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Ligia de Salazar de Azul pelo SUS

Ligia de Salazar está preocupada com o que viu e ouviu sobre as ameaças ao SUS durante a 22ª Conferência Internacional de Promoção da Saúde, organizada pela União Internacional para Promoção da Saúde e Educação (UIPES) em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba e a Abrasco, no final de maio.  “O que se está transmitindo é uma mensagem que aponta para o desmonte dos resultados sociais obtidos até agora”.

Diretora executiva do Fundesalud, organização não-governamental colombiana que promove ações e programas de cooperação internacional, formação e treinamento em desenvolvimento social e promoção da saúde, e integrante do painel de especialistas em Promoção da Saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS), além de ter sido por 15 anos professora titular do Centro para el Desarrollo y Evaluación de Políticas y Tecnología en Salud Pública da Universidad del Valle, Ligia foi uma das palestrantes da mesa Saúde e Equidade na América Latina: Utopias e Realidades, na qual debateu  a construção da determinação social da saúde no continente junto com Patricia Tavares Ribeiro, coordenadora do Centro de Estudos, Políticas e Informação sobre Determinantes Sociais da Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (CEPI-DSS/ENSP/Fiocruz).

A convite da Abrasco, Ligia falou da perspectiva que os pesquisadores estrangeiros estão observando sobre o momento político vivido pelo Brasil e prontamente abraçou a campanha De Azul pelo SUS.  Ela se soma ao  equatoriano Jaime Breilh, reitor da Universidad Andina Simón Bolivar, que avalia a mudança política do cenário brasileiro como uma repetida estratégia política de golpes anti-democráticos na América Latina. Leia a opinião da pesquisadora colombiana.

Abrasco: Como pesquisadora dos sistemas de saúde da América Latina, como analisa o atual debate sobre o SUS no Brasil?
Ligia de Salazar: Os pressupostos que fundamentam o SUS são uma referência para a América Latina, portanto, é incompreensível e ilógico que a atual situação política no Brasil seja usada para fazer uma iniciativa que tem sido produto de anos de construção coletiva e luta política para torná-lo viável, posicionando-a a nível nacional. Eu acho que esse fato exige solidariedade com o povo brasileiro, com uma ação em duas frentes: junto aos meios de comunicação para tornar visíveis as consequências negativas que podem causar essas decisões e junto a organismos técnico-políticos, de modo que os princípios do SUS sejam valorizados como diretrizes para fortalecer os sistemas de saúde nos demais países.

Abrasco: Qual a importância dos sistemas universais de saúde em momentos de crise econômica e política?
Ligia de Salazar: É necessário entender que os sistemas de saúde que visam reduzir as desigualdades sociais tem como sua característica central o exercício da cidadania, são produto e reflexão dos processos democráticos, apoiados por mecanismos que promovam o equilíbrio das relações de poder para fortalecer a participação social e comunitária na sua construção. Por isso, toda atores devem voltar-se para a arena política para defender os seus direitos de participar em tomada de decisões que lhes dizem respeito e que essas decisões sejam respeitadas. Temos de ter em conta que o povo brasileiro não é o único ferido com essa tentativa de redução de direitos, mas também toda a região, todos os atores latino-americanos e demais defensores globais dos Direitos Humanos e da democracia. Penso que temos o direito de saber e dar a saber o que está acontecendo no Brasil, e o que se está transmitindo é uma mensagem que aponta para o desmonte dos resultados sociais obtidos até agora. É neste contexto que expresso minha opinião, respeitando as articulações e as realidades de cada país.

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