Foi dada a largada para a construção do novo ciclo do processo de avaliação da pós-graduação brasileira. Nesse início de mês, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) anunciou os novos coordenadores das áreas de conhecimento hoje organizadas na Agência. Eles terão a missão de, nos próximos 4 anos, qualificar e modificar instrumentos e métodos para a realização do novo retrato do ensino pós-graduado no país. Na Saúde Coletiva, Bernardo Horta, professor da Universidade Federal de Pelotas (PPGE/UFPel), é o novo coordenador, numa indicação construída coletivamente no interior do Fórum de Coordenadores dos PPG, liderado pela Abrasco. No entanto, mudanças no cenário apontam a necessidade de a comunidade científica estar atenta e alerta aos debates relativos à Capes.
Os nomes foram publicados em portaria no Diário Oficial da União no último 05 de abril e anunciados em encontro no dia seguinte (06), em Brasília (DF). Professor associado do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina (DMS/FM/UFPel), bolsista de produtividade em pesquisa nível 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), coordenador do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia e integrante da Comissão de Epidemiologia da Abrasco, Bernardo Lessa Horta assume a nova atribuição interessado em atuar pela redução das desigualdades entre os programas. “Espero poder contribuir para que, ao mesmo tempo em que mantenhamos o processo de expansão e de consolidação da área, se avance no sentido de reduzir as disparidades observadas quanto à distribuição dos programas de acordo com as regiões”.
Horta destaca também o papel que o Fórum teve no processo de indicação. “A participação do Fórum de Coordenadores, ouvindo abertamente as indicações dos programa para a construção da nominata encaminhada à Capes, só reforça esse diálogo entre nossos programas e a coordenação, que seguirá amplo, como já tem ocorrido ao longo das últimas gestões”. Por conta da nova função, o docente se afastará da coordenação do PPGE/UFPel.
Em publicação posterior, foram confirmados também os nomes das duas vagas adjuntas da coordenação de área. Leny Trad, professora do programa de pós-graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (PPGSC/ISC/UFBA), será adjunta para programas acadêmicos, e Cláudia Leite de Moraes, professora do programa de pós-graduação em Saúde da Família da Universidade Estácio de Sá (PPGSF/Unesa) adjunta para programas profissionais.
Alerta necessário: Após 4 anos à frente dessa responsabilidade, Guilherme Loureiro Werneck avalia como positiva e satisfatória a experiência na Capes. “Foi importante para eu entender melhor como nossa área se insere no Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG), o que acontece de forma consolidada e muito respeitada”, comenta ele, que credita seu desempenho ao trabalho herdado e às parcerias no percurso. “Essa gestão deu continuidade às anteriores, a da Rita [Barata Barradas], do Aluísio [Barros], do Moisés [Goldbaum]. Todas foram muito importantes para esse fortalecimento da Saúde Coletiva na Capes. Só busquei manter esse trabalho, e acredito que conseguimos, como demonstrado na última avaliação, divulgada no fim do ano passado. O diálogo e a troca foram marcas dessa história e, não poderia deixar passar desapercebido o apoio fundamental da Maria [Dutilh Novaes] como coordenadora adjunta, e da Duda [Eduarda Cesse] como coordenadora adjunta para programas profissionais. Foi esse triunvirato que tocou o trabalho”.
Docente do Instituto de Medicina Social (IMS/Uerj) e do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC/UFRJ), Werneck aponta que a Saúde Coletiva se destaca como uma das áreas que ressalta a importância de construir alternativas à avaliação para que esta esteja em diálogo com as reais necessidades da produção do conhecimento. “Ao longo desse mandato, dentro do possível, conseguimos emplacar algumas alterações que puderam ser feitas. A Coordenação de área da Capes deve, de alguma forma, garantir o reconhecimento de sua área, a qualificação dos programas e ser uma voz ativa e bem instrumentada para defender o que a área entende como necessário para o desenvolvimento, tanto próprio, como do SNPG e da educação no país”, ressalta.
Nesse sentido, Werneck recomenda atenção frente ao cenário de mudança que se deu na Agência, com a exoneração de Rita Barata Barradas da Diretoria de Avaliação (DAV/Capes). “A saída da professora Rita representa um alerta não só para a área, mas para o mundo acadêmico. Pode-se ter todas as críticas ao sistema de avaliação e de fato ele precisa ser modificado. Rita estava imbuída e preparada para atualizar as mudanças que se fazem necessárias. Esse sistema foi e é fundamental para a garantia da qualidade e para a proteção do SNPG frente a descaracterizações e tentativas de torná-lo ainda mais vulnerável ao quadro político-econômico. Acho importantíssimo que a gente fique alerta, pois é fundamental que o sistema continue funcionando, qualificando e fortalecendo os programas de pós-graduação. Não é uma questão de pessoas, mas de projetos e, ao ser futuramente e novamente posto em discussão, precisaremos ver de fato se as mudanças propostas vão tratar a Capes como uma instituição de Estado tal como deve ser”.
(atualizada em 12/06/2018)