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Mariângela Simão: “Não há tempo de paz, é preciso se preparar para os próximos surtos de Covid-19”

Hara Flaeschen

“O mundo não era bom, e agora talvez esteja pior. Diante da iniquidade no acesso às vacinas e outras ferramentas de combate à Covid-19, grande parte da população mundial permanece suscetível à infecção, com risco aumentado de doença severa e morte”, afirmou Mariângela Simão, Diretora-Geral Assistente da Organização Mundial da Saúde para Acesso a Medicamentos, conferencista de abertura do 11º Congresso Brasileiro de Epidemiologia, na tarde de 22 de novembro. 

Desigualdade no acesso às vacinas

Na palestra “Os desafios no controle da pandemia de Covid-19 em um mundo desigual” , Simão abordou dados atuais e conjecturas sobre como a humanidade lidará com o SARS-COV-2 no futuro. Segundo a pesquisadora, o vírus tende a continuar circulando entre as populações mais vulnerabilizadas, sobretudo  aquelas com pouca ou nenhuma cobertura vacinal, e em que as políticas públicas de proteção social e saúde permaneçam inconsistentes. 

“A iniquidade no acesso a vacinas é o maior desafio do nosso tempo: menos de 5 % de pessoas em países de baixa renda receberam ao menos 1 dose. Fabricantes fizeram acordos bilaterais com países de alta renda e não priorizam distribuição de vacinas em países com menor cobertura”, denunciou Simão.  

Diante deste cenário, ela afirmou que é necessário garantir a distribuição de vacinas, “mas não somente vacinas”. De imediato, é preciso pensar em testagem, rastreamento de casos, e em reduzir a exposição das pessoas ao vírus, protegendo os mais vulneráveis. Também é necessário refletir sobre em como os países farão reaberturas seguras – o carnaval que se aproxima no Brasil, por exemplo, é um contexto preocupante, já que a festa popular significa condição propícia para aumento da transmissão comunitária.  

Para a pesquisadora, a variante delta “mudou tudo” , já que é duas vezes mais transmissível que a primeira versão do novo coronavírus, e impacta o alcance da imunização coletiva. “Há o entendimento de que mesmo que a gente vacine 100% das pessoas, de todas as idades, é improvável que haja imunidade coletiva por vacina, mesmo com as mais efetivas. A vacina em si não tem impacto significativo na transmissão, mas diminui a severidade da doença e a mortalidade. A OMS acredita na probabilidade da transmissão continuada desse vírus, por causa das variantes”. 

Desta maneira, a expectativa é que até 2022 tenha aumento de casos onde as medidas sociais são relaxadas, mesmo onde há cobertura vacinal. Isto é porque os dados apontam que quanto maior o número de pessoas vacinadas, menos as populações praticam distanciamento social ou utilizam máscaras, por exemplo. Por outro lado, o índice de vacinação não influencia na questão da higiene pessoal – as pessoas continuam lavando as mãos e usando álcool em gel. 

“Não há peacetime” 

Considerando todos esses fatores, Simão pontuou algumas medidas a médio prazo – como aumentar a capacidade de produção de vacinas, distribuição de  testes diagnósticos e medicamentos, ou seja, investir em pesquisa e desenvolvimento, de forma equânime – e fortalecer os sistemas de saúde públicos por todo o mundo.  Também sinalizou a necessidade de combater a infodemia, já que desinformação e / ou mensagens contraditórias também matam, no contexto da crise sanitária.  Para ela, é importante que o mundo se prepare para os próximos surtos, não há “peacetime” (tempo de paz).

“Eu adoraria poder dizer quanto a pandemia vai acabar. Mas ainda estamos acumulando informações e aprendendo sobre o vírus,  faz menos de um ano que os países começaram a se vacinar. A proteção contra doença grave parece estar mantida, mesmo quando parece haver declínios com o tempo na eficácia em relação à infecção e doença sintomática. O que é importante, nesse momento, é diminuir o número de pessoas morrendo por esta doença. E todas as vacinas aprovadas pela OMS apresentaram efetividade contra internação e mortes”, finalizou a pesquisadora.

A conferência foi presidida por Antonio Boing, da Comissão de Epidemiologia da Abrasco e integrante do Conselho Deliberativo da associação, Presidente do 10º Congresso Brasileiro de Epidemiologia (Florianópolis, 2017).

Acesse a apresentação de Mariângela Simão, disponibilizada pela pesquisadora.

Assista à conferência completa:

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