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Cerimônia de abertura EPI 2021: os caminhos para a construção de um novo Brasil

Bruno C. Dias

Uma leitura crítica de uma conjuntura marcada pelo negacionismo e pelo descrédito com a vida, mas, ao mesmo tempo, esperançosa e que aponta para a construção de uma nova forma de fazer ciência e de construir um país. A cerimônia de abertura do 11º Congresso Brasileiro de Epidemiologia – EPI 2021 deu o início à altura de um evento já histórico tanto para a área como para o campo da Saúde Coletiva como um todo.

A sessão foi conduzida por Thiago Barreto, Secretário Executivo da Abrasco. Coube a Antonio Boing, presidente da Comissão Cientifica, a fala de abertura. Num arco histórico de 30 anos de evento, destacou o compromisso da epidemiologia brasileira com a construção de um sistema de saúde promotor de justiça social. “O SUS foi construído num momento de busca pela democracia e participação popular. De fato, a reforma sanitária brasileira foi e é a busca pela reforma da sociedade, não apenas do setor saúde. É nosso dever fortalecer seu espírito nesse momento histórico para inspirar, mobilizar e construir, articulando nossa prática teórica com nossa prática política”

Planejado há mais de 2 anos para ser realizado em Fortaleza, o cenário da pandemia de Covid-19 exigiu uma revisão total da organização do evento, mas que não deixou de lado, por isso, seu compromisso com a comunidade científica local. Como expresso por Carmen Leitão, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Ceará (UFC), o sentimento da Comissão Organizadora é de gratidão. “Acolher a comunidade de epidemiologia da Abrasco sempre foi motivo de orgulho diante das fortes assimetrias regionais e intrarregionais no território brasileiro”. Mirna Frota, representante da Universidade de Fortaleza e do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), também ressaltou as boas-vindas da Terra da Luz, mesmo no formato virtual.

Nísia Trindade, presidente da Fiocruz, relacionou a realização do EPI 2021 com o processo de reafirmação da ciência e das conquistas históricas da sociedade brasileira, tão necessários no atual momento. “Temos um grande desafio de pensar a questão democrática como centro de todo o processo de reconstrução, fortalecimento do SUS e avanços necessários para dar à população acesso aos avanços científicos”. Ela lembrou também que parte dos debates que serão travados no EPI estarão presentes no Congresso Interno da Fundação. “É hora de afirmação do Sistema Único de Saúde e de novas formas de comunicar a ciência.

A pequenez desse governo ficará na sombra da grandeza do SUS”. A frase de Lígia Kerr, presidente do Congresso, sintetizou seu discurso, no qual analisou a condução desastrosa da pandemia por parte do governo federal.
“Estima-se que 75% dos brasileiros que morreram poderiam estar vivos com medidas de proteção e vacinas. Estudos comprovam que o presidente ativamente concorreu para disseminação da pandemia no país”, afirmou Ligia Kerr, explicitando o projeto de um governo que não respeita a ciência, nem os direitos humanos e no qual pobres, idosos, pessoas negras e povos indígenas não cabem no orçamento.

Em sua análise, a presidente do EPI passou também pelos efeitos nocivos da atual gestão federal no mercado de trabalho, na ciência e tecnologia e na educação. Contudo, fez-se mais forte o chamado à criação de novos possíveis a partir do evento. “Neste congresso, vamos nos fortalecer nos alimentando das inúmeras “balbúrdias” que aqui serão apresentadas. E continuar lutando contra o conformismo, contra a injustiça social e contra a opressão. E que possamos reinventar novos caminhos que reduzam o sofrimento de toda a humanidade”. Leia o discurso na íntegra.

Com uma homenagem aos e às epidemiologistas do Brasil, Rosana Onocko agradeceu o comprometimento dos inúmeros profissionais, pesquisadores e docentes que participaram da construção de planos de combate à epidemia, de fóruns regionais e locais no aconselhamento de governos de todos os níveis e estiveram disponíveis para combater o obscurantismo do governo federal. “A partir desses espaços públicos e políticos, e inclusive desde suas próprias redes sociais, expondo-se a ataques e injustiças, combateram e continuam ainda a combater a malfadada condução do combate à epidemia do atual ministério da saúde e de seus predecessores”, disse a presidente da Abrasco, relacionando também tal papel nas contribuições ao Plano Nacional de Enfrentamento da Covid-19 e à CPI da Pandemia.

“A pandemia deixou também um rastro de empobrecimento e exacerbou as já graves desigualdades brasileiras. Precisaremos do trabalho articulado de todas as nossas áreas e grupos temáticos para construir um novo Brasil. Propositalmente, evito neste momento a palavra reconstruir, porque, como nos ensinou Bifo Berardi no mês de março: “A consideração que me parece mais importante é esta: não devemos nunca mais voltar ao normal.” Leia o discurso na íntegra.

Assista à sessão:

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