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 NOTÍCIAS 

Fórum de Editores divulga nota sobre processo de internacionalização

Reunidos em 28 de julho durante as atividades pré-congressuais do 11º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva – Abrascão2015, o Fórum de Editores de Revistas de Saúde Coletiva debateu sobre os critérios exigidos pelo SciELO no processo de internacionalização das publicações científicas.

O documento reforça considerações anteriores já debatidas por esse coletivo e lançadas primeiramente na Carta de São Paulo, de dezembro de 2014, quando já apontavam como equivocadas as diretrizes que, ao final, aumentam os custos editoriais, favorecem as publicações já consolidadas em detrimento das mais recentes, e desvalorizam a língua portuguesa e a cooperação Sul – Sul. Ao final, conclama que o canal de diálogo com a plataforma mantenha-se aberto, como na reunião realizada em março deste ano, em prol do fortalecimento da produção científica brasileira.

Estiveram presentes as seguintes publicações e seus representantes: Cadernos de Saúde Pública, representada por Claudia Coeli; Ciência & Saúde Coletiva, por Maria Cecília Minayo; Revista Brasileira de Epidemiologia (RBE), por Marcia Furquim; Saúde em Debate, por Heleno Corrêa Filho; Revista da Saúde Pública, por Sergio Baxter; Epidemiologia e Serviços de Saúde, por Leila Posenato Garcia; Revista Trabalho, Educação e  Saúde (REVTES), por Angélica Ferreira Fonseca; Interface – Saúde, Educação e Comunicação, por Antônio Pithon Cyrino, e Physis, por Kenneth Camargo. Confira abaixo a nota na íntegra e acesse aqui o documento em PDF.

Nota do Fórum de Editores de Revistas de Saúde Coletiva

Os periódicos brasileiros da área de Saúde Coletiva são um patrimônio importante para o campo, tanto na vertente da produção científica quanto na de serviços. Aqueles já incluídos na coleção SciELO produzem fatia relevante do total de artigos da mesma, representando 7% do total de artigos publicados, e 16% considerando-se apenas as ciências da saúde, nos anos de 2011 a 2013 (PACKER, 2015). Ao mesmo tempo, mostram compromisso indissolúvel com o Sistema Único de Saúde (SUS), importante campo de pesquisa e destinatário final de boa parte de seus resultados.

É desse ponto de partida que conclamamos a direção da SciELO a continuar o diálogo que começamos sobre os novos critérios para inclusão e permanência na coleção. Embora concordemos e já estejamos em processo de adaptação a algumas dos novos critérios, em especial aqueles ligadas a indicadores de processo e estrutura, como a participação de editores internacionais e a utilização de sistemas eletrônicos de processamento de manuscritos, temos divergências importantes com relação a alguns dos indicadores de resultados, sobretudo os que estão sendo designados, de forma algo simplista, como “internacionalização”. Não vamos retomar aqui as extensas críticas de Vessuri e cols (VESSURI et al., 2013) a essa lógica, apenas registrar os riscos apontados pelos autores de uma adesão irrefletida a uma lógica de publicação que segue sendo dominada por poderosos interesses econômicos.Tememos pelas repercussões negativas que tal adesão possa ter na vinculação orgânica de nossas publicações com nosso sistema de saúde, seus profissionais e usuários.

Consideremos em primeiro lugar a questão da linguagem. Ainda que reconhecendo a importância da língua inglesa, por um lado temos uma base de leitores que não nos permite abrir mão da língua portuguesa; por outro, por opção político-ideológica desejamos intensificar a cooperação Sul-Sul, o que inclui a África lusofônica, e aponta para o espanhol como uma opção estratégica de língua estrangeira. Note-se que o próprio American Journal of Public Health (AJPH), uma das mais antigas e relevantes publicações da área, tomou a iniciativa de, em conjunto com a Organização PanAmericana de Saúde (OPAS), traduzir a cada ano um conjunto de artigos para o espanhol, publicados no boletim da OPAS e consolidados num suplemento anual do próprio AJPH (ANDRUS et al., 2014).

