O terceiro dia de atividades do 9º Simpósio Brasileiro de Vigilância Sanitária contou com conferência de Luana Araújo, médica infectologista que ganhou projeção ao depor na CPI da Covid-19, em 2021, defendendo a ineficiência dos chamados “tratamentos precoces”, incentivados pela última gestão do Governo Federal. No penúltimo dia de simpósio, a luta em defesa da ciência como norteadora das construções de políticas de saúde pública deu a tônica das reflexões que aconteceram em toda a programação científica.
Em sua conferência chamada “A ciência como norteadora das práticas de saúde – negacionismo científico”, Luana destacou a importância da comunicação como aliada ao processo de luta contra a desinformação. A conferencista relembra que, com a pandemia, a discussão sobre vacinas esteve tão presente no cotidiano das pessoas que se tornou assunto de jantar. Mas isso não significou exatamente uma vitória para a ciência, relembra: “O trabalho em favor da ciência dentro da saúde pública trouxe uma sensação de murro em ponta de faca.”
Luana destaca que a desinformação, as mentiras e a anticiência difundida sistematicamente durante o período de emergência sanitária reforçaram a importância de estratégias de comunicação bem definidas e articuladas. “Para conseguir que nosso trabalho chegue até a população e, para garantir que elas aproveitem o que a ciência produz, precisamos entender que essa informação precisa chegar de formas diferentes para pessoas em estratos sociais diferentes.”, afirma a infectologista.
Para a conferencista, as dinâmicas das redes sociais contribuem para a disseminação de discursos mais carismáticos, ao invés de mais comprometidos com a ciência ou a verdade. “Durante muito tempo a ciência se colocou distante das pessoas. Esse pedestal faz com que pessoas com maior empatia consigam chegar e manipular massas de indivíduos.” Ela destaca que existe uma lacuna de profissionais qualificados dispostos a assumir esse lugar e comunicar com uma parcela mais ampla da população a partir de evidências científicas.
A saída, para Luana, é coletiva e inclui, também, cientistas e outros profissionais que podem ser referências para suas comunidades, como recepcionistas de postos de saúde, assistentes sociais e líderes comunitários. “Precisamos fortalecer a ciência do cidadão e ter a população participando ativamente da produção de conhecimento científico. São pessoas que podem ter um papel extremamente importante diminuindo a distância entre a ciência em ambientes controlados e seu impacto na vida real das pessoas.”, conclui.
A Conferência pode ser acompanhada na íntegra aqui.
É preciso considerar a equidade na Vigilância Sanitária
Marcus Vinicius Teixeira Navarro, do Instituto Federal da Bahia, participou do grande debate “Gerenciamento de risco e proteção da saúde”. Ele chamou atenção para a necessidade de considerar os benefícios nas ações de Vigilância Sanitária, para além de só focar nos riscos.
“Qual o risco máximo que pode acontecer na nossa vida ? Descobrimos que tínhamos risco de virar um jacaré, dependendo da nossa ideologia”, brincou. “A vacina foi registrada porque é fonte de benefício, e benefício é oposto de perigo. Precisamos tratar os diferentes de diferente forma , considerar a equidade em Vigilância Sanitária”.
Já Claudio Maierovitch Henriques, vice-presidente da Abraco e ex-diretor da Anvisa, mediou a mesa “Mortalidade por Covid-19: relação com a desigualdade social e o acesso aos serviços de saúde”, com Margareth Portela e Wanderson Oliveira.
“Toda doença é pior para os pobres, para as pessoas vulnerabilizadas. Doenças crônicas, sofrimento mental, a desigualdade sempre está presente. Nós não vamos superar as desigualdades antes da próxima pandemia” disse.