Queridos abrasquianos, amigos da SC que ainda não são abrasquianos, autoridades, prezado público. É com muito orgulho que damos início ao décimo primeiro congresso de epidemiologia da Abrasco.
Um Congresso montado com muito esforço e que se constituiu em um imenso desafio. Ele foi postergado na esperança de que pudesse ser presencial, mesmo assim precisou enfrentar o formato virtual. Tínhamos o aprendizado do Congresso de Políticas realizado em março passado, mas este é um evento de maior porte, com mais de 3500 inscritos.
Quero agradecer especialmente a Professora Lígia Kerr, presidente do Congresso e trabalhadora incansável, ao professor Antônio Boing que presidiu a Comissão científica o que é sempre um grande esforço de articulação e a todos os membros dessa Comissão Científica pelo empenho e dedicação que resultaram em mesas e conferências de altíssima qualidade. A todos eles parabéns e muito obrigada.
Imprescindível também agradecer nas pessoas do Thiago e da Dayana a todos os trabalhadores da nossa querida secretaria executiva que não descuidaram em nenhum momento da organização. Um beijo especial de gratidão na Dayana que se dedicou muito a este Congresso e que em breve nos deixará, pois seguirá outros rumos em sua carreira profissional. Todos os setores da ABRASCO se dedicaram especialmente para apoiar a organização deste Congresso: comunicação, associados, livraria prepararam produtos especialmente voltados para esta ocasião.
Em 1990 ocorria o 1º Congresso de Epidemiologia da Abrasco, na Unicamp. 31 anos depois, enquanto habitamos um dos tempos mais tenebrosos da história brasileira a epidemiologia brasileira se congrega em seu décimo primeiro evento: “epidemiologia, democracia e saúde: conhecimentos e ações para a equidade”.
O momento que vivemos é um marco importante para este Congresso. O Brasil, enlutado e perplexo, lamenta a morte de mais de 600.000 pessoas por causa da epidemia da Covid-19. Creio não estar exagerando ao dizer que desde Oswaldo Cruz a epidemiologia brasileira não foi tão demandada, nem precisou tanto comparecer aos principais palcos políticos e jornalísticos.
E quero aqui trazer o meu agradecimento, em nome de todos os abrasquianos, pelo esforço, pelo afinco, pela garra com que nossos epidemiologistas participaram da construção de planos de combate à epidemia, de fóruns regionais e locais para tomada de decisões, arquitetaram pesquisas em tempo recorde, aconselharam governos de todos os níveis e estiveram disponíveis para combater o obscurantismo do governo federal. A partir desses espaços públicos e políticos, e inclusive desde suas próprias redes sociais, expondo-se a ataques e injustiças, combateram e continuam ainda a combater a malfadada condução do combate à epidemia do atual ministério da saúde e de seus predecessores.
Também nossos epidemiologistas contribuíram para informar a CPI da Pandemia, que acabou evidenciando o plano macabro e monstruoso de genocídio deste governo. Fazendo compreensíveis informações científicas relevantes, organizando e coletando dados que o nível federal procurava sonegar da sociedade, articulando a defesa dos povos originários … Enfim, de inúmeras maneiras. Por isso, reitero em nome da Abrasco nossa gratidão a todos os epidemiologistas deste país.
A epidemiologia foi – em termos históricos – a primeira das 3 grandes áreas constitutivas da SC brasileira a organizar seu próprio congresso. Vejam, inauguramos neste ato o décimo primeiro congresso, as Ciências Sociais realizaram em 2019 seu 8vo congresso e a área de Políticas, planejamento e gestão realizou em março deste ano o seu 4º congresso.
Também foi a área de Epidemiologia a primeira a ter seu plano diretor, um momento chave de inflexão metodológica do campo e que alavancou a Epidemiologia brasileira para que hoje ela alcance níveis de qualidade equiparáveis aos melhores padrões internacionais, em termos metodológicos e de produtividade.
Pelas características epistemológicas de seus objetos de estudo, pela sofisticação de seus métodos, cada vez mais apurados e complexos, a epidemiologia é das três grandes áreas da SC Brasileira a que primeiro (em termos históricos) e maiormente (em termos quantitativos) alcançou um nível muito desenvolvido de cientificidade
As outras áreas, por suas diversidades epistemológicas e metodológicas estão ainda trilhando um caminho tortuoso. Estamos estimulando-as a se espelhar no percurso da epidemiologia para construírem seus próprios planos diretores e desenhar seus projetos de futuro.
Mas vejam bem, o que eu desejo ressaltar hoje aqui é que a epidemiologia brasileira, após todos esses louros que estou aqui comentando poderia muito bem ter ficado deitada em berço esplêndido. Mas não o fez. Se manteve compromissada com os desafios contemporâneos. Os melhores grupos de pesquisa com parcerias internacionais, os programas de pós-graduação mais bem avaliados (quando tínhamos avaliação) reagiram rápida e eficazmente aos desafios da pandemia. Como disse ao começo: muito orgulho!
E temos um claro reflexo desse compromisso social e nacional com a escolha do tema deste Congresso: “epidemiologia, democracia e saúde: conhecimentos e ações para a equidade”. Um título que – sem dúvidas – nos promete um ótimo congresso e perspectivas de ação e engajamentos bem-informados para o futuro próximo.
A pandemia deixou também um rastro de empobrecimento e exacerbou as já graves desigualdades brasileiras. Precisaremos do trabalho articulado de todas as nossas áreas e grupos temáticos para construir um novo Brasil. Propositalmente, evito neste momento a palavra reconstruir, porque, como nos ensinou Bifo Berardi no mês de março: “A consideração que me parece mais importante (cujas implicações teremos de desenvolver nas próximas semanas e meses) é esta: não devemos nunca mais voltar ao normal”
Que o décimo primeiro Congresso brasileiro de Epidemiologia da Abrasco nos ajude a trilhar novos caminhos para um Brasil mais próspero e mais justo! Ótimos trabalhos para todos
* Rosana Onocko é presidente da Abrasco e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Campinas (FCM/Unicamp)