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Nosso adeus a Hugo Tomassini

Bruno C. Dias

A Saúde Coletiva perdeu Hugo Coelho Barbosa Tomassini nesta na quinta-feira, 17 de setembro. Além de sua passagem pela docência com participação na criação de importantes cursos e instituições, Tomassini compôs um grupo de secretários municipais de saúde que tiveram a coragem de implementar proposições da Saúde Coletiva em essência nos primeiros anos de abertura democrática, entre o final da década de 1970 ao início dos anos 1980, transformando realidades e plantando as sementes do que viria a ser o Sistema Único de Saúde, o SUS.

Nascido na cidade do Rio de Janeiro em agosto de 1937 e formado pela então Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, atual FM/UFRJ, em 1963, Tomassini ingressou na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) para o Curso Básico (Especialização) no ano seguinte. Seu destaque na formação proporcionou o primeiro vínculo com a docência, sendo contratado como professor de Estatística e Epidemiologia. Ainda na ENSP, participou da equipe que o primeiro Curso de Mestrado em Saúde Pública do país e lá permaneceu de 1965 ao início do ano de 1970.

O recrudescimento da ditadura militar fez com que ele deixasse a ENSP, já integrada ao Instituto Oswaldo Cruz, e prestasse concurso para a recém regulamentada Universidade Federal Fluminense (UFF), ingressando no Departamento de Saúde da Comunidade da Faculdade de Medicina da universidade. De início, promoveu uma série de ações de formação em parceria com fundações de assistência e movimentos populares, articulando a criação do estágio de alunos de medicina em centros comunitários.

Quando a sociedade brasileira retomou o direito ao voto – suspenso desde 1964 – nas eleições municipais de 1976, Tomassini ajudou na construção da plataforma de saúde da campanha do então oposicionista Moreira Franco, sendo empossado Secretário de Saúde e Promoção Social pelo prefeito eleito no ano seguinte.

Em três anos, Tomassini mudou radicalmente a saúde da cidade. Uma de suas primeiras decisões foi instituir o Conselho Municipal de Saúde e Promoção Social, com forte participação comunitária e da academia. Desse Conselho surgiu, em 1978, o primeiro Plano Municipal de Saúde de Niterói.

Do Plano saíram a construção de unidades de saúde em regiões mais afastadas; municipalização da Atenção Básica e a carreira de sanitarista nos quadros da SMS. Por “delegação de função” permitiu que profissionais de nível elementar pudessem fazer o acompanhamento de ações de saúde, criando os primeiros agentes comunitários. A força dos projetos de Niterói alçou Tomassini no cenário nacional. Ao lado das experiências de Campinas, implementadas por Nelson Rodrigues dos Santos; e de Londrina, conduzidas por Márcio Almeida, Tomassini fez de seu trabalho na saúde niteroiense referência nos primeiros encontros municipais do Setor Saúde.

A revolução da saúde em Niterói não conseguiu, contudo, suportar os interesses corporativos e as mudanças dos ventos da política, levando à exoneração do sanitarista em julho de 1980. No entanto, Tomasssini não deixou de atuar em gestões: foi sub-secretário estadual de saúde do Rio em 1983 e, depois, secretário municipal na capital, de 1983 a 1985.

À UFF dedicou a maior parte de sua carreira docente. Em 1995 participou da Fundação do Instituto de Saude da Comunidade, depois renomeado de Instituto de Saúde Coletiva (ISC/UFF), alocado no Departamento de Epidemiologia e Bioestatistica. Compôs também o corpo docente da Escola de Ciências Médicas de Volta Redonda.

No entendimento de Tomassini, apesar do revés sofrido, formou-se em Niterói um caldo de cultura que, com algum tempo e novos ingredientes, resultaria na primeira experiência viva do SUS. “Reuníamos aqui todas as condições para um processo integrado de saúde”, disse ele em entrevista concedida em 2004.

“O professor Hugo Tomassini foi o marco da construção daquilo que seria o SUS em Niterói, nos municípios e no Brasil. Foi um dos fundadores do nosso Instituto, e a ele teremos nossa gratidão e eterna lembrança” destaca Aluisio Silva Jr., diretor do ISC/UFF, palavras que a Abrasco também abraça nesta despedida.

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