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“A universidade precisa se colocar mais em campos políticos do que apenas nos técnicos”, diz o novo diretor da FSP/USP

Bruno C. Dias

Estamos muito ausentes da sociedade. Como podemos ser mais proativos? Temos muita coisa a falar, disse o novo diretor – Foto: USP Imagens

A coragem de expor fragilidades e limites da produção universitária e das ideias e práticas da Saúde Coletiva na sociedade brasileira, refletindo criticamente sobre esses desafios e buscando apresentar saídas e soluções coletivas, foi um elementos que mobilizou a atenção da comunidade da área para a eleição da direção da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP), realizada no final de março, e que vaticinou a vitória da chapa composta por Oswaldo Tanaka e Simone Grilo.

Com um raciocínio ao mesmo tempo direto e complexo, os novos diretores têm afirmado que a estratégia mais coerente para a superação desse problema é a abertura radical da universidade à sociedade, não só colocando-se à disposição para o diálogo, como também sendo ativa na busca por ações conjuntas e integradas com gestões comprometidas com o desenvolvimento social e com os movimentos sociais, apresentando “uma postura mais proativa frente aos problemas de saúde que afetam diretamente a população”, como trazem as palavras do diretores.

Essa e outras visões estão expressas em recentes entrevistas que os docentes deram ao Jornal da USP e à Rádio WebSaúde, aqui já publicados, e, mais recentemente, à Rádio USP. Perguntado sobre o papel da universidade na inclusão da maior parte da população nas ações e políticas públicas, Tanaka destacou que, se antes a Academia era uma instancia em que gestores vinham atrás em busca de orientações, no mundo atual a informação deixou de ser exclusiva de alguns nichos de saber. “Nesse contexto, a universidade precisa se colocar mais em campos políticos do que apenas técnicos e melhorar o diálogo com os formuladores de políticas públicas; não só aguardando a visita deles, mas oferecendo conhecimento para dar condições à sociedade de fazer escolhas sobre sua saúde e direitos da melhor maneira possível”.

Tanaka e Simone responderam também a perguntas da Comunicação da Abrasco sobre os desafios e propostas da nova direção. Confira abaixo:

Abrasco: Chamou a atenção de todos que acompanharam o processo eleitoral a coragem de dizer que, atualmente, a comunidade docente da FSP/USP pouco expressa sua produção para a sociedade. Como colocar e dar evidência às pesquisas e posicionamentos da FSP/USP e fazer dessa produção efetivas ferramentas para a consolidação do direito à saúde e de uma universidade pública, gratuita e de qualidade?
Oswaldo Tanaka e Simone Grilo: Acreditamos que o conhecimento gerado na FSP/USP seja por pesquisa, reflexão e análise crítica. Esse manancial pode e deve ser disponibilizado para a sociedade, possibilitando que o conhecimento gerado seja ferramenta de “advocacy” do cidadão, que frequentemente não detém todas as informações necessárias para o enfrentamento cotidiano dos problemas de saúde, sejam individuais ou coletivos. Será importante reelaborar o material de pesquisa ou de análise crítica para tornar acessível à população geral de forma simples, sintética e objetiva. Apresentar uma postura mais proativa frente aos problemas de saúde que afetam diretamente a população. Como exemplos, temos a insuficiente informação nos casos de febre amarela, ou mesmo de uso de tecnologias para diagnóstico precoce que podem gerar sobre-diagnóstico e consequentemente sobre-tratamento.

Abrasco: Outra fala forte diz respeito ao tecido social da instituição, que nas palavras do professor Tanaka encontra-se fragmentado, esgarçado e pouco solidário. Como promover solidariedade acadêmica, institucional e inter-institucional aliada ou em diálogo com métricas de produtividade cada vez mais draconianas?
Oswaldo Tanaka e Simone Grilo: A pressão da métrica de produtividade tem gerado um processo de autonomia/isolamento da atividade docente, em que a organização do processo de trabalho tornou a atividade cotidiana fragmentada. O processo de austeridade econômico-financeira gerou um processo de competição interna que tornou menos solidário o nosso processo para alocação de qualquer recurso disponível. Nesse sentido, consideramos necessário ocupar espaços políticos nas esferas em que ocorre a pactuação de métricas e, ao mesmo tempo, impulsionar um processo interinstitucional na área da Saúde Coletiva/Saúde Pública para que possamos batalhar pela especificidade e peculiaridade da área; não para criar privilégios, mas para que tenhamos maior capacidade de legitimar nosso trabalho, tanto de pesquisa e ensino, como fruto de um compromisso com a sociedade.

Abrasco: Na campanha, foi destacada a proposição de uma direção baseada na ação democrática e participativa. Como pretendem executar e/ou dar condições para que isso de fato seja implementado?
Oswaldo Tanaka e Simone Grilo: Será por meio da construção de um processo cotidiano de maior e mais ampla transparência de informações no âmbito institucional em que todos possam acessar informações disponíveis na FSP/USP, principalmente as normativas ou demandas que chegam à diretoria. A forma participativa de trabalho cotidiano em que haja uma escuta aberta de uma forma não burocratizada, e que permita identificar formas alternativas de solucionar problemas. É nossa proposta ir paulatinamente modificando o processo de tomada de decisão nos órgãos colegiados de gestão da Faculdade. Assim, a definição da pauta deverá ser trabalhada de forma a contemplar alternativas de solução em que o coletivo possa analisar vantagens e desvantagens, e optar pela alternativa que atenda o máximo de interesses e possa prever um processo de hierarquização das demais demandas para atendimento posterior, evitando um possível sentimento de exclusão de demandas igualmente legítimas.

Abrasco: A FSP/USP é um dos maiores centros de pós-graduação da área, com significativa variedade de perfis de programas. No atual cenário, que reflexões a nova diretoria quer debater com os PPG da Faculdade?
Oswaldo Tanaka e Simone Grilo: A expansão dos programas de pós-graduação, seja na vertente acadêmica como na profissional, e a existência de grande quantidade e diversidade de cursos retratam um contexto complexo e complicado nesse aspecto da formação. Será um desafio para a FSP/USP repensar qual o espaço/campo deverá enfatizar sua participação na pós-graduação brasileira. A iniciativa política de democratização e de descentralização da formação, tanto da graduação como de pós-graduação, modificaram substancialmente os interesses dos demandantes, ao mesmo tempo que o perfil de ingresso tem gerado campos de pesquisa mais abrangentes e desafiadores. A questão posta é qual a formação, a competência a ser construída na pós-graduação da FSP/USP que possa responder de forma mais efetiva ao desafio de garantir políticas públicas que resultem em resultados de melhoria das condições de saúde individual e coletiva na sociedade brasileira.

Clique e ouça o áudio completo da entrevista de Oswaldo Tanaka à Rádio USP:

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