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 NOTÍCIAS 

Carnaval mundial – texto de Jota Morais

Bruno C. Dias

Militante do movimento antimanicomial e usuário dos Centros de Apoio Psicossocial (CAPS), Jota Morais usa a escrita para expressar sua forma de ver o mundo e organizar sensações, sentimentos e ideias. Nas atividades do movimento, declama poesias, fala de sua vida, acompanha o debate e, sempre que pode, está presente nas atividades.

Confira abaixo um de seus textos no qual realidade, sonhos, sofrimentos e desejos se misturam e confluem, abordando o direito à cidade, à memória e à alegria. Por Jota Morais, por tantos outros que ainda estão confinados em manicômios ou em comunidades terapêuticas que não oferecem o cuidado, e por uma sociedade que respeite todas as formas de vida, a Abrasco se soma à luta do movimento antimanicomial.

Carnaval Mundial

Nasci em Botafogo. Na Rua da Passagem em 07 de novembro de 1955. Mas fui morar em Santa Teresa em 1962. Portanto, tinha assim sete anos. O número da sorte. Amo Santa Teresa de paixão. Morei no Largo do França, perto da (rua) Vista Alegre. Morei na Rua Áurea, perto da Igreja de Santa Teresa. Morei no Morro da Fallet, perto do Morro do Pau da Bandeira. Morei na Travessa Vista Alegre, perto do Catumbi. E morei na Rua Santa Catarina – Kladir Backer – em dois locais, nos números 367 e 309, que ficam próximos ao Morro da Coroa.

Hoje eu resido em Marambaia, Rua 5, Quadra 32, Casa 14 – Conjunto Residencial Marambaia, em Itaboraí, Rio de Janeiro. Mas tenho esperança em voltar ao meu lugar de oringem, que é a Rua Santa Catarina, 367. Afinal, 367 é no Jogo do Bicho Macaco. E quem sou, a não ser um macaco?

Na minha juventude, no Morro da Fallet, os amigos me colocaram o apelido de miquinha. Já no Instituto Lafayette (atual Fundação Bradesco) onde cursei o segundo grau, os amigos e inspetores de alunos como eu me apelidaram de macaquinho. Já fui chamado por um amigo até de Maguila. No Instituto Lafayette me apelidaram de macaquinho também porque eu vivia pulando o muro do Maracanã para ver o Flamengo jogar futebol. Portanto, sou um macaco assumido e quero voltar ao meu espaço de origem em Santa Teresa, Rua Santa Catarina, 367.

+ leia também: Do leito à rede, a loucura quer transformar as cidades

Já residem hoje minha filha, minha irmã, a mãe da minha filha e alguns amigos. Todos com suas respectivas famílias. E eu vou voltar. Se Deus quiser. Pois eu sei que a imagem do Cristo Redentor no Corcovado é nada mais, nada menos, que a minha imagem.

Eu sou o Cristo Redentor. Carreguei a Cruz no calvário. Voltei para reviver o amor, a fraternidade e, principalmente, a paz entre os homens.

Em breve, tudo será festa, festa e festa. Festa para inglês, americanos, portugueses, africanos, jamaicanos e o mundo em geral. Tudo será festa.

O samba tão esperado nascerá. Será carnaval todos os dias. Mangueira, Estácio de Sá, Portela, Beija Flor, Mocidade Independente de Padre Miguel, Império Serrano, Imperatriz Leopoldinense, Vila Isabel do meu querido Martinho da Vila, Cacique de Ramos, e todas as outras.

Meu amigo, tome cuidado. Não vá marcar bobeira, não vá vacilar e morrer antes do carnaval mundial chegar. Quero ver todo mundo brilhando e sambando. Não será preciso arte nem talento. O negócio é movimento. Preste bem atenção: Eu, Jesus Cristo, voltei para a alegria mundial. Calma, muita calma nessa hora. Não quero ver ninguém rezando, e sim sambando. Fui claro? Então beijos e até breve.

Jota Morais – Barcas Niterói-Rio, 11 de outubro de 2006

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