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‘Fortalecer o SUS e reduzir desigualdades em saúde’: segundo dia do 12º EPI mobiliza comunidade da Saúde Coletiva

O 12º Congresso Brasileiro de Epidemiologia (12º EPI) levou cerca de 3 mil pessoas ao centro de convenções EXPO MAG, no Rio de Janeiro, nesta terça-feira (26). No segundo dia oficial do evento, foram 26 comunicações coordenadas; 23 mesas-redondas; 20 rodas para apresentação de pôster dialogado; 8 sessões de almoço; 2 conferências; 2 palestras e 1 sessão especial, totalizando 82 atividades. Entre os temas abordados estiveram racismo e saúde, desenvolvimento sustentável e os desafios para o campo da Epidemiologia. 

Além das atividades culturais e da programação da Tenda Paulo Freire, o segundo dia do 12º EPI foi marcado pelo lançamento do 5º Plano Diretor para o desenvolvimento da Epidemiologia no Brasil (2025-2029), documento que irá orientar tanto a formação acadêmica, quanto diretrizes para a atuação dos profissionais do campo no país.

A Epidemiologia e os epidemiologistas diante da crescente complexidade dos desafios na saúde

O debate sobre as complexidades dos desafios na saúde pautou a manhã do segundo dia de atividades no 12º EPI. Mais de 2 mil  congressistas se reuniram para a conferência A Epidemiologia e os Epidemiologistas diante da Crescente Complexidade dos Desafios na Saúde. Maurício Barreto, epidemiologista e pesquisador da Fiocruz destacou a relevância histórica e atual da Epidemiologia no enfrentamento de problemas complexos de saúde. Segundo ele, a compreensão da saúde é influenciada por contextos sociais e enfrenta desafios como desigualdades, desinformação e mudanças climáticas.

Barreto abordou ainda os impactos de programas sociais como Bolsa Família e Saúde da Família, ressaltando seu papel transformador na redução de desigualdades “Estudar o bolsa família é estudar como o combate à pobreza diminui os riscos à saúde”, declarou.

O pesquisador evidenciou a relação entre pobreza e saúde, afirmando que políticas públicas focadas em equidade podem gerar avanços significativos. “E esse é um dos conceitos centrais do SUS”, afirma. As mudanças climáticas também foram temas de reflexão, com Barreto alertando para os riscos à saúde, como o aumento de doenças infecciosas, agravamento dos eventos climáticos extremos e novas epidemias. Ele apontou que as mudanças climáticas poderão causar 250 mil mortes adicionais por ano até 2050, exigindo ações preventivas globais.

Por fim, Barreto reforçou que a epidemiologia deve integrar saberes e atuar criticamente para enfrentar a complexidade crescente na saúde pública. A conferência reiterou o papel da ciência e das políticas públicas no fortalecimento da equidade e na mitigação de riscos globais à saúde. 

“⁠A combinação virtuosa de políticas de saúde com forte componente de equidade, cristalizadas no SUS, com políticas de redução da pobreza e de políticas de ações afirmativas, voltadas para compensar desigualdades estruturais brotadas na nossa história desde o período colonial e elaboradas em um período democrático no país, levam a transformações aceleradas na saúde da população”, concluiu. 

Lançamento do 5º Plano Diretor para o desenvolvimento da Epidemiologia 

As atividades do turno vespertino foram abertas com o lançamento do 5º Plano Diretor para o desenvolvimento da Epidemiologia no Brasil. O documento é fruto do trabalho desenvolvido desde 2022 por diversos profissionais do campo, pela Comissão de Epidemiologia da Abrasco e pelo Ministério da Saúde, através do apoio e contribuições da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA). O Plano Diretor servirá tanto para orientar a formação acadêmica, quanto diretrizes para a atuação dos profissionais do campo no país de 2024 a 2029. 

O documento apresenta um diagnóstico amplo, contextualizado e atualizado em relação aos problemas de saúde, com o objetivo de estimular não só o desenvolvimento das pesquisas e estudos, mas também de contribuir com o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e redução das desigualdades sociais em saúde. 

No lançamento, além de diversos abrasquianos e abrasquianas, estiveram presentes epidemiologistas e pesquisadores que contribuíram com a elaboração de planos diretores anteriores, como Naomar de Almeida Filho, Moisés Goldbaum e Glória Teixeira. A presidente da Comissão Científica, Tânia Maria de Araújo, que coordenou os trabalhos na construção do 5º Plano Diretor, fez a fala inicial e apresentou o documento. 

A pesquisadora enfatizou os esforços empreendidos para buscar equidade e representatividade na elaboração do documento. “O plano contou com a participação ativa de epidemiologistas de todas as regiões brasileiras e buscou-se garantir a equidade de gênero e raça, fortalecendo a construção coletiva”, destacou.

O presidente da Abrasco, Rômulo Paes de Sousa, celebrou o lançamento do Plano Diretor, 19 anos após a sua última edição. O pesquisador enfatizou que o lançamento do documento inspira as outras áreas da Saúde Coletiva: Política, Planejamento e Gestão e Ciências Sociais e Humanas, que irão lançar seus planos diretores no próximo congresso realizado pela Abrasco. 

“Um plano diretor recolocado depois de 19 anos e que inspira novos planos diretores das outras áreas da Saúde Coletiva. A nossa ideia é lançar no próximo Abrascão, ao final do ano que vem, três planos diretores – uma para cada área. Será o plano diretor da Saúde Coletiva”, contou. 

O Plano Diretor, em sua 5ª versão, considerou três áreas temáticas:informação; pesquisa em epidemiologia e epidemiologia em políticas, programas e serviços de saúde. Áreas temáticas reconhecidas durante a elaboração do documento pelas novas dimensões dos problemas identificados e com o objetivo de consolidar cada vez mais o campo da Saúde Coletiva.

Desvelando iniquidades: o papel da Epidemiologia no enfrentamento do racismo

A última conferência do segundo dia do 12º EPI aconteceu às 18h30 e foi coordenada pela pesquisadora Amanda de Moura. A vice-diretora do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA e integrante do GT Racismo e Saúde da Abrasco, Joilda Nery, foi a conferencista e abordou o tema “Desvelando iniquidades: o papel da Epidemiologia no enfrentamento do racismo”. 

A pesquisadora iniciou o debate explicando que o quesito raça/cor atravessa todos os debates no campo da Epidemiologia e Saúde Coletiva e que, por isso, não pode ser considerado apenas um recorte. Joilda Nery pontuou ainda que o racismo,como fenômeno ideológico, engloba um conjunto de atitudes fundadas em preconceitos raciais, comportamentos discriminatórios, disposições estruturais e práticas institucionalizadas que atribuem características negativas a determinados padrões de diversidade, com graves implicações na saúde. 

Além de mencionar as iniciativas do GT Racismo e Saúde da Abrasco, a abrasquiana propôs ainda uma necessária reflexão no campo científico. Será que realmente nós estamos trabalhando de fato para o enfrentamento do racismo ou isso fica a cargo apenas das pessoas negras e indígenas que sofrem o racismo? Como é que as pessoas brancas se responsabilizam neste debate?”, questionou. 

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