A necessidade de união entre universidades, entidades de pesquisa, movimentos sociais e sociedade no enfrentamento ao uso de agrotóxicos foi destaque no lançamento do “Dossiê Agrotóxico: conhecimento científicos e popular construindo a ecologia de saberes”. O estudo enfatiza que o uso de químicos na produção de alimentos não pode ser tratado como problema de pesquisadores, mas de toda a sociedade.
Segundo a coordenadora Raquel Maria Rigotto, do GT Diálogos e Convergências, é fundamental tornar público os impactos que os venenos causam da saúde das pessoas e o quanto esse problema está ligado ao modelo de desenvolvimento atual, baseado na exportação de commodities. “O desenvolvimento não tem trazido saúde, mas sim doenças. Se pensarmos o modelo agrícola brasileiro vemos que o Ministério da Agricultura e Pecuária quer aumentar de 30 a 70 por cento a produção de alimentos para exportação, como algodão, soja, carne, etanol, celulose e frutas. Mas esse modelo é químico dependente”, explica.
Os objetivos do documento é reafirmar que a ciência não é neutra, reconhecer os embates da ciência moderna e a responsabilidade dela nesse contexto. Além disso, o estudo busca disseminar iniciativas inovadoras que contribuem para a construção e um novo paradigma de conhecimentos.
Estudos e pesquisas já captam a ligação entre o uso dos venenos nas lavouras e a incidência de doenças crônicas e cânceres, em consumidores e trabalhadores rurais, que manipulam esses tóxicos e ao meio ambiente. “Queremos também o estudo alerte a sociedade, os pesquisadores e as autoridades para a responsabilidade dos agrotóxicos na determinação do adoecimento e morte da população Brasileira”, crava a coordenadora.
Durante o lançamento a o papel central da comunicação foi lembrado para a conscientização e mobilização no enfrentamento ao uso dos venenos. A coordenadora destacou que o conhecimento produzido pela academia precisa ser transformado em informação, de diferentes formas, em diversos meios de divulgação.
A conselheira nacional de saúde Socorro Souza explica que os movimentos sociais podem ajudar no compartilhamento dessa informação para a sociedade. “No Abrascão produzimos um conhecimento articulado com o saber político e popular. Mas nossa maior contribuição está na possibilidade de ultrapassarmos os muros institucionais e oferecer uma linguagem popular ao tema, para incidir sobre a consciência coletiva”, acrescenta.
A próxima etapa do trabalho da ABRASCO sobre os agrotóxicos será disseminar o conteúdo na América Latina. Além do Brasil, outros oito países deverão ter versões adaptadas para o idioma espanhol.
Veja a conversa com a Raquel Rigotto
Veja também um bate-papo entre Luiz Augusto Facchini (presidente da ABRASCO) e Fernando Carneiro (UnB) sobre o dossiê da ABRASCO que fala sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde.