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Feridas invisíveis: a saúde mental das vítimas de emergências e desastres

Vanessa Leite - cobertura colaborativa Abrasco

Quando acontece um desastre e famílias perdem suas casas, a principal preocupação é, geralmente, como seguir em frente sem moradia e os bens perdidos? No entanto, pouco se reflete e se investe na saúde mental, que se adoecida, pode colapsar uma pessoa. Essa foi uma das pautas da oficina “Saúde Mental e atenção psicossocial em situações de emergências e desastres: lições aprendidas e desafios atuais”, que aconteceu nos dias 24 e 25 de julho, durante o pré-Congresso Abrascão 2018, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ.

A oficina reuniu profissionais de saúde, pesquisadores e afetados em emergências e desastres para debater os impactos causados à saúde mental de populações atingidas e a necessidade de antever esses processos, a ideia é que haja condições normais para se pensar no antes. Os casos discutidos foram os desastres de origem natural de Santa Catarina em 2008 e o Região Serrana em 2011; o incêndio na Boate Kiss em 2013; o desastre de origem tecnológica da Samarco em 2015.

Foi levantada também a questão da falta de cuidado e a desorganização que acontece muitas das vezes para lidar com as vítimas. A ausência de preparo no momento de atender alguém pode acarretar num segundo trauma. Mirela, atingida de Ponte do Gama, subdistrito de Mariana – MG, destacou o fato da população estar vivendo uma situação de total apagamento. O local onde a jovem mora, por ser pequeno, não recebeu a devida atenção que precisava e até hoje os moradores sofrem com os efeitos da tragédia.

Além disso, ela ressaltou que na época, os moradores afetados estavam buscando respostas sobre o que tinha acontecido e não as tiveram de forma imediata. A Samarco não teve o cuidado de levar informação antes da barragem se romper e nem sobre o que seria feito após. Esses esclarecimentos os ajudariam a lidar melhor com tudo que aconteceu, uma vez que estavam todos em choque.

Para Carlos Machado de Freitas, do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz, coordenador da oficina: – “Os desastres provocam além de impactos físicos como doenças e lesões, um impacto na saúde mental que às vezes é invisibilizado. As pessoas sofrem com os abusos, desrespeitos e falta de assistência que podem ocorrer e isso não tem visibilidade, se não tem visibilidade, as pessoas acabam não tendo a atenção adequada. O objetivo dessa oficina é pensar uma melhor organização do SUS para poder cuidar dessas pessoas.”

Pensando num cenário para solucionar todas essas problemáticas, os presentes na reunião também abordaram a necessidade de verbas para ações psicossociais e um poder judiciário comprometido e atuante. Além de aumentar as capacidades do setor de saúde para a redução dos riscos, doenças e agravos.

A oficina Saúde mental e atenção psicossocial em situações de emergências e desastres – lições aprendidas e desafios atuais para o SUS, foi aberta ao público e teve coordenação de Carlos Machado de Freitas e Débora Noal – UnB e Médicos sem Fronteiras.

Uma Carta de recomendações resultou da Oficina. O documento tem como objetivo apresentar e discutir as lições aprendidas e os desafios que se colocam para o Sistema Único
de Saúde – SUS neste tema. Leia aqui. 

Vanessa Leite é é aluna da Uerj e participou do projeto de cobertura colaborativa para o Abrascão 2018, sob a supervisão de Vilma Reis, Bruno C. Dias e Hara Flaeschen

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