Às vésperas de mais um Dia Mundial da Luta Contra AIDS, a Abrasco reforça o esforço para estabelecer o entrelaçamento de informações, experiências e tolerância social, compilando entrevistas com cinco pesquisadores que jogam luz nos números alarmantes do Brasil. Em 1º de dezembro, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva mobiliza seus associados para “gritarem” sobre a situação do HIV/Aids no Brasil.
Leia o especial da Abrasco sobre AIDS, com Maria Amelia Veras, Ligia Kerr, Richard Parker, Alexandre Granjeiro e Kenneth Camargo:
MARIA AMELIA VERAS: “Em várias partes do Brasil já existem sinais de fragilidade no cuidado das pessoas infectadas”
Confira a entrevista com Maria Amelia de Sousa Mascena Veras, da Comissão de Epidemiologia da Abrasco, professora do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Amelia também coordena o Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva desta faculdade e o grupo de pesquisa NUDHES – Saúde, Sexualidade e Direitos Humanos da População LGBT+. É membro da International AIDS Society e da International Epidemiological Association. “Avançar com uma política desenhada, implementada e avaliada sob a ótica dos Direitos Humanos. São inúmeros os exemplos de que este é o caminho. Veja o exemplo de São Francisco (EUA), que foi uma das cidades mais atingidas pela epidemia e que com uma política centrada na não discriminação, testagem acessível e aceitável, prevenção e tratamento gratuitos, busca agora ser a primeira cidade a zerar novos casos”, diz a pesquisadora. Leia aqui.
LIGIA KERR: “A segunda onda da AIDS no Brasil”
No início de junho a imprensa brasileira divulgou números alarmantes sobre a prevalência de HIV entre homossexuais no Brasil, que saltou assustadoramente para 18,4%: a cada cinco cidadãos gays, praticamente um está infectado. Os novos números estavam no estudo HIV prevalence among men who have sex with men in Brazil: results of the 2nd national survey using respondent-driven sampling, coordenado pela pesquisadora Ligia Regina Franco Sansigolo Kerr, da Comissão de Epidemiologia da Abrasco. A pesquisa aborda a situação do HIV/Aids no Brasil, o estigma, o preconceito e a discriminação como barreiras na resposta brasileira. E ainda falência total da prevenção dos mais vulneráveis e o perigoso crescimento da extrema direita no país, que torna o trabalho da prevenção ainda mais desafiador. Leia aqui.
RICHARD PARKER: “AIDS, é preciso assumir o fracasso da prevenção no Brasil”
Diante dos números alarmantes sobre a prevalência de HIV/Aids no Brasil, a Abrasco conversou também com Richard Parker, Professor Visitante Sênior do Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro – IESC/UFRJ, além de Diretor-Presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS – ABIA e Professor Titular Emérito da norte-americana Columbia University. Parker tem sido uma referência emblemática para o pensamento sobre sexualidade e sobre o impacto causado pelo HIV/Aids no Brasil nos últimos anos. O professor pontua a necessidade de se construir uma “pedagogia da prevenção” capaz de reconhecer a legitimidade de todas as expressões da sexualidade e do gênero, e de respeitar as realidades mais diversas, garantindo a todos o acesso à informação e aos insumos necessários para as pessoas construírem a prevenção em suas vidas. Leia aqui.
ALEXANDRE GRANGEIRO: “Temos criado gerações incapazes de lidar com o HIV”
Com mais de 30 anos de trabalho e militância na Saúde Pública, o sociólogo coordenou o Disque-AIDS, o Programa DST/AIDS da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo (SES-SP) e foi diretor do Programa Nacional de DST/AIDS entre 2003 e 2004. Atualmente é pesquisador associado do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (DMP/FM/USP) e coordena o projeto ‘Combina’, voltado para testagem e conscientização da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), além de fazer parte do Conselho da ABIA. Para ele, a falta de investimentos no SUS e a nova configuração social compõem um efeito danoso e de agravamento ao quadro epidemiológico, sendo necessárias novas respostas para a prevenção e promoção do debate do HIV/Aisds, ao invés do ensurdecedor silêncio dos dias atuais, fazendo com que as novas gerações não saibam lidar com o vírus e mantenham o estigma social aos portadores: “A ação mais intensa de setores conservadores, que têm interditado discussões sobre sexualidade, gênero e direitos em diversas instâncias, tem impedido que a área de saúde consiga limitar essa influência”. Leia aqui.
KENNETH CAMARGO: “É fundamental o protagonismo dos movimentos sociais na resposta ao HIV”
Constatada e consolidada, a atual fase de disseminação do HIV encontra um Brasil com enormes diferenças daquele de meados da década de 1980, quando a epidemia emergiu. No entanto, ainda falta conscientização solidária e corajosa para o devido enfrentamento. Para Kenneth Rochel Camargo, membro da Comissão de Ciências Sociais e Humanas em Saúde da Abrasco e professor do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ), um novo ciclo de ação precisa passar diretamente pela atuação dos movimentos sociais e por condições efetivas para o exercício dos direitos à saúde e à informação, requisitos esses que se encontram alijados pelo crescente conservadorismo na sociedade brasileira e pelo subfinanciamento crônico do SUS, ampliado estruturalmente com a Emenda Constitucional 95/2016. Leia aqui.