A formatura de estudantes dos cursos de Saúde Coletiva nas universidades Federal do Acre (UFAC) e de Brasília (UnB-Ceilândia), em 2012, a conclusão das primeiras turmas nas universidades Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Federal da Bahia (UFBA) no final da segunda quinzena de abril e, ainda, da UFRJ, UFPR, UFRN e UnB (Darcy Ribeiro) para este ano de 2013, revela o cenário de fortalecimento do campo da Saúde Coletiva no Brasil.Em apenas cinco anos da abertura do bacharelado na área, foram criados 15 cursos em universidades públicas brasileiras.Até final de 2013, serão 16 formações.
Para Luis Eugênio de Souza, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), o movimento é mola propulsora para avanços no Sistema Único de Saúde (SUS). “Nossa expectativa é que a incorporação desses novos sanitaristas nos serviços de saúde nas três esferas de gestão do SUS (federal, estadual e municipal) ajude a fortalecer a racionalidade técnica das políticas e dos programas de saúde, tornando-os mais efetivos e eficientes do ponto da melhoria das condições de saúde das pessoas”, ressaltou.
A chegada desses novos profissionais no cenário brasileiro, segundo o coordenador do Fórum de Graduação em Saúde Coletiva (FGSC), Guilherme Ribeiro (UFBA), abre um novo horizonte para o exercício da saúde coletiva no País. “A formatura dos primeiros graduados consolida o processo iniciado em 2008 de abertura de bacharelados em Saúde Coletiva”, afirmou. O FGSC, criado há dois anos e abrigado na Abrasco, vem promovendo a discussão de questões relativas ao projeto político pedagógico e de reconhecimento e regulamentação dos cursos na área de Saúde Coletiva no Brasil, bem como a promoção de debates e reflexões sobre carreira, profissão e mercado de trabalho para o profissional sanitarista. Guilherme enfatiza que esse trabalho de dois anos vem fortalecendo a discussão sobre o processo de formação e as oportunidades de trabalho para o egresso da graduação em Saúde Coletiva.
Cintia Guimarães, uma das novas profissionais no mercado, recém-formada em abril pela UFBA, em Salvador, falou da incipiência do curso, mas afirmou que é importante seguir militando junto aos colegas pelo fortalecimento da Graduação em Saúde Coletiva e do campo do trabalho na área. “Já estamos nos organizando aqui na Bahia e nacionalmente e, especialmente, no fomento das lutas pelo SUS, pensando na perspectiva de que os atores que compõem a Saúde Coletiva devem se comprometer com os movimentos sociais em defesa de um projeto de sociedade que seja democrático e popular, para que a sociedade brasileira possa superar as desigualdades existentes e as contradições que se arraigaram em sua estrutura”, disse.
Thiago Bezerra, da UFRN, de Natal, contou sobre suas expectativas, que segundo ele, são “as melhores possíveis”. “Percebo que no mercado de trabalho há uma grande carência de profissionais em Saúde Coletiva. De fato, a academia dos cursos de graduação da área Biomédica nunca proporcionou um aprofundamento na arte de gerenciar, de criar políticas, analisar dados, manusear os sistemas de informação e propor soluções para um sistema ou um serviço de saúde”. Thiago acredita que essa é a razão pela qual ainda são profissionais com diferencial. “Apesar de estar esperançoso com as oportunidades que virão, também sou consciente dos desafios que precisaremos enfrentar enquanto recém-egressos. Evidentemente que com o passar do tempo, seremos mais reconhecidos como também mais organizados politicamente. Com isso as oportunidades, inclusive de concursos públicos, aparecerão mais facilmente. Mas no momento me vejo na necessidade de mostrar aos outros profissionais, no exercício do trabalho e nos resultados alcançados, o quanto poderemos ajudar a restabelecer a Saúde Coletiva no Rio Grande do Norte, seja no âmbito público ou privado”, pontuou.
Além das iniciativas realizadas pela Abrasco, pelo Fórum e pelos alunos, professores também têm contribuído com o fortalecimento desse processo. Eduardo Mota e Jairnilson Paim (UFBA) são exemplos importantes, principalmente pelo compromisso histórico do ISC/UFBA com a aposta na graduação em Saúde Coletiva e seu reconhecido caráter político. “As primeiras turmas de egressos das Graduações em Saúde Coletiva abrem um novo capítulo dos recursos humanos, ampliando e reforçando a gestão do trabalho em Saúde. Esses sanitaristas deverão adotar diferentes estratégias de inserção nas instituições públicas e/ou privadas de saúde. Provavelmente aproveitarão aproximações com secretarias estaduais e municipais, realizadas ao longo de sua formação, para buscar formas contratuais que possibilitem sua rápida absorção. Deverão participar ativamente no movimento de abertura e consolidação de carreira única do sanitarista nessas secretarias (para que sejam integrados de maneira digna e sem restrições). Devem buscar inserções em instituições públicas e privadas que permitam o desempenho em áreas de atuação da Saúde Coletiva, reforçando ações, programas e políticas intersetorias. Enfim, devem avançar a passos firmes em direção à consolidação cada vez maior da Saúde Coletiva e da Reforma Sanitária no Brasil, buscando somar forças aos atores e estratégias já existentes, mostrando a firmeza e o diferencial de uma formação de base interdisciplinar”, reforçou Marcelo Castellanos, professor Adjunto do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia.
O desafio da construção de uma saúde pública eficiente ainda é um desafio em quase todo o mundo, assim como a superação de outras violações aos direitos humanos. A globalização que aproxima os continentes e favorece uma discussão sobre a condição de saúde, que nos permite pensar estratégias para se trabalhar políticas de saúde para todos, é a mesma globalização embasada pelos princípios neoliberais, o que não permite que o público seja eficiente e que tem como diretriz fundamental o Estado mínimo. Ainda assim, as iniciativas locais em todo o mundo e os avanços brasileiros dentro de cinco anos, revelam demanda e a necessidade da implementação de uma Saúde Pública de qualidade, com equidade e universalidade.
A Graduação em Saúde Coletiva é tema da próxima edição da Revista Tempus Actas. Os eixos abordados na publicação serão a identidade profissional, o mercado de trabalho, a regulamentação da profissão e o campo de estágio no Brasil. O próximo número da revista, coordenado pelos professores Maria Fátima de Sousa, Antonio José Cardoso e Carla Pintas, terá seu lançamento em 30 de agosto e ainda está com chamada pública aberta para submissão de artigos.