Na última semana, de acordo com dados do Ministério da Saúde, o Brasil ultrapassou a marca de 1.000 casos de Mpox. A doença é causada por um vírus da mesma família da varíola (MPXV) e os principais sintomas são lesões na pele, dores no corpo e febre. O aumento de casos da doença, não só no Brasil, mas ao redor do mundo, requer atenção, mas não significa que a situação não possa ser contida. Autoridades sanitárias e a Organização Mundial da Saúde (OMS) acompanham atentas os acontecimentos.
Em agosto deste ano, ao analisar a escalada de casos de Mpox na República Democrática do Congo (RDC), na África Central, a OMS declarou a situação como uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII). Uma ESPII, de acordo com o Regulamento Sanitário Internacional (RSI) de 2005, significa um evento extraordinário com duas características: pode representar um risco para a saúde pública de outros países e exige uma resposta internacional coordenada.
Essa não é a primeira vez que a OMS declara uma ESPII para Mpox. Em julho de 2022, um surto da doença em diversos países fez com que a OMS também adotasse a medida. A emergência foi encerrada em maio de 2023, após uma queda no número de casos no mundo.
De acordo com a OMS, de janeiro de 2022 até 31 de julho de 2024, casos de Mpox foram reportados em 121 países. Ao todo, foram 103.048 casos confirmados com teste laboratorial e 229 mortes. A transmissão da doença ocorre, principalmente, através do contato direto com secreções ou fluidos corporais de uma pessoa infectada.
Por mais que a doença tenha potencial para desencadear uma epidemia, isso não significa que iniciativas não possam ser adotadas para conter a transmissão. É o que explica a coordenadora da Comissão de Epidemiologia da Abrasco e epidemiologista da UFSC, Alexandra Boing.
“A contenção é possível através de uma resposta rápida e coordenada, incluindo medidas de prevenção, como o isolamento de casos suspeitos e confirmados, um contact tracing adequado, a vigilância epidemiológica eficaz, a comunicação sobre como combater o vetor, como prevenir a transmissão, medidas individuais e coletivas e a vacinação de grupos de risco”, explica.
A pesquisadora destaca ainda a importância de considerar que cada emergência sanitária tem suas particularidades e que não há motivo para pânico.
“Embora o vírus esteja circulando no Brasil desde 2022 e haja a possibilidade de novas cepas estarem em circulação sem ainda terem sido identificadas, não há motivo para pânico. O alerta da OMS serve como um lembrete da importância da vigilância, tanto por parte dos profissionais de saúde quanto da população em geral. É essencial que todos fiquem atentos aos sinais e mantenham as medidas de prevenção, mas também que a resposta seja proporcional ao risco real. É importante ressaltar que, ao contrário da Covid-19, que se espalhou de forma extremamente rápida e global, a Mpox tem um padrão de transmissão mais controlado”, detalhou.
O pesquisador e abrasquiano Guilherme Loureiro Werneck, que atualmente é diretor do Departamento de Articulação Estratégica de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, destaca que o governo federal está atento e mobilizado.
“O Brasil tem uma estrutura absolutamente adequada e preparada para o enfrentamento dessa emergência. Logo após a OMS declarar a ESPII, o Ministério da Saúde instituiu um Centro de Operação de Emergências (COE), que se reúne periodicamente para definir ações de preparação e resposta. É um momento de organização e preparação para garantir que a infraestrutura diagnóstica seja adequada”, detalhou.
Além disso, o Ministério da Saúde negocia a compra emergencial de 25 mil doses de vacina contra a Mpox com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). A vacina Jynneos, produzida pelo grupo Bavarian Nordic, foi autorizada no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso emergencial em 2023. A autorização foi renovada este ano e venceria em agosto, mas o Ministério já fez um pedido de renovação.
O imunizante, destinado a adultos com idade igual ou superior a 18 anos, passou a integrar, nesta sexta-feira (13), a lista de insumos pré-qualificados da OMS. Isso significa que a vacina poderá ser distribuída a países de baixa renda e que enfrentam surtos de Mpox por meio de entidades como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Aliança Mundial para Vacinas e Imunização (Gavi, na sigla em inglês).
No Brasil, há dois anos, o Centro de Tecnologia de Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) trabalha no desenvolvimento de uma vacina brasileira contra a doença. A ação faz parte das prioridades da Rede Vírus, comitê de especialistas em virologia criado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).