questões norteadoras para alcançar mudanças, ele sugere que deve haver uma articulação política entre cientistas e sociedade civil, com incentivos que não devem mais ser baseados na competição. “Além disso, a difusão científica é um grande desafio que deve ser enfrentado, tendo a consciência do déficit da educação básica vivido na nossa sociedade”, finaliza.

O debate trouxe muitas reflexões, principalmente a de que é necessário rever os incentivos que é dado à pós-graduação, que privilegia, basicamente, a competição e a produção individualista. Dessa maneira é difícil agregar e repensar valores para construir questões que são norteadores para a construção científica no país. As mudanças são urgentes e necessárias para que a avaliação não se torne um fim em si mesmo e alcance objetivos que tragam resultados mais benéficos.

*Catarina Schneider é estudante do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS/ ICICT/Fiocruz) e está no projeto de cobertura colaborativa para o Abrascão 2018 – Edição Bruno C. Dias

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