Danilo Fernandes, do Ministério do Trabalho e Emprego, apresentou amplamente as enfermidades relacionadas à contaminação pelo Benzeno, das dificuldades de estudos e investigações, de comprovação da relação Benzeno/doença e da não-aceitação do diagnóstico (quando comprovada) pelas empresas envolvidas. “Um desafio é sobre a discussão molecular e citogenética que é cada vez mais importante e que pode ampliar a abrangência e o alcance das investigações, principalmente devido à complexidade das mudanças clínicas”, ressaltou.
No Benzeno, encontrado principalmente na gasolina, são os metabólicos as substâncias tóxicas que podem provocar câncer, o mais comum é a Leucemia. De acordo com Fernandes, com o trabalho realizado pelo Sentinela, foram identificados 10 aplasias de medula (que não chegam a ser câncer, mas quadros clínicos graves), 37 defeitos de coagulação, 20 agranulocitoses, 3 doenças do baço, 53 leucemias e linfomas e 10 síndromes mielodisplásicas em trabalhadores de postos de gasolina. “Eu acredito também na combinação de substâncias capazes de provocar essas e outras endemias. Foram 68 noeplasias e aplasias identificadas em trabalhadores de postos de combustíveis e 19 casos no comércio atacadista, dentre eles, aplasias de medula”, ressaltou.
Alexandre Jacobina, do CESAT-BA, enfatizou o perigo eminente do crescimento da população de pessoas contaminadas e/ou expostas às emissões de gases de combustíveis de postos com a transformação desses ambientes em verdadeiros centros de varejo, inclusive apostando na venda de eletrodomésticos. “Agora os postos correm aceleradamente na busca por agregar ainda mais consumidores. Os órgãos reguladores não têm noção da gravidade ou fingem que não têm. É preciso investir em ações reguladoras e temos a necessidade de planos de emergência para acidentes tecnológicos”, afirmou.
Mas de qual risco se fala? Boa parte da população acredita que o único risco quanto a postos de combustíveis está relacionado a incêndios ou explosões, mas a emissão de gases ligada ao manejo dos combustíveis é o problema mais grave e o que os debatedores apresentaram como questão principal em foco. “As pessoas que moram no entorno também são prejudicadas e estão sujeitas à emissão. Quanto aos trabalhadores, são quase 500 mil em todo o Brasil”, enfatizou Jacobina.
Maria Juliana Moura, doutoranda do ISC/UFBA, lembrou que o Benzeno foi considerado perigoso e ligado ao desenvolvimento da Leucemia desde 1982. “É preciso ampliar nossa análise e considerar que existe um ciclo produtivo que faz parte do processo de contaminação. Não começa nos postos de combustíveis, mas a partir da extração. Temos que ter em mente que quando se fala de Postos, falamos de todo o ciclo, incluindo os laboratórios universitários”, disse.
Simone Alves, do Conselho de Vigilância Sanitária de São Paulo, contou sobre a experiência do Vigilâncias em Postos de Combustíveis no Brasil que integra quatro estados: Rio Grande do Sul, São Paulo, Santa Catarina e Bahia. Ressaltou que o código sanitário do Estado de São Paulo já salienta que “fatores ambientais de risco à saúde devem ser enfrentados pela Vigilância Sanitária”. “As estratégias ligadas ao projeto ‘Áreas Contaminadas’, que desenvolvemos desde 2002, são a articulação intra e extra SUS constituindo grupos técnicos regionais de vigilância e de definição de procedimentos de Vigilância Sanitária de acordo com cada natureza”, explicou.
Outros fatores ligados à complexa análise de riscos enfatizados pelos debatedores do Painel são as péssimas instalações elétricas (gambiarras) que podem provocar incêndios e explosões, a falta de locais adequados para a refeição dos funcionários de postos de combustíveis, falta de vestiário, conforto e higiene do local de trabalho. E ainda a utilização de água de poço para a lavagem dos carros, considerando que a área subterrânea está contaminada. O contato direto com a água contaminada é também um problema identificado.