Estatísticas aterradoras foram divulgadas pelo Ministério da Saúde no último mês: a mortalidade materna cresceu no Brasil. A médica especialista em Saúde Materna da Universidade Federal de Pernambuco, Sandra Valongueiro, afirmou em entrevista para a Abrasco que “Os resultados de uma gravidez e parto estão relacionados com as condições de vida das mulheres e com a qualidade da assistência obstétrica que juntas influenciam as chances de sobrevivência”. Fortalecendo a ideia de que mulheres precisam especialmente de cuidado durante o período da gestação, parto e pós-parto, é animadora a divulgação do curso gratuito de formação de doulas organizado pela Associação de Doulas do Rio de Janeiro (ADoulas RJ) em parceria com a Fiocruz.
O que são Doulas?
Doulas são mulheres profissionalizadas para auxiliarem outras mulheres em seus ciclos gestacionais com informação, auxílio físico e emocional. Para Morgana Eneile, presidente da Asdoula RJ e coordenadora do curso, a presença de doulas é essencial em melhores desfechos para as mulheres e bebês: “As evidências científicas[i] dão conta que o suporte contínuo durante o trabalho de parto implicam em redução de cirurgias cesarianas, menor uso de analgesia, melhor satisfação, entre outros itens que refletem ainda em menores custos” – ou seja, redução da mortalidade materna e mortalidade infantil. Além do ato de parir, há a importância da educação que antecede o processo, informação em saúde e autonomia para que a mãe elabore e prepare o parto como deseja – e o atendimento posterior: “O puerpério é um momento em que boa parte das atenções se voltam ao bebê recém-chegado naquele círculo, provocando muitas vezes uma invisibilidade da puérpera. Como quem atua em todo o ciclo, a Doula consegue dar apoio e fazer uma transição entre as situações”, explica.
Prática supervisionada e currículo sólido
Com inscrições abertas até 8 de outubro, o Curso de Qualificação Profissional de Doula é inovador porque, além de ser o primeiro oferecido de forma gratuita no Rio de Janeiro, garante mais um passo para a profissionalização destas trabalhadoras. Encabeçado na Fiocruz pela Escola Politécnica Joaquim Venâncio (ESPJV) e pelo Instituto Fernandes Figueira (IFF), o currículo visa superar a exigência do Ministério da Educação (MEC) de 180 horas para inclusão de formações em seu Catálago de Cursos. Além de 160 horas de teoria – em que as estudantes aprenderão sobre a realidade obstétrica brasileira (normas, conceitos, história) ; aspectos biológicos (nutrição, anatomia), psicológicos e sociais das mães; técnicas e metodologias de cuidado – também terão 80 horas de prática supervisionada em diferentes espaços de atuação, como maternidades, banco de leite humano, unidades básicas de saúde, espaços de educação popular, dentre outros.
Junto com Morgana a elaboração e coordenação do curso é obra também de Juliana Candido (AdoulasRJ) , da abrasquiala Ialê Falleiros (ESPJV) e de José Mauro da Conceição (ESPJV). Para o Portal da ESPJV a professora Ialê contou parte do processo: “A partir da matriz curricular que a AdoulasRJ trouxe, fizemos debates e oficinas de trabalho para que pudéssemos adequar esses conteúdos ao Projeto Político Pedagógico da Escola Politécnica”. Ialê também ressalta que “são profissionais que contribuem com o SUS e ressignificam o que é a assistência à saúde no parto”.
Olhar para mulheres ativistas
Dentre os critérios para selecionar quem poderá ocupar uma das vagas está o engajamento das candidatas em movimentos sociais e/ou redes ligadas aos direitos das mulheres. Para Morgana, é importante este requisito porque a maioria das profissionais tiveram que pagar suas formações, com valores pouco acessíveis e isto afeta o perfil geral das profissionais (brancas e de classe média): ” Garantir maior diversidade é uma perspectiva importante para nós que desejamos doulas para todas como visão institucional. Ao mesmo tempo, sabemos que a profissão ainda é bastante desconhecida pela maior parte das pessoas. Mulheres atuantes em movimentos sociais tendem a ter maior capacidade de desenvolver nestas redes uma perspectiva multiplicadora dos saberes que partilhamos, bem como de agregar conhecimentos sobre as realidades em que atuam ou vivem a partir das vivências que já desenvolvem. Acreditamos que esta primeira edição precisaria ter este olhar para o ativismo, potencializando o alcance”.
Ao final do curso, todas que concluírem as etapas estarão aptas a atuarem como Doulas.
Inscrições
As inscrições para o Curso de Qualificação Profissional de Doula estão abertas de 25 de setembro a 8 de outubro na Secretaria Escolar da EPSJV/Fiocruz ou no site (www.sigaeps.fiocruz.br/inscricao). As aulas acontecerão aos sábados, do dia 20 de outubro a 9 de março. Os candidatos inscritos via internet deverão apresentar seus documentos à Secretaria Escolar até o último dia de inscrição. Para mais informações, acesse o Portal EPSJV (www.epsjv.fiocruz.br) ou entre em contato pelo telefone 3865-9800.
[i] http://www.cochrane.org/CD003766/PREG_continuous-support-women-during-
childbirth