A Abrasco vem manifestar seu pesar pelo falecimento do educador, antropólogo e pesquisador Carlos Rodrigues Brandão.
Carlos é uma das mais importantes referências para a Educação brasileira e para o campo da Educação Popular latino-americana, tanto por sua expressiva obra dedicada aos processos educativos com perspectiva democrática, participativa e humanizadora, como também por sua dedicada contribuição com diversos grupos, movimentos e coletivos sociais, pedagógicos e políticos desse campo.
Como gostava de se denominar, Carlos Brandão foi um andarilho persistente, que em sua caminhada pôde apoiar diversas iniciativas de ampliação, difusão e aprimoramento de movimentos e práticas voltadas a constituição de uma educação dialógica e libertadora.
Ele sempre interagiu de forma amorosa, fraterna e muito disponível em agendas da Abrasco, especialmente aquelas propostas pelo GT de Educação Popular e Saúde. Era ativo membro do GT de Educação Popular da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação (ANPED).
Carlos Rodrigues Brandão nasceu na cidade do Rio de Janeiro-RJ, onde se formou em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. Desde o início de sua trajetória profissional, acadêmica e cidadã, ele se dedicou à criação e ao desenvolvimento de movimentos sociais populares e a centros de cultura popular. Com uma atuação protagonista desde a década de 1960, Carlos Brandão destaca-se como um dos pioneiros no movimento de educação popular no Brasil, e em vários outros países da América Latina. Em 1967, ingressou como professor universitário, inicialmente na Universidade de Brasília (UnB), depois em na Universidade Federal de Goiás (UFG) e finalmente na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Após aposentado na UNICAMP foi professor convidado ou visitante em cinco universidades do País e uma da Argentina.
Nesse percurso, tornou-se um dos principais companheiros de produção e de reflexão de Paulo Freire e passou a se dedicar sistemática e cotidianamente a pensar construções teóricas e metodológicas em torno das perspectivas participativas de pesquisa e de construção do conhecimento, especialmente através da pesquisa participante e da pesquisa-ação. Foi fundador do Movimento Popular de Saúde MOPS em Goiás e contribuiu para a construção de diversos movimentos populares.
É uma das mais importantes referências internacionais da literatura e da prática da Educação Popular. Em sua trajetória sempre foi marcante sua contribuição ao movimento de Educação Popular em Saúde, tanto pela capacidade de seus escritos subsidiarem inspirações, aprendizados e desafios para os protagonistas da Educação Popular na área da saúde, como por sua perene participação em eventos e processos formativos do movimento nacional de Educação Popular em Saúde.
É um dos protagonistas do Volume 1 da Antologia da Educação Popular em Saúde do Brasil, produção do GT de Educação Popular e Saúde da ABRASCO, resultante de processo de pesquisa focado no registro, na sistematização e na socialização das narrativas de educadores(as) populares em saúde brasileiros(as), suas experiências e suas trajetórias. Esteve em mesa redonda e na Tenda Paulo Freire do 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, em 2018.
E, em 2021, como parte das atividades da pesquisa ampliada do GT, particularmente pela Antologia, Brandão participou como convidado e foi homenageado na Ágora Abrasco – “Painel – Memórias e histórias da Educação Popular e Saúde no Brasil”, que pode ser conferida aqui.
Carlos Brandão tinha uma profundidade ímpar de saberes e de conhecimentos, partilhando tudo com simplicidade, sempre sendo assim uma presença fraterna, que transmitia às novas gerações coragem para criar e ousar, e perseverança para a luta pedagógica cotidiana. Como ele gostava sempre de marcar: ele ensinava contando histórias.
Um contador de histórias, que assim nos mobilizava e inspirava a buscar a boniteza em nossas experiências educativas dialógicas, participativas e humanizadoras. Suas palavras, seus gestos e seu exemplo continuarão a nos inspirar a construir dia a dia essa boniteza, significada na prática por iniciativas Educativas encharcadas de participação, de democracia, de valorização dos vários saberes populares, de amorosidade, de humanização, de compromisso e de luta contra todo tipo de opressão, vulnerabilidade e exclusão.
Brandão fechou seu ciclo após uma caminhada profícua e inspiradora, deixando um legado que irá continuar a nos mover adiante na construção esperançosa da Educação Popular e, com ela, de outros mundos e outras relações possíveis. Continuará presente em nossas ações, construções e produções. Um companheiro sempre nos iluminando e inspirando a construirmos um mundo melhor e uma educação libertadora.
Obrigado, Brandão! Carlos Rodrigues Brandão presente!
* A íntegra do e-book do Volume 1 da Antologia da Educação Popular em Saúde no Brasil, publicada pela Editora do CCTA/UFPB, pode ser conferida aqui.