A Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco tem orgulho de ter entre seus membros Naomar de Almeida Filho e, face às notícias que vieram à luz em Carta Aberta assinada por ele, divulgada por ocasião da última reunião do Conselho Universitário da Universidade Federal do Sul da Bahia – UFSB, vem a público manifestar seu apoio a este ilustre abrasquiano, pesquisador, professor e ativista da Saúde Coletiva e gestor universitário de primeira linha, colocando-se ao seu lado na defesa do projeto inovador e inclusivo que liderou estando a frente da UFSB.
A criação da UFSB abriu novas possibilidades de desenvolvimento de um projeto pedagógico na região do extremo sul baiano onde todos acreditamos estarem as sementes de uma verdadeira revolução cultural na formação profissional calcada em valores éticos e humanistas indispensáveis para um país em construção como o Brasil. A Abrasco apoiou iniciativas como o Seminário internacional sobre formação profissional no ensino da Saúde Coletiva realizado em Porto Seguro em 2014 onde se levantou subsídios para o projeto UFSB, juntando forças para a discussão maior sobre o ajustamento do componente acadêmico às necessidades de saúde da população em um ambiente historicamente marcado pelo conservadorismo e pela marca da reação a toda e qualquer mudança no status quo.
O projeto de universidade e de formação implantados na UFSB, ora ameaçados frente a forças conservadoras e que custam a aceitar que o “novo virá”, reúne um conjunto de princípios que a Abrasco tem historicamente defendido para o campo da saúde. Citando as palavras do próprio Naomar, destacam-se no projeto/processo de implantação da UFSB, as seguintes características: “modelo curricular flexível com base em pedagogias ativas”; “investimento na formação em humanidades”; “ampla cobertura territorial”; “ampla inclusão étnico-social”, “respeito à diversidade de saberes e engajamento da sociedade na governança institucional”.
Cabe lembrar que os esforços de Naomar na construção de uma “Universidade Nova” (nome que ele atribuiu ao projeto que elaborou reunindo os fundamentos básicos do modelo implantado na UFSB) foram notáveis no seu reitorado por dois períodos na Universidade Federal da Bahia – UFBA, onde liderou o projeto de criação do Bacharelado Interdisciplinar – BI e a criação do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências – IHAC . Importante ressaltar que o modelo do BI, alvo frequente de ataques de segmentos corporativos da saúde, notadamente, da corporação médica, foi um dos vetores da oposição “raivosa” que se instalou na UFSB.
A este respeito, endossamos a posição expressa em carta recentemente publicada do Centro Acadêmico do BI Saúde do IHAC/UFBA – Gestão Ubuntu, particularmente, ao destacar que “os desafios que estão colocados para as/os estudantes do BI são imensos, sobretudo, por fugir da lógica mercadológica de formação profissionalizante”. Ao referir-se especificamente ao BI saúde, a carta destaca que em função de “estar inserido em um campo, no qual as profissões são historicamente elitizadas (…) fomenta certo descontentamento por parte de alguns cursos tradicionais”. Mas, ressaltam: “a luta para que este curso tão inovador se consolide é árdua, mas, vale a pena”
Destaca-se, por fim, que os fatos narrados pela carta aberta, infelizmente, não são exclusividade da micropolítica da UFSB. Assistimos estarrecidos a uma avalanche de notícias sobre episódios de violência e obscurantismo em diversos espaços da vida social, mas nos preocupa quando a névoa da raiva e do preconceito penetra no ambiente da universidade, espaço onde deveria se celebrar o livre pensar.
Nós resistimos e insistimos na defesa do projeto original da UFSB, estratégico para o campo da Saúde Coletiva e para o país ao tempo em que nos colocamos ao lado de Naomar de Almeida Filho, um dos quadros mais ilustres da Abrasco. As ofensas e a violência dirigidas a ele são também dirigidas a todos nós. Nós estamos lado a lado.