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Gonzalo Vecina: “A próxima pandemia tem que nos encontrar melhor preparados”

Qual Vigilância Sanitária para os desafios pós-pandemia de Covid-19? Essa é a pergunta que o sanitarista Gonzalo Vecina, fundador e ex-diretor da Anvisa. buscou responder durante sua conferência no 9º Simpósio Brasileiro de Vigilância Sanitária, no dia 24 de novembro. Ele afirmou que eventos como o Simbravisa são essenciais para “construir conhecimento que oriente ação”.

Vecina fez uma análise crítica sobre a gestão da crise sanitária recente pelo Brasil, com foco na atuação do governo federal e ações do Ministério da Saúde e da Anvisa. O Brasil teve mais de 700 mil mortes em consequência da doença, sendo cerca de 400 mil óbitos evitáveis – se as autoridades políticas e sanitárias tivessem agido de acordo com as recomendações científicas.

Ele destacou seis pilares da resposta à pandemia no país: supressão não farmacológica; mitigação e redução de danos; vacinação e medicamentos; vigilância genômica; auxílio emergencial e medidas de proteção social; e fortalecimento do Complexo Econômico e Industrial da Saúde.

O uso de máscaras é uma intervenção não farmacológica, por exemplo, que não só não foi estimulada, como foi desencorajada pelo então governo federal.  Sobre a mitigação e redução de danos, Vecina citou a demora na identificação de casos e no rastreamento, que contribuiu para alta taxa de disseminação do vírus: “Em junho de 2020, o Brasil tinha capacidade de realizar de 3 a 4 mil testes por dia, enquanto a Alemanha realizava 250 mil testes diários. Só tivemos avanço nessa tecnologia porque um banco doou dinheiro para a Fiocruz, não porque o governo investiu”, disse. 

As medidas de proteção social dialogam com o pilar da mitigação e redução de danos. Não houve coordenação para distribuição de cestas básicas, o auxílio emergencial não foi suficiente, e identificar os casos de pessoas infectadas não influenciava na ruptura da cadeia de transmissão, em muitas situações: “Não tinha condição para as pessoas fazerem isolamento. Falhamos. O trabalhador informal, que só ganha dinheiro – só come – se sair para trabalhar, não tinha a opção de não sair de casa”, afirmou o sanitarista. 

Sobre vacinação e medicamentos, tiveram muitos avanços na produção de vacinas, e uma atuação importante da Anvisa. Todos os imunizantes usados no Brasil foram testados na fase três, o que comprovou a capacidade do país de realizar esse tipo de processo No entanto, o uso de medicamentos sem eficácia comprovada, como cloroquina e ivermectina, foi uma falha grave. Para Vecina, o Ministério da Saúde cometeu muitos equívocos porque perdeu sua estrutura técnica. 

“O que tinha [no MS]?  General, coronel, tenente, major…não tinha médico sanitarista, epidemiologista, gente que sabe lidar com os problemas de saúde. Os militares nem com os problemas de logística, que dizem que são bons , souberam lidar. E isso ainda é um cadáver fedendo nos corredores do Ministério da Saúde”, enfatizou. 

Segundo Vecina, a ausência de uma estrutura contínua de vigilância genômica dificultou a identificação de novas variantes do vírus, e a demora para sair o resultado dos testes PCR – em 10 dias, sendo que a doença tem um ciclo de sete – demonstrou a necessidade de investimento nos laboratórios de saúde públicos. Ele ressaltou a necessidade de  fortalecer o  Complexo Econômico e Industrial da Saúde, para fomentar a produção interna de insumos farmacêuticos essenciais, e construir políticas públicas para essa finalidade.

Por fim, ele destacou que a sociedade brasileira redescobriu a importância dos direitos, mas é crucial preservar e reforçar essas conquistas. A transparência na articulação entre diferentes esferas de governo e o fortalecimento das regiões de saúde são passos fundamentais: “É um momento de reconstrução, com a ministra da Saúde, Nísia Trindade. Devemos fazer o máximo possível. E o momento seguinte, da próxima pandemia, tem que nos encontrar melhor preparados, e com melhor capacidade de salvar mais vida do que conseguimos até agora”.

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