A Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco vem a público somar-se às manifestações de repúdio contra atitudes criminosas e antiéticas de médicos, expressas no compartilhamento de exames e informações de saúde pessoais e sigilosas, além de comentários agressivos e posicionamentos cruéis, desumanos e degradantes, dirigidos à ex primeira-dama Marisa Letícia.
Os episódios alertam para a necessidade de mobilização cidadã diante da escalada e do acirramento no Brasil do discurso de ódio, de difamação e rejeição do outro, de ações de intolerância política e de práticas deploráveis que violentam a civilidade e afrontam a democracia.
A punição dos responsáveis, com rigorosas medidas éticas, administrativas e legais, é imprescindível. Mas também é necessário assumirmos coletivamente o compromisso com a vigilância cotidiana de discriminações e preconceitos de qualquer natureza.
São extremamente graves os desvios de conduta de gente que atende gente, principalmente de profissionais que têm sob seus cuidados pessoas fragilizadas ou vulneráveis diante do adoecimento, dor ou sofrimento.
Sanções administrativas ou advertências de conselhos de ética contribuem para sanar apenas uma parte dos males causados. Os efeitos da humilhação, que extrapolam as relações entre agressor e agredido, são a antítese do cuidar.
É preciso prevenir. É preciso derrubar muros e barreiras, a começar pela tolerância às diferenças políticas, partidárias, de gênero, cor/raça, ideologia, orientação sexual e classe social. É preciso afirmar a vigência de valores que permitam o reconhecimento de erros e a disposição para pedir desculpas.
Nesse sentido, a Abrasco conclama a unidade dos profissionais de saúde, comprometidos com a prática do acolhimento e do cuidado, com o respeito à vida e à dignidade humana, para que possamos, juntos, instituir no Brasil os princípios públicos e democráticos de diálogo, respeito, ética e solidariedade.