A Saúde Coletiva perdeu três nomes importantes para a constituição do campo, que com suas contribuições ampliaram a visão a respeito dos homens, saúde e sociedade.
Em 28 de fevereiro faleceu Mário Magalhães Chave. Formado em Odontologia na antiga Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro, construiu conhecimento na área de formação eem Patologia e Terapêutica. Mesmo já doutorado, reconheceu na Saúde Coletiva um campo central de atuação, fazendo mestrado no campo na Michigan University ainda na década de 1950. E nesta área passou a atuar de maneira relevante.
Como sanitarista trabalhou durante dois anos na Fundação SESP (Serviço Especial de Saúde Pública), doze anos na Organização Pan-Americana da Saúde e na Organização Mundial da Saúde, tendo ocupado postos em Washington, Rio de Janeiro, Buenos Aires e Genebra. Chefiou o Departamento de Administração de Saúde na antiga Escola Nacional de Saúde Pública . Foi Diretor Adjunto da Associação Latino-americana de Faculdades de Odontologia, da Federação Pan-Americana de Associações de Faculdades de Medicina e diretor de programa da Fundação W. K. Kellogg.
Mário Chaves foi um dos responsáveis pela disseminação da fluoração da água e do sal como meios preventivos para a cárie bucal, atuou para a criação de um corpo de conhecimento que hoje conhecemos como Medicina Familiar, participou intensamente da criação e desenvolvimento dos Núcleos de Tecnologia para o ensino profissional na área da Saúde (centros conhecidos como NUTES/CLATES), atuou na criação e ativação de entidades como a Associação de Faculdades de Medicina (FEPAFEM, ABEM), Odontologia (ALAFO), Enfermagem (ABEn), na Rede UNIDA e da Abrasco. Suas contribuições à ciência da saúde foram reconhecidas em vida com a diplomação de Doutor Honoris Causa na Universidade do Brasil (1964 – atual UFRJ), na Universidade Federal da Bahia (1985), na Universidad de Buenos Aires (1995), bem como de universidades em Medellín, Colômbia (1965), Lima, Peru (1972), Cochabamba, Bolívia (1978) e Santiago de Los Caballeros, República Dominicana (1986).
No dia 09 de março foi a despedida de Paulo Antônio de Carvalho Fortes, professor titular de bioética e ex-vice-diretor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/ USP). Formou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), especialização em Droit de la Santé pela Universidade de Bordeaux I, França e doutorado em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo e Livre Docência em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (2000).
Após o trabalho inicial na pediatria, Fortes foi aprovado em concurso para Médico Sanitarista da então Secretaria de Higiene e Saúde da Prefeitura municipal de São Paulo (SHS/PMSP), e ingressou como docente da FSP/USP em 1985, onde começou a lecionar, pesquisar e colecionar amigos no Departamento de Prática de Saúde Pública, atuando nas linhas de pesquisas de ética em saúde pública e bioética em saúde pública, galgando uma brilhante história acadêmica na universidade, até quando chegou a ser Vice-Diretor da FSP/USP desde abril de 2010 a abril de 2014. Foi também colaborador do Ministério da Saúde e membro de Colegiados Superiores de Conselhos, Comissões, Consultoria e da Comissão Nacional de Etica em Pesquisa.
Faleceu também Ana Maria Cavalcanti Lefèvre, doutora em Saúde Pública pela FSP USP e criadora da metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo e dos softwares Qualiquantisoft e Qlqt online, divulgados pelo Instituto de Pesquisa do Discurso do Ssujeito Coletivo, sediado em São Paulo.
Uma das últimas colaborações da pesquisadora foi o artigo Afinal, somos ou não somos uma sociedade de consumo? Consequências para a saúde, publicado na edição de janeiro deste ano da revista Ciência & Saúde Coletiva, em co-autoria com Eduardo Caron e com seu esposo Fernando Lefèvre; professor da FSP/USP. Às famílias, amigos e colegas dos pesquisadores, a Abrasco presta condolências e faz desse texto uma ode a memória desses importantes nomes da Saúde Coletiva.