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Parceria do GT Racismo e Saúde com UNFPA Brasil analisa impactos do racismo na pandemia – Entrevista com Luis Eduardo Batista

O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA Brasil) e o Grupo Temático Racismo e Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) firmara uma parceria que visa publicar uma série de análises e propostas sobre os impactos do racismo na saúde e seus desdobramentos na pandemia de Covid-19. Para saber um pouco mais dessa parceria, entrevistamos o coordenador do GT racismo e Saúde da Abrasco, Luis Eduardo Batista, que destacou que o projeto “vem no sentido não só de denunciar, mas também de traçar algumas recomendações para os gestores públicos”.

Em painel realizado na semana passada, a oficial de Programa para Gênero, Raça e Etnia e Comunicação do UNFPA Brasil, Rachel Quintiliano, destacou que a parceria é uma oportunidade para a agência da ONU seguir o seu compromisso em discutir sobre saúde a partir da perspectiva de raça, cor e etnia. O primeiro texto do projeto já foi publicado com a nota técnica da coordenadora do GT Racismo, Edna Araújo, junnto com a professora norte-americana Kia Caldwell.

Confira a entrevista com Luis Eduardo Batista e saiba mais sobre o projeto.

O GT Racismo e Saúde fez uma parceria com a UFNPA para abordagem dostemas relacionados aos impactos do racismo na saúde. Qual a importância desta parceria neste momento?

O GT Racismo e Saúde da Abrasco fez uma parceria com o Fundo de População das Nações Unidas no Brasil para produzir textos sobre o impacto da Covid-19 na população negra. A ideia é que nós produzamos artigos e notas sobre vários temas dialogando sempre com a pandemia de Covid-19. Por exemplo, a questão do racismo estrutural e o impacto na pandemia; os sistemas de informação e como eles estão nessa etapa da Covid-19; a questão dos idosos; a questão da saúde sexual e reprodutiva; a saúde mental. Enfim, esses temas que estão diretamente relacionados ao momento de pandemia que estamos vivendo.

A pandemia de Covid-19 escancarou todas as desigualdades de nossa sociedade. Diante deste cenário, qual a importância de uma pesquisa sistematizar a situação a partir de uma abordagem da saúde que destaque a perspectiva de raça, cor e etnia?

Luis Eduardo Batista: A pandemia escancarou nossas desigualdades e os problemas estruturais que temos em nossa sociedade. Então, nesse contexto, nós que trabalhamos especialmente com grupos populacionais como a população de rua, ribeirinha, quilombola, indígena, população privada de liberdade… Ela (a pandemia) faz com que a gente mude a abordagem. Antes, era um trabalho de denúncia. Agora, essas denúncias estão vindo à tona e as pessoas estão pensando que foi a Covid-19 que causou tudo isso. Mas não é. São questões da estrutura da sociedade brasileira. A gente vem, nas diferentes áreas, produzindo textos, produzindo análises sobre o diálogo do perfil social com a questão epidemiológica e os impactos para esses grupos populacionais. Mas agora, a gente tem que, no contexto da pandemia, trazer este arsenal teórico, metodológico que a gente tem para dizer “olha, isso não é uma questão de agora!”. A nossa sociedade ao fazer algumas escolhas, acabou impactando mais nessa população. A gente precisa pensar diferente. Pensar se a gente quer salvar vidas. No entanto, o que a gente tem visto é uma não ação do Estado brasileiro com relação a essas populações. E o que acontece? Elas são penalizadas mais uma vez. Aí, parece que a gente continua denunciando, mas nós temos estudos mais robustos sobre essa discussão. Assim, a parceria com o UNFPA vem no sentido não só de denunciar, mas também de traçar algumas recomendações para os gestores públicos, os movimentos sociais, os movimentos da sociedade, para que possam se organizar.

Estamos vivendo uma conjuntura em que o movimento antirracista ganhou força em diversos lugares do mundo. Ao mesmo tempo, por aqui, há um grande desinvestimento em ciência.Como você avalia essa parceria e o fortalecimento da pesquisa neste momento?

Luis Eduardo Batista: Nós estamos em um momento muito difícil para a pesquisa no Brasil. Nós temos pouco financiamento para pesquisa, bolsas sendo cortadas, as universidades sendo desestruturadas junto com nosso parque científico e tecnológico. Então, dificulta muito para nós, que temos atuado produzindo conhecimento e pesquisa, a subsidiar a sociedade e os gestores nas diferentes dimensões. Então, neste momento, ter apoio do UNFPA para produzir pesquisa e análise ajuda muito e dá fôlego ao GT Racismo e Saúde da Abrasco.

Você poderia falar sobre a importância dos pesquisadores e pesquisadoras negras na formação dessa pesquisa e do conhecimento para a melhoria da saúde da população negra?

Luis Eduardo Batista: Eu gostaria de destacar a capacidade técnica e científica dos pesquisadores e das pesquisadoras que estão envolvidas no GT Racismo e Saúde. Para além de serem diferentes perfis de formação, diferentes perspectivas, com alguns mais ligados à política e planejamento, outros às ciências sociais, outros à epidemiologia, ou seja, os campos da saúde coletiva, são pesquisadores e pesquisadoras que conseguem transitar entre essas áreas discutindo temas fundamentais. Se você tem, por exemplo, um epidemiologista debatendo o cuidado com o idoso, pensando e recomendando ações para os gestores públicos com relação à saúde do idoso nesse contexto da pandemia, pensando para os idosos quilombolas e fazendo vídeos para eles. Você tem outros pesquisadores pensando em comunidades rurais, ribeirinhas e assentamentos, olhando na perspectiva do diálogo do Sistema Única de Saúde (SUS) com o Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Enfim, é um grupo muito rico e muito potente.

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