O Museu Nacional, a mais antiga instituição científica brasileira e o museu mais antigo do país, foi destruído por um incêndio de grandes proporções na noite deste domingo 2 de setembro. As chamas começaram por volta de 19h30, quando o prédio histórico, na Quinta da Boa Vista, zona norte do Rio de Janeiro, já havia sido fechado para o público.
À Abrasco o Diretor-adjunto do Museu Nacional, antropólogo Luiz Fernando Dias Duarte, disse em entrevista hoje pela manhã que não sabia por qual ponto começar a comentar o que aconteceu ontem à noite: – “É difícil saber qual o ponto mais importante para falar, mas em primeiro lugar quero ressaltar esta já recorrente e longa irresponsabilidade do governo federal em relação ao patrimônio e à ciência, o descaso se acirrou nestas políticas contemporâneas mas isso não é de agora, vem de há muito tempo. Em 2013 nós tínhamos conseguido uma emenda parlamentar de bancada com 20 milhões de reais que teria sido um aporte precioso para estas dimensões de intervenção e de proteção da instituição: mas foi tudo contingenciado e não saiu um tostão. Estávamos negociando há dois anos com o BNDES e acabou de ser aprovado um aporte de 21 milhões para diversas intervenções do palácio inclusive um novo sistema de proteção de incêndio e pânico, de modo que é terrivelmte irônico que este aporte chegue agora, tudo isso é absolutamente constrangedor. É claro que o museu era uma responsabilidade federal mas nós também tentamos interessar os governos estadual e municipal, pela importância do acervo, mas nunca houve nenhum apoio nem do Estado e nem do Município e, para mim, é muito sintomático que em junho quando fizemos a festa dos 200 anos do Museu, não tivemos a presença nem do prefeito, nem do governador e nenhum Ministro brasileiro, ou seja, um retrato do desinteresse, um sinal marcante dessa incúria”.
Dias Duarte disse ainda que se metade do investimento a um dos estádios da Copa de 2014 no Brasil tivesse sido alocado no Museu Nacional “esta instituição estaria protegida e resplandente, competindo com qualquer museu de história natural do mundo, pois as suas coleções eram preciosíssimas, e todas desapareceram… é terrível pensar na destruição de cada uma delas, dos laboratórios, esquipamentos, coisas que foram suadamente conseguidas ao longo de gerações. Hoje tenho raiva e desespero dessa inconsciência da administração federal em relação ao que significa a identidade da nação, tradição, recuperação do patrimônio e manutenção desse patrimônio. A Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ tem sido atingida severamente, o prédio da reitoria queimou e quase perdermos o Museu Dom João VI da Escola de Belas Artes, a Capela do Palácio Universitário no campus da Praia Vermelha foi consumida pelas chamas e até hoje está coberta por um plástico e não se conseguiu nem recomeçar a restauração. Todos os prédios históricos do Rio de Janeiro vão sendo destruídos pouco a pouco diante do tipo de prioridade que os nossos governos têm para cultura, patrimônio e ciência. Ainda vejo o meteorito Bendegó impávido nas ruínas de cinzas….” Com a voz bastante embargada Luis Fernando interrompe a entrevista: – “As crianças vão aprender com o desastre, e espero que elas tenham consciência do que isso significa e o que o desafio da proteção do patrimônio e da ciência representam para este triste país”