A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) vem a público expressar repúdio às ações violentas dos agentes de segurança pública que, sem mandado judicial, invadiram territórios sagrados, perpetraram agressões físicas e verbais aos povos de terreiros e destruíram objetos sagrados das religiões de matrizes africanas em Águas Lindas de Goiás e outros distritos do estado de Goiás. As invasões ocorreram durante a busca de Lázaro Barbosa de Sousa, foragido por suspeita de crimes de homicídio, estupros e outros delitos.
As imagens de símbolos sagrados religiosos, feitas durante as invasões aos terreiros, foram amplamente divulgadas nas mídias sociais associando-as a rituais satânicos. A invasão em áreas restritas e sagradas e o estigma associado aos povos de terreiros e aos seus territórios configuram manifestações do racismo religioso e institucional.
Historicamente, as religiões de matrizes africanas são criminalizadas e marginalizadas pela sociedade brasileira e legitimadas por seu aparato jurídico, político e estatal. Os povos de terreiro vêm sofrendo sucessivas ameaças, perseguições e violências simbólicas e materiais. A Constituição Federal em seu Art. 5º, VI, postula a liberdade de consciência e de crença, o livre exercício dos cultos religiosos e a proteção aos locais de culto e a suas liturgias como direitos invioláveis. Nesse contexto, a Abrasco, defende a apuração dos fatos e o cumprimento da lei.