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Febre Amarela: jornal O Globo divulga alerta da Abrasco

Antonio Werneck / jornal O Globo

“Nesta cidade, todo mundo se acautela contra a tal febre amarela, que não para de matar. E a Dona Chica que anda atrás de mau conselho pinta o corpo de vermelho, pro amarela não pegar”. Os versos, parte da letra de “Minha Viola”, um dos primeiros sambas de Noel Rosa, foram gravados em 1929, quando o Rio vivia um surto de febre amarela.

Oitenta e nove anos depois, um levantamento do Ministério da Saúde mostra que a doença voltou a preocupar as autoridades com seu avanço em direção aos centros urbanos na Região Sudeste. Em quatro anos, o país passou de apenas um registro de febre amarela silvestre em 2014, no Pará, para 755 casos em 2017, espalhados por nove estados. O número do ano passado pode ser ainda maior, já que órgãos de saúde ainda investigam vários casos suspeitos no país.

Neste mesmo período (de 2014 a 2017), 280 pessoas morreram por febre amarela no país — sendo que 92% dos óbitos ocorreram no ano passado em Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro, Pará, Tocantins, Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal. Segundo o Ministério da Saúde, este ano o número de mortes já chega a 43 só nos estados de Minas (17), São Paulo (14) e Rio (12).

O aumento do número de casos da doença na Região Sudeste, no entanto, levou a Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco a divulgar um alerta: segundo a entidade, existe a ameaça da urbanização da febre amarela no país, caso o governo brasileiro não realize vacinação e ações coordenadas em curto e médio prazos com os estados e os municípios.

— Não podemos manter a passividade, com ações descoordenadas. Houve um rápido deslocamento da doença da Amazônia para os estados do Sudeste. Sabe-se que uma extensa epizootia, epidemia em macacos suscetíveis à doença, vem acontecendo, simultaneamente, em áreas próximas a cidades densamente populosas. Então, nós temos no país um quadro preocupante. Por isso, o nosso alerta — afirmou Gastão Wagner de Sousa Campos, presidente da Abrasco.

Em carta aberta divulgada esta semana, a entidade lembra o aumento dos números de casos e de mortes por febre amarela registrados nas últimas semanas em Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, São Paulo, Rio e Distrito Federal.

— Se poderemos registrar casos de febre amarela urbana? É difícil dizer. São situações complexas. Pelas medidas que estão sendo tomadas, de intensificação na aplicação das vacinas, eu acho muito difícil. A febre amarela não é como a dengue que tem como característica a explosão de casos. Ela é mais vagarosa — afirmou Rivaldo Venâncio, da Fiocruz.

FORAM 1.574 MACACOS MORTOS

O levantamento mostra que os macacos também são vítimas do avanço do vírus. Os registros de epizootias (mortes de primatas) saltaram de sete casos em 2014 (Pará, Tocantis e Distrito Federal) para 1.574 no ano passado em 11 estados.

— Não vejo condições de uma epidemia de febre amarela no país como a que aconteceu no Rio em 1928, 1929. O que está ocorrendo é uma maior circulação do vírus em regiões densamente povoadas — disse o médico infectologista Rivaldo Venâncio, coordenador de Vigilância em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

O Ministério da Saúde informou que todos os casos de febre amarela registrados no Brasil desde 1942 são silvestres, inclusive os atuais, ou seja, a doença vem sendo transmitida por mosquitos que circulam na mata — o Haemagogus e o Sabethes. Além disso, o que caracteriza a transmissão silvestre é o fato de o mosquito transmissor se infectar a partir de um hospedeiro, que, no caso, é o macaco.

— Temos segurança para afirmar que a probabilidade de transmissão urbana no Brasil é baixíssima por uma série de fatores: todas as investigações dos casos conduzidas até o momento indicam exposição da doença apenas em áreas de matas e, em todos os lugares onde houve contaminação de humanos, também ocorreram casos em macacos. Além disso, até agora não foi encontrada a presença do vírus em mosquitos do gênero Aedes aegypti (que circula na área urbana) — afirmou Renato Vieira Alves, coordenador-geral de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde.

Renato Alves ressaltou ainda que outro fator que pode impedir a doença de se tornar urbana é o programa de controle do Aedes criado em função de outras arboviroses (dengue, zika e chicungunha), que, segundo ele, consegue manter níveis de infestação que não sustentariam uma transmissão da febre amarela nas cidades. Ele também destacou a cobertura vacinal.

 

Atualmente, a vacinação contra a febre amarela é recomendada e oferecida em 21 estados.

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