Mais do que uma celebração, um registro para a história e a transmissão de um legado. A Ágora Abrasco em homenagem ao epidemiologista Cesar Victora reuniu pesquisadores de diversas gerações, todos gratos e orgulhosos, seja de maneira direta ou indireta, de poderem testemunhar a trajetória desse abrasquiano que construiu uma carreira dedicada a fazer como as descobertas científicas cheguem à população.
A coordenação da sessão foi de Gulnar Azevedo, presidente da Abrasco, que fez a saudação ao convidado, “que desde o primeiro congressos de epidemiologia vem contribuindo para a construção do nosso campo”.
Na sequência, Naomar de Almeida Filho trouxe o início e a consolidação do conhecimento epidemiológico no país. “A epidemiologia é uma ciência jovem, com dinamismo de crescimento no mundo todo e no Brasil, em particular. Nossa epidemiologia tem um traço distintivo de fazer parte de modo orgânico e solidário do movimento da saúde coletiva, o que só reforça o sentido coletivo dessa homenagem”.
Coube a Pedro Hallal, aluno de Victora desde a graduação e atualmente parceiro de pesquisas e amigo, falar da trajetória do epidemiologista. “Nem todo mundo lembra, mas Cesar tem textos fundamentais da epidemiologia mundial. Um deles é uma resposta ao The Lancet, chamado “What’s is the denominator?“, que faria muito bem em ser lido pelos senadores da CPI”.
O ex-reitor da UFPel relembrou também uma das pesquisas mais importantes do abrasquiano. “No mundo, cada vez que se leva uma criança a uma consulta e se confere seu desenvolvimento com a curva do crescimento dá um orgulho danado de saber que esse conhecimento tem um pedaço de Pelotas”, destacou Hallal. As curvas de crescimento são um dos produtos de mais de 40 anos das coortes lideradas por Victora.
“Foi com a gestão do Cesar que a IEA de fato virou uma entidade internacional, em levar a epidemiologia a diversos lugares onde são necessários”, trouxe Karina Ribeiro, nova secretária da Associação Internacional de Epidemiologia (IEA, na sigla em inglês), que em sua fala relembrou o período da presidência de Victora na associação (2011 – 2014), fundamental na inserção da epidemiologia brasileira no cenário mundial.
Humildade e coletividade: A fala do homenageado demonstrou o porquê sua trajetória cativou tantas pessoas em mais de 40 anos. “Nossa epidemiologia brasileira é abrangente e se confunde com a saúde coletiva. Pertencemos a uma entidade que reúne diversos campos da saúde e que sempre lutou contra a desigualdade”, disse Cesar Victora, que desde a tese do doutorado investiga os efeitos da desigualdade na saúde das populações.
“Estamos numa fase triste. Em mais de 50 anos de epidemiologia nunca vi tanto desrespeito à ciência, a tantos cortes de verba. Mas nós temos também resistência, temos a Abrasco e demais associações. Sou um otimista. Essa nuvem vai passar e as políticas públicas serão valorizadas”, assim concluiu Cesar Victora. Assista à transmissão na íntegra.