A tradução de artigos para língua estrangeira, independentemente de manter versões multilinguais das revistas, representa custos adicionais para revistas que já lutam com dificuldades para manterem-se no patamar em que se encontram. Quatro estratégias têm sido adotadas por diversas revistas: a utilização de recursos próprios para financiar a tradução; a cobrança de taxas de publicação;o condicionamento da publicação à apresentação de versão traduzida; e a oferta de publicação de versão traduzida, a cargo dos autores. As três últimas implicam no repasse aos autores de parte dos custos de publicação, e a primeira só tem sido disponível para muito poucos. Num momento em que recursos para a ciência brasileira se tornam escassos, a criação de ônus adicionais para periódicos e/ou autores representa problema adicional, que precisa ser melhor discutido.

A criação de ônus para a publicação ou a adoção de medidas que impliquem a redução do parque nacional de revistas científicas qualificadas, em geral e especial na Saúde Coletiva, arrisca agravar as consequências do que Merton denominou de “efeito Mateus” (MERTON, 1968), a concentração de cada vez mais prestígio e recursos em poucas instituições, periódicos e pesquisadores. Fiéis ao ideário que identifica nossa própria área, defendemos políticas solidárias e includentes; no caso da publicação científica, isso se traduz na ampliação do nosso ecossistema de publicação, criando mecanismos de apoio que permitam a crescente qualificação de mais revistas segundo os critérios pactuados, com a vantagem de, com isso, criar-se mais oportunidades de citação de autores nacionais.

Com relação a esse último item, entendemos ainda que necessitamos de uma discussão mais aprofundada sobre o significado e aplicações dos indicadores bibliométricos. Consideramos que seria importante a realização de seminário nacional, com a participação de pesquisadores internacionais da área que tem contribuído para a discussão para além dos interesses comerciais dos três gigantes – ReedElsevier, Thomson-Reuters e Google – que no momento controlam a produção de tais indicadores. Acreditamos ser necessária, por exemplo, a inclusão de outros indicadores de uso – como acessos a artigos – dada a característica por diversas vezes reiterada de termos nos profissionais do SUS uma importante clientela, que enriquece sua prática a partir da leitura de nossos artigos, sem que sejam publicadores na sua maioria, não gerando, portanto, citações.

Por fim, gostaríamos que fosse incluída na pauta de discussões a questão da integridade na pesquisa, abordada de forma tímida nos novos critérios da coleção SciELO, que se referem apenas à utilização de softwares de detecção de plágio. Iniciamos gestões para tentar uma filiação em bloco ao Committee on Publication Ethics (COPE), com intermediação da Abrasco, passo que consideramos de fundamental importância na qualificação de nossas revistas.

Em suma, acreditamos que estamos todos de acordo com a necessidade de valorização e incremento da visibilidade da produção científica nacional, ainda que discordemos em alguns detalhes, que gostaríamos que fossem objeto de continuada negociação, pautada pelos nossos objetivos comuns e no respeito mútuo.

Goiânia, 28 de Julho de 2015
Referências:

ANDRUS, J. K.; BENJAMIN, G. C.; WILSON, J. Expanding access to Spanish-speaking communities: a critical partnership. American journal of public health, v. 104, p. S195–9, 2014

MERTON, R. K. The Matthew effect in science. Science, v. 159, n. 3810, p. 56–63, 1968.

PACKER, A. L. Indicadores de centralidade nacional da pesquisa comunicada pelos periódicos de Saúde Coletiva editados no Brasil. Ciênc. saúde coletiva, v. 20, n. 7, p. 1983–1995, 2015.

VESSURI, H.; GUÉDON, J.-C.; CETTO, A. M. Excellence or quality? Impact of the current competition regime on science and scientific publishing in Latin America and its implications for development. Current Sociology, p. 0011392113512839, 2013.

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